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TRANSIÇÃO
CPMF é "excrescência" e CLT "precisa mudar", afirma José Alencar
Vice de Lula diz que taxas de juros são um "assalto"
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
O vice-presidente da República
eleito, senador José Alencar (PL-MG), disse no Rio que as taxas de
juros cobradas ao consumidor
são "um assalto" e "um despropósito", mas que permanecerão
nesse nível por algum tempo.
"Demora um pouco. [A queda]
não pode ser assim, como uma
lâmpada de Aladim", afirmou.
Alencar discursou na Confederação Nacional do Comércio.
Respondeu a duas perguntas dos
repórteres, mas não quis dar entrevista. Foi logo embora.
Alternou adjetivos duros para
os juros com análise branda dos
efeitos na economia do aumento
decidido anteontem da taxa básica de 22% para 25% ao ano.
Ou seja: deu a entender que,
embora o patamar atual seja ruim
para o país, esse cenário não vai
ser modificado tão cedo.
"Nosso quadro é muito difícil",
disse. "A dívida [pública] é alta
porque é rolada a taxas despropositadas. Os juros que o consumidor paga são de 8% ao mês, 150%
ao ano, o que é mais que um despropósito. É um assalto."
"Nunca houve na história do
Brasil maior transferência de renda oriunda do setor primário, secundário, terciário e da infra-estrutura em benefício do sistema
financeiro. Isso não pode continuar porque o Brasil não tem como retomar o desenvolvimento."
O pulo dos juros básicos em três
pontos percentuais não terá
maior impacto, afirmou. "A taxa
de juros cobrada ao consumidor é
tão elevada que isso [a mudança
de anteontem] não altera nada.
Não vai servir como sinal para arrefecer demanda. A demanda não
é fator dessa inflação que está aí.
Todo mundo sabe que é a taxa de
câmbio", afirmou.
Embora tenha classificado a
atual política monetária como
"restritiva", com juros elevados
para conter a inflação, Alencar
disse que a orientação "tem um
certo valor nesse sentido".
Para baixar as taxas, afirmou
que será preciso "fazer crescer as
exportações, obter superávit de
balança comercial da ordem de
uns US$ 25 bilhões. Nesse dia teremos as contas externas equilibradas e poderemos começar a
baixar as taxas de juros".
Não fez previsão de quando isso
aconteceria. O superávit comercial é o saldo das exportações menos as importações. Não chegará
a US$ 13 bilhões neste ano.
Alencar é industrial, com raízes
no comércio. Ontem voltou a defender a aliança de seu partido
com o PT, mostrando perceber
muitas resistências no setor empresarial. Citou elogiosamente a
ESG (Escola Superior de Guerra).
Referiu-se ao economista liberal
Roberto Campos (1917-2001) como "saudoso". Recitou o poema
"O outro Brasil que vem aí" (de
1926), do sociólogo Gilberto Freyre (1900-87).
Chamou a CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira) de "excrescência".
Disse que a CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho) "precisa
mudar". E reafirmou que não será
ministro de Lula.
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