São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Partido define nomes para Integração Nacional e Minas e Energia, que ainda ontem era disputada por petistas

PMDB acerta presença na equipe de Lula

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Após duas semanas de contratempos, o PMDB acertou ontem, em reunião com o PT, os termos para integrar a base de apoio e o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
A sigla negociou dois ministérios - Minas e Energia e Integração Nacional-, com a indicação de dirigentes para as estatais e órgãos a eles subordinados.
"O presidente do PMDB [Michel Temer] e eu, em nome da montagem do governo, chegamos a uma proposta comum", declarou José Dirceu, futuro ministro-chefe da Casa Civil.
O acordo entre os dois partidos dependia ainda da chancela de Lula, que passou parte da noite em reunião com a cúpula petista.
O deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE), 50, empresário e agropecuarista, é o nome para ministério da Integração Nacional, pasta antes cogitada para Ciro Gomes (PPS) -agora cotado para o Planejamento ou para a Previdência.
Para o Ministério das Minas e Energia, o senador eleito Hélio Costa (PMDB-MG), 63, era o nome mais forte. Havia ainda a possibilidade de o cargo vir a ser ocupado por Pedro Simon (PMDB-RS), 72, ou a destinação da pasta à petista Dilma Rousseff, ex-secretária de Minas, Energia e Comunicações do Rio Grande do Sul.
Assessores próximos a Lula tentavam manter o ministério nas mãos do PT, temendo a possibilidade de apagão no ano que vem. Se Lula ceder aos apelos, nova crise será criada com o PMDB, que negociou o acordo com Dirceu.
Os nomes do PMDB foram escolhidos de modo a contentar as duas alas do partido, após uma série de consultas sigilosas, por meio de intermediários comuns de peemedebistas e petistas, ao longo da última semana.
Hélio Costa -jornalista que se notabilizou como correspondente da Rede Globo em Nova York entre 1972 e 1985- foi dormir ontem acreditando ser ministro. Estava em Belo Horizonte anteontem, quando recebeu um telefonema de Dirceu para que participasse de reunião em Brasília.
Costa é ligado também ao governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), e ao vice-presidente eleito, José Alencar. No Congresso, atuou contra a privatização de Furnas, um dos motivos de crise entre Itamar e o presidente FHC.
A presença de Costa preencheria assim a cota do PMDB e de Itamar no governo. Em 14 de novembro, Lula convidou o governador de Minas a integrar sua equipe, mesmo sabendo que ele prefere ser nomeado embaixador em Roma, o que deve ocorrer.
Apesar de ser aliado da dissidência do PMDB, Costa assinou documento de apoio à candidatura do atual líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), à presidência do Senado. Renan é o nome preferido da cúpula e disputa o cargo com o senador José Sarney (PMDB-AP).
Eunício Oliveira, em quatro anos de mandato na Câmara, para o qual foi reeleito, votou a favor dos projetos do governo FHC, apesar de ser genro de um dos principais símbolos da ala oposicionista do PMDB, Paes de Andrade (CE). Mantém ainda vínculos com peemedebistas como os governadores de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e do Distrito Federal, Joaquim Roriz.
Apoiou a candidatura de Lula para presidente e do petista José Airton ao governo do Ceará. Tem bom trânsito também com o senador eleito Tasso Jereissati (PSDB-CE).
É o tesoureiro da Executiva Nacional do PMDB e não assinou, como presidente do diretório cearense, o requerimento para que uma convenção nacional da sigla decidisse sobre a participação no governo Lula, tirando poderes do comando partidário.
Havia preocupação do PT e da cúpula do PMDB com uma eventual reação de Itamar à indicação de um nome mineiro. Ele enviou sinais de que resistiria às indicações de Walfrido Mares Guia (PTB) e de Anderson Adauto (PL) para os ministérios do Turismo e dos Transportes.
Os cotados para o ministério de Lula evitaram dar declarações ontem. Eunício estava em Goiás, e Costa participou das negociações em Brasília e voou direto para Belo Horizonte sem falar com os jornalistas.
O presidente eleito anuncia hoje os novos nomes de sua equipe de governo, às 11h, em ato programado para o hotel Sofitel, na zona sul de São Paulo.


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