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QUESTÃO AGRÁRIA
Ação no Pontal no Paranapanema foi caracterizada como retaliação por líderes dos sem-terra em SP
MST invade fazenda de ex-sócio de FHC
EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Admitindo querer fazer uma retaliação contra Fernando Henrique Cardoso, um grupo de sem-terra ligado ao MST invadiu ontem no Pontal do Paranapanema
uma fazenda que tem como herdeiro um ex-sócio do presidente.
Os invasores araram 20 alqueires de terra e saíram, numa estratégia para evitar despejo. Acampadas a 1 km do local, cerca 500
famílias prometem voltar hoje para plantar milho e mandioca.
A fazenda Santa Maria, de 2.350
alqueires, tem como um dos herdeiros o pecuarista Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG).
"As informações que tenho é
que o sem-terra invadiram a propriedade e estão preparando a terra para plantar. Vou recorrer à
Justiça. Acredito no Poder Judiciário e na lei", afirmou Mineiro.
Questionado pela Folha se a ação
seria "provocação", respondeu:
"Parece. Tudo indica que sim".
A ação dos sem-terra no Pontal
(extremo oeste de São Paulo) teve
como alvo deliberado o presidente da República, que colocou tropas do Exército para impedir a invasão da propriedade da família
em Minas Gerais.
"Ocupamos em solidariedade
com os companheiros mineiros.
Será que o presidente da República vai colocar o Exército aqui?",
disse o dirigente Cledson Mendes,
segundo homem na hierarquia do
movimento na região, deixando
claro o caráter da ação.
Os principais dirigentes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) na região, incluindo Mendes e José Rainha Júnior, se mantiveram fisicamente
longe da ação ontem.
A Santa Maria, em Teodoro
Sampaio (710 km a oeste de São
Paulo), pertence ao espólio do ex-governador Abreu Sodré, de
quem Mineiro é genro.
Mineiro se tornou sócio de
FHC, de quem foi aluno na Sorbonne nos anos 70, quando comprou a parte da Córrego da Ponte
que pertencia ao ministro Sérgio
Motta, que morreu em abril de
1998. No início deste ano, o presidente transferiu aos filhos sua
parte na fazenda em Minas.
Ao atacar Mineiro, o MST quer
indiretamente atingir o presidente. Ao acampar diante da Córrego
da Ponte, o MST chama a atenção
para seus embates com FHC.
O objetivo, no momento, é
mostrar que o governo prometeu
e não liberou créditos de R$ 2.000
para assentados no país.
Segundo o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), a proposta de repassar os recursos foi rejeitada pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Rural Sustentado na última quinta-feira.
A invasão da Santa Maria, pela
terceira vez neste ano, significa o
início do cumprimento de uma
ameaça. Na sexta-feira, depois de
se reunir com o secretário da Justiça de São Paulo, Edson Vismona, o MST anunciou nova onda de
ações, por considerar "'lento" o
processo de arrecadação de terras
para reforma agrária.
Colaborou Bruno Blecher, da Redação
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