|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRIVATIZAÇÃO
Ministro esclarece dúvidas sobre o leilão
Depoimento revela bastidores da venda
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
Em seu depoimento no Senado, o ministro
das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça
de Barros, esclareceu a grande
dúvida que ainda pairava sobre o
leilão da Telebrás: os motivos que
levaram os italianos a comprarem
a Tele Centro Sul quando queriam
a Tele Norte Leste.
Segundo o ministro, a atitude
dos italianos -que até agora intrigava os que acompanharam o leilão- foi motivada pela demora da
Previ (fundo de pensão do Banco
do Brasil) em formalizar sua adesão à proposta do Opportunity para a Tele Norte Leste.
A Previ (maior fundo de pensão
do país, com patrimônio aproximado de R$ 20 bilhões) não concordava com o preço que o Opportunity se dispunha a pagar. Considerava-o muito alto.
Mendonça de Barros referiu-se
ao assunto em vários momentos de
seu longo depoimento. Segundo
ele, até a véspera do leilão -realizado na Bolsa do Rio, no dia 29 de
julho-, a Previ não havia assinado o compromisso de adesão à
proposta do consórcio. Sem o fundo estatal, o Opportunity ficava em
posição frágil para disputar a Tele
Norte Leste, cujo preço mínimo estava fixado em R$ 3,4 bilhões.
Diante da indefinição da Previ,
segundo relatou, os italianos usaram uma tática defensiva: apresentaram uma proposta para a Tele
Centro Sul, cujo preço mínimo era
de R$ 1,95 bilhão, para não correr o
risco de ficar fora da privatização.
O ministro disse ter sido informado desse bastidor um dia depois do leilão, quando, segundo
ele, um diretor da Telecom Italia o
procurou para explicar o ocorrido.
O ministro não citou o nome do
executivo italiano, mas tudo indica
que teria sido Carmelo Furcci, que
acabara de assumir o comando da
Telecom Italia no Brasil.
Pela versão que Mendonça de
Barros apresentou aos senadores,
foi nesse encontro que ele teria tomado conhecimento do preço proposto pelo consórcio Opportunity
para a Tele Norte Leste. Reafirmou
que a proposta era R$ 1 bilhão
maior do que a do consórcio Telemar, que arrematou a telefônica
por R$ 3,4 bilhões.
A Folha tentou confirmar a informação com Carmelo Furcci,
mas sua secretária disse que ele estava fora e que não retornaria para
o escritório ontem.
²
Traições
Com o depoimento de Mendonça de Barros, está desvendado o
quebra-cabeças sobre o leilão das
empresas de telefonia fixa: Telesp,
Tele Centro Sul, Tele Norte Leste e
Embratel. Ele disse que houve
"traições" e que, por causa delas, o
leilão não seguiu o rumo esperado.
Esperava-se que a Telesp fosse
arrematada pela norte-americana
BellSouth ou pelo grupo formado
por Telecom Italia, Bradesco e Organizações Globo.
A grande favorita para a compra
da Tele Centro Sul, segundo o que
se cogitava na época, era a Telefónica de España, sócia da telefônica
CRT, do Rio Grande do Sul, em
parceria com o grupo de comunicação gaúcho RBS (da família Sirotsky) e com a Portugal Telecom.
O favoritismo era explicado até
por questões geográficas. Os espanhóis exploram a telefonia na Argentina, no Chile e no Peru. Se vencessem, teriam território contínuo.
Dentro desse raciocínio lógico, a
Tele Norte Leste -que cobre 16
Estados- ficaria com o consórcio
do Opportunity. O ministro admitiu no Senado que tinha preferência pessoal por esse consórcio.
O esquema desmontou quando a
Telesp foi arrematada pela Telefónica de España, que ofereceu R$
5,78 bilhões pela companhia (ágio
de 64,29%) e derrotou as favoritas
BellSouth e Telecom Italia.
Até a RBS foi atropelada pela atitude da Telefónica de España, que
não revelou suas intenções nem
mesmo para o sócio nacional. Sete
horas antes do início do leilão, os
presidentes da Telefónica de España, Juan Villalonga, e da RBS, Nelson Sirotsky, se reuniram no Rio.
Villalonga informou a Sirotsky
que iria participar também do leilão da Telesp. Justificou que a Telefónica era uma companhia aberta
negociada nas principais Bolsas do
mundo e que não teria como justificar a ausência no leilão da Telesp.
Diante do espanto de Sirotsky,
afirmou que não seria uma disputa
para valer e que o objetivo continuava sendo a Tele Centro Sul. A
compra da Telesp acabou levando
ao rompimento entre Sirotsky e a
Telefónica de España.
Esse episódio, revelado pela Folha logo após o leilão, foi lembrado
ontem por Mendonça de Barros. O
ministro o citou para explicar porque falara em "traições" nas conversas gravadas pelo grampo.
Com a vitória dos espanhóis na
Telesp, os italianos e o Opportunity ficaram sozinhos do leilão da
Tele Centro Sul e foram declarados
vencedores. Com isso, para surpresa geral, a Telemar, tida como
azarão da disputa, levou a Tele
Norte Leste com 1% de ágio.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|