São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/ CRISE DO DOSSIÊ

Lorenzetti deixa campanha de Lula, mas nega compra de dossiê

Ex-assessor de risco e mídia da candidatura petista à Presidência se desculpa e diz que extrapolou funções

Em carta ao presidente do PT, ex-coordenador de inteligência da campanha contradiz depoimento de preso e versão de "Épóca"


Jose Varella - 18.mar.2004/CBPress
Ricardo Berzoini (à dir.), participa de depoimento ao lado do ex-secretário de relações do trabalho, Osvaldo Bargas, há dois anos


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O coordenador da área de "inteligência" da campanha presidencial petista, Jorge Lorenzetti, foi afastado da função ontem, mas continuou negando que tenha comandado uma negociação financeira para adquirir um dossiê ligando tucanos à máfia das ambulâncias.
Sua versão, exposta em uma carta ao coordenador da campanha e presidente do PT, Ricardo Berzoini, é contraditória com o depoimento dado pelo petista Valdebran Padilha à Polícia Federal. Apontado como o negociador da transação em nome da família Vedoin, Valdebran disse que conversou por telefone com Lorenzetti sobre dinheiro na última sexta-feira, dia em que foi preso.
"Julgo ter extrapolado os limites de minhas atribuições como assessor de risco e mídia da coligação "A Força do Povo", mas, nada obstante, afirmo taxativamente que, em momento algum, autorizei o emprego de qualquer tipo de negociação financeira na busca de informações relacionadas a adversários políticos", diz a carta.
A versão se choca com a de Valdebran, preso junto com Gedimar Passos, subordinado a Lorenzetti na campanha. Ambos foram pegos com cerca de R$ 1,7 milhão em dinheiro.
"[Valdebran] diz que falou com Jorge, como sendo o chefe de Gedimar; que esta conversa ocorreu pelo fato de o declarante não se sentir confortável e querer devolver o dinheiro e retornar a Cuiabá. (...) Então colocaram o declarante em contato com Jorge, que pediu tranqüilidade pois faria contato com Luiz Vedoin", diz a transcrição do depoimento.
Na carta, Lorenzetti, que tinha função de receber e analisar denúncias contra rivais, se desculpa com colegas da campanha e diz estar à disposição da PF. Mas não abre seu sigilo telefônico -que comprovaria se conversou com Valdebran.
Exatas 24 horas antes de cair, Lorenzetti, diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina, fora isentado pelo presidente do PT. "Lorenzetti faz trabalho de tratamento de informação, nunca de fazer qualquer tipo de montagem ou aquisição de dossiê. É um serviço de elaboração de relatórios", disse Berzoini anteontem.
"Minha participação no episódio circunscreveu-se tão somente em solicitar que fosse averiguada a autenticidade dessas informações, visando, exclusivamente, contribuir para a correção de uma injustiça que vem sendo cometida contra o PT no escândalo conhecido como máfia dos sanguessugas", diz Lorenzetti na carta.
Há outra contradição, desta vez, com comunicado da revista "Época", que afirma ter sido procurada por Lorenzetti e por Oswaldo Bargas com a oferta do dossiê. Segundo a revista, os dois afirmaram que o dossiê teria "farta documentação" incriminando José Serra.
Professor licenciado da Universidade Federal de SC, Lorenzetti é conhecido no PT por seus dotes de churrasqueiro.


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