São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ELEIÇÕES NO PT

Presidente se recusa a comentar a decisão de não comparecer anteontem às urnas para eleger o futuro presidente de seu partido

Ausência de Lula é criticada por Mercadante

DA REPORTAGEM LOCAL

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), criticou ontem a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não votar na eleição interna, realizada anteontem, para escolher o novo presidente do PT.
"Eu respeito a posição do presidente Lula, mas acho que ele deveria ter votado. Sempre gostei de vê-lo como militante do PT e acho que ele vai voltar a ser", disse Mercadante. Um dos fundadores do partido, o presidente Lula é a principal estrela da sigla.
Bem-humorado ontem, em evento no Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou explicar sua ausência nas eleições de anteontem no PT.
Lula preferiu falar do Corinthians, vice-líder do Brasileiro, ao ser indagado sobre o pleito petista e a situação de Severino Cavalcanti (PP-PE) na Presidência da Câmara. "Perguntas hoje só sobre o Corinthians", disse, ignorando o restante das indagações.
Mais tarde, deu a seguinte resposta ao ser indagado sobre o motivo de sua ausência nas eleições do PT: "Por que vocês querem saber isso? O voto é secreto".
O líder do governo na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentou contemporizar. "Ele naturalmente registrou um discreto protesto, mas eu acho que ele está certo em priorizar a função de presidente da República à de militante", disse.
Dirigentes do PT são acusados de patrocinar o "mensalão", suposto pagamento a deputados federais para que votassem a favor do governo. O ex-tesoureiro Delúbio Soares admitiu um esquema de caixa dois para pagar dívidas de campanha.
Mercadante não foi o único a criticar a atitude do presidente Lula. "Acho que foi um erro do presidente não participar. A militância e a sociedade esperavam um gesto dele. Faltou carinho do Lula para com o partido", afirmou Romênio Pereira, segundo-vice-presidente do partido.
"Seria uma simbologia positiva se ele tivesse ido votar. Não entendi seu gesto", disse o deputado federal Ivan Valente (SP).

Justificativas
Grande parte dos petistas, no entanto, tentou justificar a ausência do presidente. "A minha interpretação é que ele preferiu não tomar parte nessa disputa e quis auscultar suas bases", afirmou o senador Eduardo Suplicy (SP).
"A ausência do presidente Lula pode ter ocorrido por alguma razão de segurança. O presidente vai ter o seu momento para se colocar no processo interno de reconstrução do PT", afirmou Humberto Costa, secretário de Comunicação.
"Acho que não tem grande repercussão. Eu vejo uma intenção do presidente de se preservar e de dar o recado de que o PT tem de se reencontrar por suas próprias forças", disse o deputado federal Paulo Pimenta (RS).

Tarso
O presidente do PT, Tarso Genro, afirmou que entendia a decisão: "Gostaríamos que ele tivesse votado, mas entendemos perfeitamente seu gesto. Ele quis, com seu gesto, neste momento de crise política no país, de instabilidade nas relações entre os partidos, dizer "o meu dever maior é um dever com a nação com a sociedade, e não com meu partido", disse.
O coordenador nacional das eleições, Francisco Campos, evitou criticar o presidente, mas afirmou que a "expectativa" é que Lula tivesse votado, "por ser o militante mais ilustre, pela história que tem com o PT". "Presidente da República é presidente, temos que respeitar a decisão. Mas teria honrado muito o PT e teria nos deixado muito orgulhosos se tivesse votado", disse. (FERNANDA KRAKOVICS, FÁBIO ZANINI e EDUARDO SCOLESE)

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