São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

CPMF é "excrescência" e CLT "precisa mudar", afirma José Alencar

Vice de Lula diz que taxas de juros são um "assalto"

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O vice-presidente da República eleito, senador José Alencar (PL-MG), disse no Rio que as taxas de juros cobradas ao consumidor são "um assalto" e "um despropósito", mas que permanecerão nesse nível por algum tempo. "Demora um pouco. [A queda] não pode ser assim, como uma lâmpada de Aladim", afirmou.
Alencar discursou na Confederação Nacional do Comércio. Respondeu a duas perguntas dos repórteres, mas não quis dar entrevista. Foi logo embora.
Alternou adjetivos duros para os juros com análise branda dos efeitos na economia do aumento decidido anteontem da taxa básica de 22% para 25% ao ano.
Ou seja: deu a entender que, embora o patamar atual seja ruim para o país, esse cenário não vai ser modificado tão cedo.
"Nosso quadro é muito difícil", disse. "A dívida [pública] é alta porque é rolada a taxas despropositadas. Os juros que o consumidor paga são de 8% ao mês, 150% ao ano, o que é mais que um despropósito. É um assalto."
"Nunca houve na história do Brasil maior transferência de renda oriunda do setor primário, secundário, terciário e da infra-estrutura em benefício do sistema financeiro. Isso não pode continuar porque o Brasil não tem como retomar o desenvolvimento."
O pulo dos juros básicos em três pontos percentuais não terá maior impacto, afirmou. "A taxa de juros cobrada ao consumidor é tão elevada que isso [a mudança de anteontem] não altera nada. Não vai servir como sinal para arrefecer demanda. A demanda não é fator dessa inflação que está aí. Todo mundo sabe que é a taxa de câmbio", afirmou.
Embora tenha classificado a atual política monetária como "restritiva", com juros elevados para conter a inflação, Alencar disse que a orientação "tem um certo valor nesse sentido".
Para baixar as taxas, afirmou que será preciso "fazer crescer as exportações, obter superávit de balança comercial da ordem de uns US$ 25 bilhões. Nesse dia teremos as contas externas equilibradas e poderemos começar a baixar as taxas de juros".
Não fez previsão de quando isso aconteceria. O superávit comercial é o saldo das exportações menos as importações. Não chegará a US$ 13 bilhões neste ano.
Alencar é industrial, com raízes no comércio. Ontem voltou a defender a aliança de seu partido com o PT, mostrando perceber muitas resistências no setor empresarial. Citou elogiosamente a ESG (Escola Superior de Guerra).
Referiu-se ao economista liberal Roberto Campos (1917-2001) como "saudoso". Recitou o poema "O outro Brasil que vem aí" (de 1926), do sociólogo Gilberto Freyre (1900-87).
Chamou a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) de "excrescência". Disse que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) "precisa mudar". E reafirmou que não será ministro de Lula.


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