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ELIO GASPARI
Os tucanos exterminadores
Se não forem respeitados os
direitos constitucionais do ministro Antonio Palocci, condestável do governo e quindim da banca, vai-se substituir o Comissariado Petista pelo Comando Tucano.
A política de Palocci e de sua ekipe é ruinosa. A idéia de blindá-los
é um contubérnio da ganância
com a amoralidade. Sua administração em Ribeirão Preto foi
um triunfo do aparelho companheiro. A prefeitura licitou a compra de 40 mil cestas básicas exigindo que contivessem latas de
molho de tomate com ervilha que
só eram fabricadas numa empresa que, por sua vez, só as vendia a
outra (a Cathita, de São Caetano). Denunciado o golpe, cancelou-se a licitação e fez-se uma
compra de emergência. Onde?
Numa casa chamada Gesa, de
Santo André, de propriedade das
ilustres mulheres dos donos da
Cathita. Casos como esse podem
instruir opiniões ou desconfianças, mas quem julga malfeitores e
define culpas é a Justiça.
Há duas semanas, o delegado
Benedito Antônio Valencise, encarregado de um dos inquéritos
de Ribeirão Preto, revelou que os
depoimentos de quatro testemunhas, cujos nomes eram mantidos
em sigilo, reforçaram a convicção
de que Palocci e outras sete pessoas estavam envolvidas em transações de superfaturamento de
serviços municipais. Quatro delas
trabalharam com Palocci na prefeitura e uma -Juscelino Dourado- chefiou seu gabinete no Ministério da Fazenda.
Seis estão vivos, mas nenhum
foi ouvido pela polícia. Depoimentos sigilosos decidindo a incriminação de cidadãos sem que
eles sejam confrontados com as
acusações danificam o direito das
gentes. Dias depois o delegado
Valencise esclareceu: "Não há que
se falar em indiciamento ainda".
Devagar, não se trata de dizer que
"não há". O certo seria dizer que
"não havia" por que se falar em
indiciamento. Por ter falado, agiu
mal a polícia paulista. Toda uma
geração de brasileiros viveu o
trauma das humilhações impostas a Juscelino Kubitschek quando o chamavam para depor em
inquéritos policiais militares, antecipando-se que seria indiciado.
Na quarta-feira, Valencise referiu-se a Palocci como "esse senhor". Tudo bem, mas não faz
bem à alma dos contribuintes ouvir um delegado tratar o ministro
da Fazenda de forma pouco cerimoniosa. Daqui a pouco poderão
chamá-lo de "o elemento".
Sob custódia da polícia paulista, na condição de testemunha
colaboradora, Rogério Buratti foi
obrigado a depor algemado.
Mais: filmaram-no enquanto depunha e divulgaram o vídeo. Segundo Palocci, "uma pessoa algemada diz qualquer coisa". Falso.
As algemas e a câmera têm a ver
com a qualidade da polícia paulista, não com o depoimento de
Buratti, confirmado em declarações posteriores, livres de constrangimento.
O aparelho policial do tucanato
paulista tem peculiaridades históricas e metodológicas. Para a
história, o governador Geraldo
Alckmin foi um defensor do delegado Laertes Calandra, reconhecido como sendo o Capitão Ubirajara do DOI-Codi paulista nos
anos 70, signatário do pedido de
perícia da cela onde estava o corpo de Vladimir Herzog. Denunciada a presença de Calandra numa relevante função da Secretaria da Segurança, Alckmin disse o
seguinte: "Vamos ficar voltando
ao passado a cada momento?"
Há poucas semanas, quando associar-se a Herzog pareceu-lhe
melhor que defender o delegado,
Alckmin voltou ao passado e foi à
cerimonia que lembrou o 30º aniversário do assassinato do jornalista, na Catedral da Sé.
Na metodologia, o secretário da
Segurança Saulo de Castro Abreu
Filho viu-se numa rua bloqueada
a caminho do restaurante onde ia
jantar. Mobilizou sua gente, e
uma patrulha do Grupo de Operações Especiais da polícia deteve
tanto um manobrista como o dono do restaurante. Eles nada tinham feito de errado. O episódio
foi denunciado, o Ministério Público decidiu investigá-lo e a assessoria do doutor Saulo disse, em
nota oficial, que "houve uso indevido da Justiça para resolver
questões pessoais". Dias depois,
num bonito exemplo, reconheceu:
"Eu não li a nota, lamento e peço
desculpas pelo conteúdo".
Alguém deve desculpas a Buratti, aos seis indiciados-não-indiciados e ao ministro Antonio Palocci. É o jogo jogado. Pedem-se
desculpas e tocam-se os inquéritos. Quando se sabe que o ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo participou do esforço fracassado para matar a prorrogação da
CPI dos Correios, pode-se suspeitar que o tucanato faz acordos no
andar de cima enquanto açula a
opinião pública no de baixo. É a
demagogia moralista, mais interessada em enganar a platéia e
proteger os mensalistas de Furnas
do que em encarcerar os ladrões.
O PT-Federal gosta de se dizer
vítima de um processo macartista. Refere-se à paranóia anticomunista desencadeada nos Estados Unidos nos anos 50 pelo senador Joseph McCarthy, um charlatão mentiroso e bêbado. É exagero, mas havia no macartismo um
ingrediente que contamina a investigação das malfeitorias do comissariado. O jornalista Richard
Rovere, num magnífico ensaio sobre o fenômeno, atribuiu a
McCarthy a manipulação do que
denominava "a falsidade múltipla". Nas suas palavras:
"A falsidade múltipla não precisa ser uma grande falsidade, mas
pode ser uma longa série de falsidades tenuemente conectadas ou
uma simples falsidade com muitas facetas. Em qualquer caso, o
conjunto tem tantas partes que se
torna impossível mantê-las simultaneamente na cabeça. Qualquer tentativa de demonstração
da falsidade de algumas afirmações deixa a impressão de que só
aquelas afirmações são falsas e as
outras são verdadeiras." (Um
exemplo desse mecanismo: outro
dia, o signatário escreveu que o
ministro Palocci usou o avião do
empresário Roberto Colnaghi em
que Vladimir Poleto transportou
três caixas com encomendas recolhidas em Brasília. Falso. Ele havia desmentido essa informação.)
A "falsidade múltipla", que à
primeira vista massacra as vítimas, é uma dádiva para os malfeitores, pois o tumulto do inquérito interessa, acima de tudo, aos
culpados.
Uma nova grife
As moças que batalham à
noite nos arredores da praça
Tiradentes, no Rio, tiveram a
ajuda de uma ONG escandinava para montar uma pequena confecção onde costurassem suas roupas de trabalho. A grife das moças vai se
chamar Daspu.
Aula de economia
A ekipekonomica envenenou
as relações do Brasil com a
Argentina convencendo
"nosso guia" a afastar-se do
presidente Néstor Kirchner
enquanto ele renegociava sua
dívida com a banca internacional. Quando não boicotavam os argentinos no FMI, os
çabios debochavam da iniciativa em São Paulo. O herege
prevaleceu, a banca cedeu, e
eles fizeram papel de bobos.
Agora, com um crescimento próximo dos 9%, Kirchner
diferencia-se de Lula. Tendo
perdido 10% do seu PIB no
colapso da paridade cambial,
nos últimos três anos a economia argentina cresceu perto de 25% -três vezes mais
que a brasileira.
Natasha química
Com o mensalão atrasado,
Madame Natasha continua a
cuidar do sofrido idioma nativo. Decidiu não conceder
sua bolsa de estudo ao doutor
Ritzel Tuazon Boer. Ele assina uma mensagem recebida
por grandes empresários para participar de um evento
chamado "Químico Semana". Diz assim:
"Químico Semana é contente convidar você pedir
participar nossa Second Annual Sul-americana Executivo Roundtable. [...] Nossa
convite lista inclui CEOs e
presidentes de proeminente
químico empresas. [...] Ligado, você encontrará um convite formal e um general ver
por alto da evento."
Natasha não lhe dá a bolsa
porque se trata de caso perdido.
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