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"Neonacionalista", Lessa quer BNDES voltado à inclusão
CHICO SANTOS
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O futuro presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o
economista Carlos Lessa, 66, se
define como "um neonacionalista". Segundo ele, na concepção
histórica do banco, financiar empresa estrangeira é reduzir "o diferencial favorável à empresa nacional". A não ser que o financiamento ao estrangeiro seja para
fortalecer a empresa nacional, como, por exemplo, no caso de um
comprador da Embraer.
Ex-diretor das áreas social e
agroindustrial do banco estatal,
de onde saiu em 1989, Lessa deu o
conceito, mas preferiu não ser definitivo em relação às empresas
estrangeiras. "Vou ter que estudar. Estou fora do banco desde
1989. Foi um período de grandes
transformações."
A escolha de Lessa para a presidência do BNDES foi confirmada
ontem por meio de uma carta assinada pelo presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva e lida para os
representantes do Conselho Universitário da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), instituição da qual ele é reitor.
Lessa destacou três tarefas que
considera prioritárias para o
BNDES no governo Lula. O ponto
que, segundo ele, "pode ser a
grande novidade" é investir em
setores que contribuam para a
efetivação do programa Fome Zero e do projeto geral de inclusão
social do novo governo. Segundo
o economista, isso pode levar o
BNDES a intensificar o apoio a indústrias como a de alimentação e
a de cimento, esta no caso de um
grande programa habitacional.
As outras duas tarefas não são
tão novas: continuar financiando
as exportações, conjugada com financiamentos destinados a reduzir as importações; e fazer um
diagnóstico e intensificar os financiamentos destinados a melhorar a infra-estrutura do país
(estradas, portos, aeroportos etc).
Varig
Questionado sobre a situação da
Varig, que enfrenta séria crise e
tem dificuldades para obter empréstimo do BNDES, Lessa disse
que para o Brasil é muito importante ter uma companhia aérea
do porte da Varig, mas acrescentou: "Por outro lado, essa situação
excepcional não autoriza essa empresa a exigir uma sucessão infinda de concessões especiais".
Ele disse também que, como
presidente do BNDES, não opinará sobre a política macroeconômica, a não ser que venha a ser
chamado para fazê-lo em um fórum específico do governo. "Não
é função do BNDES falar sobre
política macroeconômica. Cada
macaco no seu galho."
Segundo Lessa, além de fonte de
financiamento, "o BNDES é um
notável instrumento de planificação setorial". Mas afirmou que
quem definirá os setores prioritários são as instâncias superiores
do governo. "O BNDES vai ser
uma instância subsidiadora desse
debate e executora do seu resultado." Ele confessou não conhecer o
futuro ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
que será seu chefe. "Só falei com
ele uma vez, por telefone."
Lessa comandará um orçamento de empréstimos que este ano
chegará a R$ 30 bilhões, maior,
por exemplo, do que os gastos totais do Ministério da Saúde (em
torno de R$ 28 bilhões em 2002).
Paul Singer
Ele afirmou ter recebido de Lula
a recomendação de formar sua
equipe preferencialmente com
pessoal do próprio banco. O único nome de fora que Lula disse
querer no BNDES é o do economista Paul Singer, especialmente
pelo trabalho no campo da "economia solidária".
Ao ser questionado sobre como
se posiciona na polêmica entre
monetaristas e desenvolvimentistas que já gerou divisões na equipe econômica do atual governo,
ele disse que não opinaria e sugeriu que as dúvidas fossem tiradas
na leitura dos seus livros. Mas
acabou disparando: "Pela minha
formação, pela minha natureza,
eu não sou um neoliberal. Sou um
neonacionalista e minha grande
preocupação é a inclusão social e
a redução das desigualdades".
O neoliberalismo", continuou,
"é uma ideologia paralisante do
mercado, por incrível que pareça.
Porque o mercado não se auto-sustenta. O mercado exige diretrizes, exige interações, exige articulações, exige protagonismos e, geralmente, exige o Estado como
grande protagonista".
Lessa preferiu ser genérico sobre o problema dos juros elevados
e o que eles poderiam criar de
obstáculos ao BNDES. Após ressalvar que o banco tem fontes de
recursos mais baratas que as do
mercado para cumprir o papel de
financiador do setor produtivo,
disse: "Em princípio, juros elevados dificultam os investimentos,
públicos e privados".
A primeira conversa pessoal entre Lessa e Lula aconteceu na sexta-feira passada, em Brasília. O futuro presidente do BNDES chegou a ser cotado para o Ministério
do Planejamento.
Lessa, apesar de filiado ao
PMDB, sempre teve ótimas relações com o PT. É amigo da economista petista Maria da Conceição
Tavares. Foi professor de tucanos
e ministros de FHC, como José
Serra, Paulo Renato (Educação) e
Barjas Negri (Saúde).
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