São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

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HERANÇA MILITAR

Ordens para incineração de arquivos do Araguaia também foram destruídas, segundo governo foi informado

Papéis foram queimados, reafirma Exército

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Comando do Exército comunicou na semana passada oficialmente ao governo que todos os seus documentos sobre mortes, desaparecimentos e eventuais torturas ocorridas durante a guerrilha do Araguaia (1972-1975) foram completamente destruídos anos atrás.
A informação chegou ao Palácio do Planalto depois de o governo ter sinalizado uma flexibilização pela abertura dos arquivos da ditadura e questionado formalmente o Exército sobre o tema.
O governo quis se certificar de que as informações muitas vezes relatadas pelo ex-ministro da Defesa José Viegas eram verídicas. Enquanto permaneceu no cargo (janeiro de 2003 a novembro de 2004), Viegas sustentou em seguidas entrevistas que todos os documentos do Exército sobre a guerrilha do Araguaia haviam sido incinerados. A base das declarações, segundo ele, eram do próprio comando da Força.
Em outubro passado, Viegas afirmou que o Exército ainda mantinha arquivos sobre perseguição e mortes durante a ditadura. Há informações sobre relatórios produzidos pelo CIE (Centro de Inteligência do Exército) desde 1964. Ontem, a Folha divulgou que alguns desses documentos foram parcialmente queimados na Base Aérea de Salvador neste ano.
Segundo a versão do Exército levada ao Planalto, não apenas os documentos, mas também as suas respectivas ordens de destruição foram incineradas. A informação foi dada ontem à Folha pelo ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Na semana passada, a Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas, composta por sete ministros, entre os quais o da Defesa, requisitou das Forças Armadas os arquivos relativos ao regime militar. Tratava-se de um jogo combinado, pois as Forças haviam sinalizado com a existência de documentos e com boa vontade para remetê-los à Casa Civil, que coordena a comissão.
A comissão volta a se reunir nesta semana para avaliar as respostas à solicitação de arquivos. O comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, assina hoje uma portaria no "Diário Oficial" criando um grupo para localizar os documentos no Sintaer (Sistema de Inteligência da Aeronáutica). A Polícia Federal também deve encaminhar inquéritos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) para a Casa Civil.
Por recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Comando do Exército não tem se manifestado publicamente sobre o tema. (EDUARDO SCOLESE e IURI DANTAS)


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