São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Eleito afirma querer peemedebistas no governo, mas esperará fim de conflito

Atrás do PMDB, Lula diz que anuncia equipe até o dia 15

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O governador eleito do Paraná, Roberto Requião, ao lado do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em coletiva no comitê petista


PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que espera ter o PMDB como parte integrante de seu governo e confirmou, pela primeira vez publicamente, que seu ministério será anunciado na primeira quinzena de dezembro. "Temos um tempo curto até lá. Estou fazendo consultas, mas não me sinto pressionado", declarou.
Questionado se já teria sua equipe anunciada na data do encontro com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, marcado para o próximo dia 10, na Casa Branca, em Washington, Lula foi evasivo: "Não necessariamente".
Ao cumprimentar os jornalistas ontem, Lula fez piada: "Já escolheram o ministério de vocês? Pelo que li nos jornais, há nomes para pelo menos três ministérios".
O petista afirmou que aguardará que o PMDB resolva o conflito interno entre aqueles que o apoiaram e os que estavam com o candidato derrotado à Presidência, José Serra (PSDB).
"Vamos esperar eles resolverem os problemas para poder conversar", disse, após encontro com o governador eleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), em seu escritório na Vila Mariana, em São Paulo.
"Gostaria de ter setores do PMDB que sempre trabalharam ao nosso lado. Espero contar com a participação deles", afirmou. Lula disse ter uma relação "química, de pele" com o governador eleito do Paraná, que o apóia desde o primeiro turno da eleição presidencial. "Dois políticos que sempre gostei de graça foram Mário Covas e Roberto Requião."
O peemedebista paranaense afirmou que seu partido não pode optar pelo "adesismo remunerado". "O PMDB agiu assim com FHC e deu no que deu. Temos de apoiar Lula a partir de teses para o país", disse Requião.
Na sexta-feira, Lula visita Pernambuco, onde se encontro com o governador reeleito do Estado, Jarbas Vasconcelos, e com o presidente nacional do PSB, Miguel Arraes. Vasconcelos, que chegou a ser convidado para ser vice de Serra, pertence ao PMDB governista e não defende adesão do partido ao governo eleito.
O grupo do PMDB que se opõe à atual cúpula do partido afirma já ter obtido mais assinaturas do que o número necessário para convocar uma convenção nacional do partido em dezembro, à revelia da Comissão Executiva Nacional, para formalizar apoio ao governo de Lula.
Para que filiados do PMDB proponham representação pedindo a convenção nacional são exigidas nove assinaturas de presidentes de diretórios estaduais (um terço dos 27 diretórios). Ontem à tarde já havia dez apoios, segundo integrantes da ala rebelde do PMDB.
O presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), classificou como "golpe" a iniciativa dos rebeldes e afirmou que, pelo estatuto partidário, a Executiva não é obrigada a convocar a convenção, mesmo recebendo a representação. "Se vier a petição, vamos examinar", disse.
Temer acha que o objetivo da ala dissidente é destituir na convenção a atual Executiva Nacional, que tem mandato até setembro de 2003.
O ex-presidente do PMDB Paes de Andrade (CE), outro integrante do grupo que quer a convenção, nega que o objetivo seja derrubar a cúpula.
"O que queremos é formalizar um apoio claro, alto e limpo ao governo Lula, sem cargos, sem a mancha do fisiologismo praticado no passado recente", disse.
Os governistas não confiam nessa proposta. "Esse negócio de convenção é uma coisa absolutamente artificial, patrocinada pelo senador José Sarney (PMDB-AP), que tenta se inserir a fórceps na interlocução com o governo Lula, quando poderia se inserir no processo por diálogo, com transparência, dizendo o que quer", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
Por trás da discussão sobre a convenção está a disputa pela presidência do Senado. Sarney quer ser o candidato do PMDB.
O outro candidato é o líder da bancada, senador Renan Calheiros (AL), que integra a atual Executiva, que deu apoio a Serra.


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