São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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DEPOIMENTO
Senadores aliados acham que Mendonça de Barros não foi convincente e querem evitar desgaste de FHC
Governistas defendem saída de ministro

RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília


A base governista do Senado não considerou o depoimento do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros convincente e já defende abertamente o seu afastamento do governo, para evitar maiores desgastes ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), negou-se a comentar o desempenho de Mendonça de Barros. "Não sou obrigado a falar quando não quero", disse. A senadores com quem conversou, no entanto, ACM disse que o ministro não foi bem-sucedido.
O presidente nacional do PMDB, Jader Barbalho (PA), aconselhou o ministro a renunciar. "Se eu fosse ele, pensaria igual ao ex-ministro da Aeronáutica Mauro Gandra, que pediu demissão apenas por ter dormido na casa do representante da empresa Raytheon, interessada no projeto Sivam."
A Folha apurou que auxiliares de FHC avaliaram que os governistas estão pedindo a demissão de Mendonça de Barros porque ele não teria conseguido apagar a imagem de que o leilão da Telebrás foi manipulado.
Assessores do presidente comentaram que o ministro agiu pensando no "bem do Tesouro Nacional", mas adotou práticas do setor privado que não combinam com o setor público. FHC acredita ainda que o ministro continuará a ser atacado por seus aliados com o objetivo de inviabilizá-lo como futuro ministro da Produção.
Até senadores tucanos, como Carlos Wilson (PE), defenderam a saída de Mendonça de Barros. "Ele é amigo do presidente, e um amigo não coloca o outro em dificuldades. Ele deveria se afastar, porque o governo ficaria mais à vontade para apurar as denúncias."
"Se eu fosse o presidente, demitiria o ministro. E, se eu fosse o ministro, eu me afastaria do cargo para preservar o presidente. Eu não estaria colocando o governo nessa discussão. Esses diálogos colocam em xeque a credibilidade do governo", disse Romero Jucá (PFL-RR).
"Independentemente de ter culpa ou não, o caso teve tal repercussão que o ministro deveria se afastar, mesmo que estivesse cumprindo sua obrigação ao conduzir o processo de privatização. Seria útil ao governo. Há um ponto de interrogação na sociedade", disse Ramez Tebet (PMDB-MS).
Tebet lembrou o caso do ex-chefe da Casa Civil do governo Itamar Franco, Henrique Hargreaves, que se afastou temporariamente do cargo por ter tido seu nome citado em depoimentos dados à CPI do Orçamento. Quando foi inocentado, voltou ao governo.
A defesa do ministro coube ao presidente nacional do PSDB, Teotonio Vilela (AL), e aos líderes do partido no Senado, Sérgio Machado (CE), e na Câmara, Aécio Neves (MG). Vilela disse que o ministro deu os esclarecimentos necessários, mas admitiu que o problema é político. "Querem afastar o ministro do governo pelo espaço que ele ocupa", disse Vilela.
"Não se pode queimar na fogueira de interesses políticos a honra de quem cumpriu seu dever", disse Aécio. Por meio de sua assessoria, ameaçou: "Não é hora de se falar em mudança. Mas, se houver, não acontecerão apenas no PSDB".
Entre os governistas, o clima era nervoso no plenário, durante o depoimento. As opiniões eram praticamente unânimes: a situação do ministro é insustentável, pelo desgaste político que já sofreu.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), disse que Mendonça de Barros exagerou na crítica à imprensa e foi brando ao falar dos grampeadores.
Inocêncio também levantou dúvidas quanto ao desempenho do ministro à frente do processo de privatização. "Será que os meios justificam o fim? Se a lei diz que eu posso ir até ali, eu tenho de ir só até ali", disse o pefelista.
Para o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), o depoimento de Mendonça de Barros "deixou clara a teia de interesses" por trás das privatizações.



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