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São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2003

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União financia de aeroclubes a escolas de samba

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma relação de "entidades, organismos e associações" que recebem dinheiro da União revela que o apertado Orçamento para 2004 destinará R$ 400 mil a um conjunto de associações de criadores de cavalos -de corrida, mangalarga, quarto de milha, apalosa, crioulo, paint e puro sangue lusitano- e de jumento pega.
Isso graças a uma lei assinada pelo ex-presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), no último ano de seu mandato, de apoio à criação e corridas de cavalos. Nos últimos quatro anos, essas entidades receberam mais de R$ 1,1 milhão. Em 1978, quando era candidato da Arena à Presidência, Figueiredo disse numa entrevista que "o cheirinho do cavalo é melhor" (do que o do povo).
Por conta de uma outra lei, de apoio à cultura, vê-se que o país do Carnaval e futebol dá dinheiro ao samba, sim. Em 2002, ano da eleição presidencial, o Ministério da Cultura patrocinou três escolas de samba do Rio: Mangueira, Salgueiro e Império Serrano, cujos enredos exaltaram o país, "o orgulho de ser brasileiro" e a obra do escritor Ariano Suassuna. As escolas receberam entre R$ 52 mil e R$ 187 mil.
A homenagem da escola de samba Cidade Jardim ao ex-presidente Juscelino Kubitschek em 2001 levou mais: R$ 200 mil. No mesmo ano, o Instituto Sérgio Motta, cujo nome homenageia o ex-ministro tucano morto em 1998, recebeu R$ 81 mil. Em 2003, o Ministério da Cultura suspendeu o repasse a entidades do tipo. Para o ano que vem, os projetos ainda não foram selecionados.
No Orçamento do Ministério da Defesa estão previstos repasses de aproximadamente R$ 100 mil para 25 aeroclubes no país e de R$ 1,2 milhão para várias companhias aéreas pequenas e grandes, como a TAM e a Rio-Sul, tudo com base em decretos e portarias antigas.
Relação de todas as organizações não-governamentais que recebem recursos públicos não há. De janeiro a outubro de 2003, soma R$ 677,5 milhões o total das transferências do Orçamento a "entidades sem fins lucrativos", listagem que abriga parte do universo de ONGs, cooperativas, associações assistenciais, institutos, fundações e "outros". Muitos outros.
O líder do PFL na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (BA), que tentou o levantamento no Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais), adverte: "O risco é o governo aparelhar ONGs e todos os tipos de entidade e transformá-las em instrumento de partidos políticos".


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