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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ VISÃO DA CRISE
Religioso italiano afirma ter dúvidas sobre o envolvimento de Lula nas denúncias de corrupção
Padre expulso do país em 80 diz que PT o decepcionou
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Expulso do Brasil em 1980 pelo
regime militar, em ação que envolveu o ex-presidente da Câmara
Severino Cavalcanti (PP), o padre
italiano Vito Miracapillo, 58, diz
estar "decepcionado" com as denúncias de corrupção envolvendo
o PT e integrantes do governo.
"Da Itália, vi pessoas com muita
esperança também se decepcionarem", disse. "Mas, pessoalmente, tenho dúvidas sobre o envolvimento do presidente Lula."
O religioso está no país desde o
dia 14 e fica até o dia 25. Leia a seguir trechos de entrevista à Folha.
Folha - Qual a sua versão para a
sua expulsão do país?
Vito Miracapillo - A história de
que fui expulso porque me recusei a rezar missa na Independência foi um pretexto para acabar
com o trabalho pastoral que fazíamos com camponeses.
Era domingo. Rezamos três
missas. Queriam impor a forma e
o horário da missa. Isso não poderíamos fazer. O que veio foi uma
reação dos latifundiários e dos
políticos que nos perseguiam.
Folha - Como o sr. viu a ascensão
e a queda do ex-deputado Severino
Cavalcanti (PP), que o denunciou
aos militares?
Miracapillo - Achava que a eleição dele [à presidência da Câmara] não seria um avanço democrático para o país. Depois de tudo o que aconteceu, ficou claro
que cada um colhe o que semeia.
Folha - Qual a sua avaliação do
governo Lula?
Miracapillo - Me decepcionei
com a situação. Da Itália, vi pessoas com muita esperança também se decepcionarem. Mas, pessoalmente, tenho dúvidas sobre o
envolvimento do presidente Lula.
Folha - Como o sr., que é ligado à
ala progressista da Igreja, viu o então cardeal Joseph Ratzinger, hoje
papa Bento 16, condenar a Teologia da Libertação?
Miracapillo - Eu acho que aqui as
coisas continuaram. Eu vi até que
muito da linguagem da Teologia
da Libertação passou para a Igreja, que adotou algumas coisas.
Folha - Os fundamentos da Teologia da Libertação ainda são válidos?
Miracapillo - Sim, porque a Teologia da Libertação colocou como
fundamento a reflexão. E tudo o
que pertence à vida real da pessoa
faz parte também do engajamento do cristão. Não só a alma mas
também o corpo, as realidades
materiais, têm que entrar num caminho de salvação.
Folha - O sr. defende a continuidade da Teologia da Libertação,
mesmo condenada por Ratzinger?
Miracapillo - É claro que sim. O
que foi condenado foram algumas correntes da Teologia da Libertação, que faziam da violência
um dos métodos, ou faziam da escolha marxista [o fundamento]
da luta de classes.
Folha - Como o sr. vê a atuação
dos movimentos sociais que lutam
pela terra no Brasil?
Miracapillo - Até que sejam resolvidos os problemas da redistribuição da terra e da riqueza, é claro que vai haver conflitos. Mas tudo tem que ser na forma pacífica.
Folha - O sr. gostaria de ver a
Igreja mais aberta?
Miracapillo - Mais engajada, sim.
Mais engajada na vida social, como era naquele tempo. A gente viveu uma aventura muito linda na
vida da Igreja, embora com a ditadura. A Igreja não pode renunciar
à presença dentro da sociedade.
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