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São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2003

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CONTRA-ATAQUE ELETRÔNICO

Distribuído por e-mail e disponível na internet, "Em Questão" é usado pelo Planalto para rebater críticas

Boletim difunde "pensamento" do governo

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O que pensa o governo Lula e qual é a posição oficial do Palácio do Planalto sobre Alca, combate à corrupção, agências reguladoras e outros temas? Quem não tiver paciência para ler e interpretar as metáforas dos 189 discursos feitos pelo presidente desde a sua posse pode buscar as informações no boletim eletrônico "Em Questão".
Escrito de maneira sucinta e objetiva (quase sempre com uma ou duas páginas), a publicação é produzida pela poderosa Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República Secretaria), sob o comando de Luiz Gushiken.
A equipe de redatores é ampla e pode incluir, dependendo do assunto, pessoas de outros ministérios, além da própria Secom. A aprovação do texto final é de Gushiken, um dos integrantes do grupo de ministros mais influentes dentro do Palácio do Planalto.
Enviado por e-mail para cerca de 50 mil endereços eletrônicos cadastrados, todos os boletins já publicados estão disponíveis no www.brasil.gov.br/emquestao.
O texto atual tem como manchete "A Alca e os interesses brasileiros". A publicação serve também para o governo mandar seus recados e críticas a pessoas ou entidades que não se alinham com o pensamento do Planalto.
Foi o que se sucedeu após a divulgação do índice de percepções de corrupção, da Transparência Internacional (TI), no último dia 7. O Brasil ficou com 3,9 pontos, abaixo dos 4,0 obtidos no ano anterior. A Transparência Brasil, seção brasileira da TI, fez um relatório de apresentação afirmando que o governo Lula ainda não cumpriu o compromisso, assumido na campanha, de criar uma agência nacional anticorrupção.
Sensível a críticas, o governo se mobilizou para responder. Primeiro, foi escalado para rebater o relatório da TI o ministro de Estado do Controle e da Transparência, Waldir Pires. Ele convocou uma entrevista coletiva no dia 8. Foi um desastre. A entrevista acabou sendo desviada para o caso da viagem da ministra Benedita da Silva (Assistência Social).
Para consertar, o governo usou uma edição do boletim, na qual tentou rebater o índice de percepções de corrupção. A publicação trazia o título, no dia 10: "Avaliação da Transparência Internacional não alcança Governo Lula".
Em um texto detalhado, a Secom procura explicar que só alguns indicadores da TI são referentes ao início de 2003: "Não há base real para se afirmar" que o índice "tenha captado a percepção de corrupção no Brasil no governo Lula, nem para melhor nem para pior".
A estratégia foi desviar o assunto do tema principal. A TI não havia afirmado em seu relatório que a corrupção estava maior ou menor. Disse, na apresentação do relatório, que o governo petista não havia criado a agência anticorrupção prometida na campanha.
Não satisfeito com a versão do seu boletim eletrônico, o governo Lula usou uma de suas vozes mais fortes para tratar do assunto. No dia 14, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi ao noticiário "Bom Dia Brasil", da Globo.
Sua aparição foi rapidamente reciclada em uma nova edição do "Em Questão", com a manchete: "José Dirceu: 'O governo não rouba e não deixa roubar'".
O primeiro item do boletim eletrônico era a transcrição da fala de Dirceu sobre corrupção. "O governo não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção (...) Não é fato que o governo não está combatendo a corrupção. O relatório da Transparência Internacional não diz isso. A opinião da seção do Brasil, que eu considero subjetiva, alegou questões que não podem ser tomadas como aumento da corrupção no país."
O episódio serviu para consolidar o boletim como um órgão de opinião do governo sobre determinados temas. Embora essa função seja do porta-voz, André Singer, o "Em Questão" serve para expressar de maneira impressa o pensamento oficial do Planalto.


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