São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
Ação no Pontal no Paranapanema foi caracterizada como retaliação por líderes dos sem-terra em SP
MST invade fazenda de ex-sócio de FHC

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Admitindo querer fazer uma retaliação contra Fernando Henrique Cardoso, um grupo de sem-terra ligado ao MST invadiu ontem no Pontal do Paranapanema uma fazenda que tem como herdeiro um ex-sócio do presidente.
Os invasores araram 20 alqueires de terra e saíram, numa estratégia para evitar despejo. Acampadas a 1 km do local, cerca 500 famílias prometem voltar hoje para plantar milho e mandioca.
A fazenda Santa Maria, de 2.350 alqueires, tem como um dos herdeiros o pecuarista Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG).
"As informações que tenho é que o sem-terra invadiram a propriedade e estão preparando a terra para plantar. Vou recorrer à Justiça. Acredito no Poder Judiciário e na lei", afirmou Mineiro. Questionado pela Folha se a ação seria "provocação", respondeu: "Parece. Tudo indica que sim".
A ação dos sem-terra no Pontal (extremo oeste de São Paulo) teve como alvo deliberado o presidente da República, que colocou tropas do Exército para impedir a invasão da propriedade da família em Minas Gerais.
"Ocupamos em solidariedade com os companheiros mineiros. Será que o presidente da República vai colocar o Exército aqui?", disse o dirigente Cledson Mendes, segundo homem na hierarquia do movimento na região, deixando claro o caráter da ação.
Os principais dirigentes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na região, incluindo Mendes e José Rainha Júnior, se mantiveram fisicamente longe da ação ontem.
A Santa Maria, em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo), pertence ao espólio do ex-governador Abreu Sodré, de quem Mineiro é genro.
Mineiro se tornou sócio de FHC, de quem foi aluno na Sorbonne nos anos 70, quando comprou a parte da Córrego da Ponte que pertencia ao ministro Sérgio Motta, que morreu em abril de 1998. No início deste ano, o presidente transferiu aos filhos sua parte na fazenda em Minas.
Ao atacar Mineiro, o MST quer indiretamente atingir o presidente. Ao acampar diante da Córrego da Ponte, o MST chama a atenção para seus embates com FHC.
O objetivo, no momento, é mostrar que o governo prometeu e não liberou créditos de R$ 2.000 para assentados no país.
Segundo o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), a proposta de repassar os recursos foi rejeitada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentado na última quinta-feira.
A invasão da Santa Maria, pela terceira vez neste ano, significa o início do cumprimento de uma ameaça. Na sexta-feira, depois de se reunir com o secretário da Justiça de São Paulo, Edson Vismona, o MST anunciou nova onda de ações, por considerar "'lento" o processo de arrecadação de terras para reforma agrária.


Colaborou Bruno Blecher, da Redação


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