São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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"NUVEM DE GAFANHOTOS"

Com salário oficial de R$ 2.000, cabo eleitoral recebe apenas R$ 200

Até beneficiado quer explicação

DA ENVIADA ESPECIAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A história dos "gafanhotos" que comem a folha de pagamento do governo de Roraima é comentada até entre crianças na capital do Estado. Em Boa Vista, os ânimos estão acirrados, e até mesmo os que foram beneficiados estão querendo explicações (por que receberam só um décimo do número oficial?).
Mas essa cobrança não assusta a família do deputado Jalser Renier, campeão na lista de pagamentos a indicados. A mãe dele, Itelvina da Costa Padilha, também está entre as beneficiárias. E em seu endereço estão pendurados outros dois; quatro, se valer apenas o nome da rua sem identificação do número.
A Folha chegou ao local na manhã de ontem. Itelvina disse desconhecer os outros nomes e, sem se deixar gravar, afirmou que recebia do Estado, sim, e que isso era justo porque já mora há muito tempo ali.
Houve até uma tentativa de retirar o gravador da mão da repórter, que foi convidada a se retirar do local sob pena de "se arrepender". Dois assessores de Renier -um deles se disse primo do deputado- estacionaram em frente à casa de Itelvina e disseram que "as coisas em Roraima eram diferentes" e que "isso não vai ficar assim".
Parte da mesma folha de pagamento, mas em condições diferentes, está Deusimar Silva Vasco, 35, mãe de quatro filhos. Ela é cabo eleitoral do deputado. Percorre as ruas de terra dos bairros pedindo votos pela terceira campanha consecutiva.
Ganha R$ 200 mensais, recebidos em dinheiro no gabinete do deputado. Sua retirada oficial, porém, é de R$ 2.000 -mas ela não sabia dessa diferença nem quem fica com a sobra.
"Eu fui lá [ao gabinete] pedir emprego. Mas faltava colocação", afirma Deusimar. "Não sabia que aquilo [documento assinado" era uma procuração."
Já a família de Terlino Sebastião Garcia esperava faturar R$ 360. Ele, a mulher, Rocicleide, e a filha Rosiane foram ao cartório em 2001 e passaram procuração para Nirlia de Fátima Filgueiras. Além de prima de Rocicleide, Nirlia é esposa do deputado Paulo Sérgio Ferreira Mota e atua como procuradora para pelo menos 12 funcionários.
"Ele veio aqui e disse: tu me ajuda e eu te ajudo", disse Rocicleide, que diz ter acertado receber R$ 120 mensais para ela, e a mesma quantia para o marido e a filha. "Mas nunca recebemos."



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