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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO TUCANA
Mourão assume responsabilidade sozinho pelo esquema do PSDB mineiro de 1998, que era semelhante ao do PT e envolvia Marcos Valério
Caixa 2 tucano pagou Duda, diz ex-tesoureiro
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Cláudio Mourão, ex-tesoureiro
do presidente nacional do PSDB,
Eduardo Azeredo (MG), candidato derrotado ao governo de Minas
em 1998, confirmou a existência
de caixa dois durante a campanha
daquele ano. Ele também revelou
que o publicitário Duda Mendonça, que trabalhou para Azeredo,
recebeu parte dos pagamentos
por meio de "recursos não-contabilizados" obtidos por meio de
empréstimos de Marcos Valério
de Souza. As afirmações foram
feitas ontem à CPI dos Correios.
"O serviço do Duda custou R$
4,5 milhões, mas foram declarados [no Tribunal Regional Eleitoral] somente R$ 700 mil", informou Mourão.
Duda Mendonça não foi localizado. Sua assessoria informou
que ele está fazendo campanha na
Bolívia. Seu advogado, Tales Oscar Castelo Branco, também foi
procurado, mas, até o fechamento
desta edição, não foi encontrado.
A exemplo de Delúbio Soares,
ex-tesoureiro do PT, que assumiu
sozinho o ônus da irregularidade
e poupou líderes do partido de
envolvimento no caixa dois,
Mourão afirmou que somente ele
tinha conhecimento da prática de
"recursos não-contabilizados"
para a campanha do tucano.
Segundo Mourão, o pagamento
a Duda foi feito em dinheiro, em
parcelas que ele não soube especificar. O recurso era entregue à sócia de Duda, Zilmar Fernandes da
Silveira, que também recebeu dinheiro de Marcos Valério na campanha do PT de 2002.
O ex-tesoureiro de Azeredo negou, no entanto, que o acerto tenha sido realizado por meio de
transferência para contas no exterior. À CPI dos Correios, Duda
admitiu que recebeu parte de seu
pagamento pela campanha do PT
em depósito nas Bahamas.
Mourão disse que era amigo de
infância de Azeredo e, entre 1995 e
1998, foi seu secretário de Recursos Humanos e Administração.
Em julho de 1998, quando a campanha começou, disse ter tido dificuldade para arrecadar recursos
e recorreu a Marcos Valério, que
conhecera nos anos 90.
Num primeiro momento, o publicitário obteve cerca de R$ 2 milhões por meio de um empréstimo no Banco Rural, o mesmo que
serviria para obter recursos entregues ao PT em 2003. Pouco tempo
depois, Marcos Valério fez mais
uma transação financeira, no
mesmo banco, de aproximadamente R$ 9 milhões, apesar de só
ter recebido de Mourão R$ 1 milhão do empréstimo anterior.
O ex-tesoureiro de Azeredo afirmou ainda que adquiriu veículos
para a campanha em seu próprio
nome e disse que o então candidato não sabia. Ele declarou que
tanto os empréstimos de Marcos
Valério quanto os carros adquiridos em 1998 não foram pagos e,
por causa disso, moveu uma ação
contra Azeredo no STF (Supremo
Tribunal Federal). A ação foi retirada há três meses, quando veio a
público a informação de que Azeredo também tinha utilizado caixa dois na campanha.
PT x PSDB
A sessão foi marcada pela disputa entre PT e PSDB, que tentaram atribuir a culpa pela existência de caixa dois ao adversário.
Os tucanos levaram para a CPI
um grupo de sete parlamentares,
incluindo líderes, que não costumam aparecer nas sessões normais da comissão.
Na ânsia de defender Azeredo, o
deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) acabou por complicá-lo. Ele
perguntou a Mourão se os empréstimos haviam sido feitos na
época da campanha, o que foi
confirmado pelo ex-tesoureiro.
"O PT está querendo confundir as
coisas", disse. "Houve efetivamente caixa dois em 1998 porque
não se conseguiu pagar."
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), propôs a criação de uma sub-relatoria para
apurar a existência de caixa dois
nas campanhas e, para irritação
do PT, apresentou um requerimento para que sejam ouvidos tesoureiros do partido nos Estados.
Já o PT tentou mostrar que o
PSDB também incorreu em irregularidade ao fazer caixa dois.
Irônico, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT) disse que Mourão deveria pedir "direito autoral" por
ter criado o sistema de empréstimos para financiar campanhas
com recursos não-contabilizados.
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