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"NUVEM DE GAFANHOTOS"
Com salário oficial de R$ 2.000, cabo eleitoral recebe apenas R$ 200
Até beneficiado quer explicação
DA ENVIADA ESPECIAL
DA REPORTAGEM LOCAL
A história dos "gafanhotos"
que comem a folha de pagamento do governo de Roraima é
comentada até entre crianças na
capital do Estado. Em Boa Vista,
os ânimos estão acirrados, e até
mesmo os que foram beneficiados estão querendo explicações
(por que receberam só um décimo do número oficial?).
Mas essa cobrança não assusta
a família do deputado Jalser Renier, campeão na lista de pagamentos a indicados. A mãe dele,
Itelvina da Costa Padilha, também está entre as beneficiárias.
E em seu endereço estão pendurados outros dois; quatro, se valer apenas o nome da rua sem
identificação do número.
A Folha chegou ao local na
manhã de ontem. Itelvina disse
desconhecer os outros nomes e,
sem se deixar gravar, afirmou
que recebia do Estado, sim, e
que isso era justo porque já mora há muito tempo ali.
Houve até uma tentativa de
retirar o gravador da mão da repórter, que foi convidada a se
retirar do local sob pena de "se
arrepender". Dois assessores de
Renier -um deles se disse primo do deputado- estacionaram em frente à casa de Itelvina
e disseram que "as coisas em
Roraima eram diferentes" e que
"isso não vai ficar assim".
Parte da mesma folha de pagamento, mas em condições diferentes, está Deusimar Silva Vasco, 35, mãe de quatro filhos. Ela
é cabo eleitoral do deputado.
Percorre as ruas de terra dos
bairros pedindo votos pela terceira campanha consecutiva.
Ganha R$ 200 mensais, recebidos em dinheiro no gabinete
do deputado. Sua retirada oficial, porém, é de R$ 2.000 -mas
ela não sabia dessa diferença
nem quem fica com a sobra.
"Eu fui lá [ao gabinete] pedir
emprego. Mas faltava colocação", afirma Deusimar. "Não
sabia que aquilo [documento
assinado" era uma procuração."
Já a família de Terlino Sebastião Garcia esperava faturar R$
360. Ele, a mulher, Rocicleide, e
a filha Rosiane foram ao cartório em 2001 e passaram procuração para Nirlia de Fátima Filgueiras. Além de prima de Rocicleide, Nirlia é esposa do deputado Paulo Sérgio Ferreira Mota
e atua como procuradora para
pelo menos 12 funcionários.
"Ele veio aqui e disse: tu me
ajuda e eu te ajudo", disse Rocicleide, que diz ter acertado receber R$ 120 mensais para ela, e a
mesma quantia para o marido e
a filha. "Mas nunca recebemos."
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