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CONTRA-ATAQUE ELETRÔNICO
Distribuído por e-mail e disponível na internet, "Em Questão" é usado pelo Planalto para rebater críticas
Boletim difunde "pensamento" do governo
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O que pensa o governo Lula e
qual é a posição oficial do Palácio
do Planalto sobre Alca, combate à
corrupção, agências reguladoras e
outros temas? Quem não tiver paciência para ler e interpretar as
metáforas dos 189 discursos feitos
pelo presidente desde a sua posse
pode buscar as informações no
boletim eletrônico "Em Questão".
Escrito de maneira sucinta e objetiva (quase sempre com uma ou
duas páginas), a publicação é produzida pela poderosa Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República Secretaria),
sob o comando de Luiz Gushiken.
A equipe de redatores é ampla e
pode incluir, dependendo do assunto, pessoas de outros ministérios, além da própria Secom. A
aprovação do texto final é de Gushiken, um dos integrantes do grupo de ministros mais influentes
dentro do Palácio do Planalto.
Enviado por e-mail para cerca
de 50 mil endereços eletrônicos
cadastrados, todos os boletins já
publicados estão disponíveis no
www.brasil.gov.br/emquestao.
O texto atual tem como manchete "A Alca e os interesses brasileiros". A publicação serve também para o governo mandar seus
recados e críticas a pessoas ou entidades que não se alinham com o
pensamento do Planalto.
Foi o que se sucedeu após a divulgação do índice de percepções
de corrupção, da Transparência
Internacional (TI), no último dia
7. O Brasil ficou com 3,9 pontos,
abaixo dos 4,0 obtidos no ano anterior. A Transparência Brasil, seção brasileira da TI, fez um relatório de apresentação afirmando
que o governo Lula ainda não
cumpriu o compromisso, assumido na campanha, de criar uma
agência nacional anticorrupção.
Sensível a críticas, o governo se
mobilizou para responder. Primeiro, foi escalado para rebater o
relatório da TI o ministro de Estado do Controle e da Transparência, Waldir Pires. Ele convocou
uma entrevista coletiva no dia 8.
Foi um desastre. A entrevista acabou sendo desviada para o caso
da viagem da ministra Benedita
da Silva (Assistência Social).
Para consertar, o governo usou
uma edição do boletim, na qual
tentou rebater o índice de percepções de corrupção. A publicação
trazia o título, no dia 10: "Avaliação da Transparência Internacional não alcança Governo Lula".
Em um texto detalhado, a Secom procura explicar que só alguns indicadores da TI são referentes ao início de 2003: "Não há
base real para se afirmar" que o
índice "tenha captado a percepção de corrupção no Brasil no governo Lula, nem para melhor
nem para pior".
A estratégia foi desviar o assunto do tema principal. A TI não havia afirmado em seu relatório que
a corrupção estava maior ou menor. Disse, na apresentação do relatório, que o governo petista não
havia criado a agência anticorrupção prometida na campanha.
Não satisfeito com a versão do
seu boletim eletrônico, o governo
Lula usou uma de suas vozes mais
fortes para tratar do assunto. No
dia 14, o ministro da Casa Civil,
José Dirceu, foi ao noticiário
"Bom Dia Brasil", da Globo.
Sua aparição foi rapidamente
reciclada em uma nova edição do
"Em Questão", com a manchete:
"José Dirceu: 'O governo não rouba e não deixa roubar'".
O primeiro item do boletim eletrônico era a transcrição da fala de
Dirceu sobre corrupção. "O governo não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção (...)
Não é fato que o governo não está
combatendo a corrupção. O relatório da Transparência Internacional não diz isso. A opinião da
seção do Brasil, que eu considero
subjetiva, alegou questões que
não podem ser tomadas como aumento da corrupção no país."
O episódio serviu para consolidar o boletim como um órgão de
opinião do governo sobre determinados temas. Embora essa função seja do porta-voz, André Singer, o "Em Questão" serve para
expressar de maneira impressa o
pensamento oficial do Planalto.
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