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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Ao mesmo tempo, ministro da Fazenda viabilizou o governo de Lula e reabilitou a gestão tucana, ao manter política econômica de FHC
Palocci resolveu risco-PT e ruína do PSDB
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sua ascensão política fulminante, Antonio Palocci, mais que
ministro da Fazenda, tornou-se a
tábua de salvação dos dois grupos
que há mais de dez anos encabeçam a disputa pelo poder no país.
Ao mesmo tempo, viabilizou o
atual governo petista e reabilitou
o governo tucano anterior ao personificar a preservação de uma
política econômica que havia sido
estraçalhada nas eleições presidenciais de 2002, quando nem o
candidato do PSDB, José Serra,
animava-se a defendê-la.
Pouco importa se o médico sanitarista de 45 anos, ex-militante
trotskista, apóia de fato ou mesmo entende tudo o que pôs em
prática nos últimos anos. Palocci
deixou hesitações e constrangimentos de petistas e abraçou a ortodoxia liberal com fervor de convertido. A missão era não deixar
margem a dúvidas; foi atingida.
Palocci começou a deixar de ser
um simples político de Ribeirão
Preto no dia 22 de junho de 2002,
quando o então candidato Luiz
Inácio Lula da Silva leu a já célebre
"Carta ao Povo Brasileiro".
Ali, sob inspiração do hoje ministro, o PT fazia a ruptura consigo mesmo. Em poucas palavras,
Lula se comprometia a controlar a
inflação, respeitar contratos e
manter o arrocho fiscal para evitar a disparada da dívida pública.
As grandes mudanças redentoras prometidas desde sempre pelos petistas, dizia o texto, ficariam
para depois de um período de
"transição" -que, como ficou
claro depois, nunca terminaria.
Escolha natural
Habilidoso, Palocci escalou as
hierarquias do PT e do governo
sem nunca parecer fazer força.
Chegou à coordenação do programa de Lula após a morte de
Celso Daniel; tornou-se a escolha
natural para chefiar a equipe de
transição de governo; depois, a escolha natural para o Ministério da
Fazenda; se tudo tivesse dado certo, seria o nome certo para a sucessão de Lula em 2010.
Na transição de governo, contrapartida do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à filosofia de preservação da política
econômica da "Carta ao Povo
Brasileiro", Palocci começou, de
fato, a conseguir acalmar os investidores em pânico com a perspectiva de um governo petista.
Na Fazenda, foi o único ministro com autonomia para montar
sua equipe, fora o veto presidencial à preservação no Banco Central de Armínio Fraga, símbolo da
ortodoxia do segundo mandato
de FHC. Sob Palocci, os tucanos
não conseguiriam deixar em definitivo o poder rumo à oposição.
Não só as diretrizes da política
econômica foram mantidas, mas
boa parte da equipe também.
Mesmo os recém-chegados nada
tinham a ver com o PT, caso de
Henrique Meirelles, ex-banqueiro
eleito deputado pelo PSDB.
Continuidade
O PT nunca teve um pensamento econômico capaz de unir seus
especialistas e militantes. Palocci
não se preocupou em formular
um. Em vez disso, adotou na prática, e com convicção, o mote eleitoral que José Serra usava meio
envergonhadamente: continuidade sem continuísmo.
Foram reforçados os três pilares
macroeconômicos do tucanato
-a política monetária baseada
em metas de inflação sucessivamente mais ambiciosas; a política
cambial no regime de livre flutuação; a política fiscal com metas
crescentes de superávit destinadas a reduzir a dívida pública.
Para os passos seguintes, à receita tradicional de abertura econômica e privatizações, acrescentaram-se as chamadas reformas
institucionais. Nem tudo deu certo. Perderam-se, nos embates políticos, a reforma tributária, a autonomia do BC, as reformas trabalhista e sindical, a lei das agências reguladoras. Avançaram as
reformas da Previdência e do Judiciário, a Lei de Falências e a das
Parcerias Público-Privadas.
Mas Palocci contou com um cenário externo excepcionalmente
favorável. Colheu a partir de 2003
taxas de crescimento que, embora
abaixo da média dos demais países, são as melhores obtidas na
história brasileira recente.
Nesse meio tempo, trabalhou
cuidadosamente a imagem, afinal
consolidada, de uma ilha de racionalidade em um governo marcado pela falta de diretrizes.
Nunca foi, é claro, unanimidade. Mas não chegou a ser ameaçado pelas críticas até que seu passado na Prefeitura de Ribeirão Preto
voltasse para enfraquecê-lo
-justamente quando articulava
uma controversa radicalização de
sua política fiscal.
Até economistas ortodoxos
apontam o esgotamento da estratégia dos superávits fiscais, que
neste ano, mesmo em níveis recordes, foram incapazes de reduzir a dívida pública. Palocci preparava-se para aumentar a dose.
O plano despertou a reação do PT
e da ministra Dilma Rousseff.
Mesmo abatido, Palocci assegurou seu protagonismo em 2006.
Lula baseará seu discurso nos resultados da política econômica,
cuja autoria será reivindicada pelos tucanos. Fora os ataques no
campo ético, nenhum dos dois lados tem discurso melhor até aqui.
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