São Paulo, sexta, 20 de novembro de 1998

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Lula depõe e diz que papéis foram oferecidos duas vezes

da Reportagem Local

Em depoimento ontem à Polícia Federal, Luiz Inácio Lula da Silva disse ter recebido em duas oportunidades oferta de papéis referentes a uma suposta conta bancária no exterior em nome do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador Mário Covas (PSDB), do ministro José Serra (Saúde) e do ministro Sérgio Motta (Comunicações), morto em abril.
O presidente de honra do PT afirmou não ter recebido e tampouco examinado os papéis referentes à suposta conta bancária.
Lula, candidato derrotado à Presidência, pediu ao delegado da PF que investiga a origem do dossiê, Paulo de Tarso Teixeira, para que o horário e o local do depoimento fossem mantidos em sigilo para evitar a presença de jornalistas.
Segundo uma pessoa que teve acesso ao texto do depoimento, Lula disse que foi procurado pela primeira vez em agosto pelo pastor Caio Fábio. O pastor teria dito que uma pessoa estava disposta a repassar documentos sobre supostos negócios no exterior envolvendo o presidente Fernando Henrique.
Ainda segundo o depoimento, Lula pediu ao pastor que procurasse Leonel Brizola, vice na chapa de Lula. Segundo o petista, Brizola pediu a Caio Fábio para procurar o advogado Nilo Batista, que descartou a oferta.
Lula, candidato derrota à Presidência, repetiu a versão que já tinha dado sobre o contato com Lafaiete Coutinho, ex-presidente do Banco do Brasil, com a intermediação do deputado federal Luiz Gushiken (PT-SP).
Segundo o petista, ele teve um encontro com Coutinho no hangar da TAM no aeroporto de Congonhas três dias antes do segundo turno. Coutinho teria oferecido o dossiê, mas não o mostrou a Lula.
Segundo a versão de Lula, ele pediu a Coutinho para mostrar os papéis ao advogado Márcio Thomaz Bastos. Depois de ver os papéis no dia seguinte, Bastos teria aconselhado Lula a não assumir a denúncia por causa da impossibilidade de comprovar a veracidade do material. Lula então teria pedido a Gushiken para telefonar para Coutinho recusando a oferta.
A deputada Marta Suplicy (PT-SP), candidata derrotada no primeiro turno nas eleições para governador de São Paulo, também prestou depoimento ontem ao delegado Teixeira.
Depois do depoimento, feito no fim tarde na casa da deputada, Marta confirmou ter recebido a visita no dia 24 de outubro de Lina e Lígia, filhas de Paulo Maluf (PPB), acompanhadas de Jaqueline, nora do pepebista e filha de Lafaiete Coutinho.
"Chamou a atenção que parecia uma coisa muito bem ensaiada. Não há a mais leve possibilidade de aquelas três senhoras terem feito isso por iniciativa própria. Lina e Lígia disseram quatro ou cinco vezes: o papai (Maluf) não sabe que estamos aqui", disse Marta.
O ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e também petista Gilmar Carneiro disse em depoimento ao delegado Teixeira que apenas intermediou o primeiro contato telefônico entre Gushiken e Lafaiete Coutinho.
"Ele me ligou pedindo para falar urgente com o Gushiken. Liguei para o Gushiken e passei o telefone do Lafaiete Coutinho. Nada mais", afirmou Carneiro.
(BERNARDINO FURTADO)



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