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DEPOIMENTO
Senadores aliados acham que Mendonça de Barros não foi convincente e querem evitar desgaste de FHC
Governistas defendem saída de ministro
RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
A base governista do Senado
não considerou
o depoimento
do ministro Luiz
Carlos Mendonça de Barros
convincente e já
defende abertamente o seu afastamento do governo, para evitar
maiores desgastes ao presidente
Fernando Henrique Cardoso.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
negou-se a comentar o desempenho de Mendonça de Barros. "Não
sou obrigado a falar quando não
quero", disse. A senadores com
quem conversou, no entanto,
ACM disse que o ministro não foi
bem-sucedido.
O presidente nacional do PMDB,
Jader Barbalho (PA), aconselhou o
ministro a renunciar. "Se eu fosse
ele, pensaria igual ao ex-ministro
da Aeronáutica Mauro Gandra,
que pediu demissão apenas por ter
dormido na casa do representante
da empresa Raytheon, interessada
no projeto Sivam."
A Folha apurou que auxiliares de
FHC avaliaram que os governistas
estão pedindo a demissão de Mendonça de Barros porque ele não teria conseguido apagar a imagem
de que o leilão da Telebrás foi manipulado.
Assessores do presidente comentaram que o ministro agiu
pensando no "bem do Tesouro
Nacional", mas adotou práticas do
setor privado que não combinam
com o setor público. FHC acredita
ainda que o ministro continuará a
ser atacado por seus aliados com o
objetivo de inviabilizá-lo como futuro ministro da Produção.
Até senadores tucanos, como
Carlos Wilson (PE), defenderam a
saída de Mendonça de Barros. "Ele
é amigo do presidente, e um amigo
não coloca o outro em dificuldades. Ele deveria se afastar, porque
o governo ficaria mais à vontade
para apurar as denúncias."
"Se eu fosse o presidente, demitiria o ministro. E, se eu fosse o ministro, eu me afastaria do cargo para preservar o presidente. Eu não
estaria colocando o governo nessa
discussão. Esses diálogos colocam
em xeque a credibilidade do governo", disse Romero Jucá (PFL-RR).
"Independentemente de ter culpa ou não, o caso teve tal repercussão que o ministro deveria se afastar, mesmo que estivesse cumprindo sua obrigação ao conduzir o
processo de privatização. Seria útil
ao governo. Há um ponto de interrogação na sociedade", disse Ramez Tebet (PMDB-MS).
Tebet lembrou o caso do ex-chefe da Casa Civil do governo Itamar
Franco, Henrique Hargreaves, que
se afastou temporariamente do
cargo por ter tido seu nome citado
em depoimentos dados à CPI do
Orçamento. Quando foi inocentado, voltou ao governo.
A defesa do ministro coube ao
presidente nacional do PSDB, Teotonio Vilela (AL), e aos líderes do
partido no Senado, Sérgio Machado (CE), e na Câmara, Aécio Neves
(MG). Vilela disse que o ministro
deu os esclarecimentos necessários, mas admitiu que o problema
é político. "Querem afastar o ministro do governo pelo espaço que
ele ocupa", disse Vilela.
"Não se pode queimar na fogueira de interesses políticos a honra
de quem cumpriu seu dever", disse
Aécio. Por meio de sua assessoria,
ameaçou: "Não é hora de se falar
em mudança. Mas, se houver, não
acontecerão apenas no PSDB".
Entre os governistas, o clima era
nervoso no plenário, durante o depoimento. As opiniões eram praticamente unânimes: a situação do
ministro é insustentável, pelo desgaste político que já sofreu.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), disse que
Mendonça de Barros exagerou na
crítica à imprensa e foi brando ao
falar dos grampeadores.
Inocêncio também levantou dúvidas quanto ao desempenho do
ministro à frente do processo de
privatização. "Será que os meios
justificam o fim? Se a lei diz que eu
posso ir até ali, eu tenho de ir só até
ali", disse o pefelista.
Para o senador Lúcio Alcântara
(PSDB-CE), o depoimento de
Mendonça de Barros "deixou clara
a teia de interesses" por trás das
privatizações.
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