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HERANÇA MILITAR
Ordens para incineração de arquivos do Araguaia também foram destruídas, segundo governo foi informado
Papéis foram queimados, reafirma Exército
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Comando do Exército comunicou na semana passada oficialmente ao governo que todos os
seus documentos sobre mortes,
desaparecimentos e eventuais
torturas ocorridas durante a guerrilha do Araguaia (1972-1975) foram completamente destruídos
anos atrás.
A informação chegou ao Palácio
do Planalto depois de o governo
ter sinalizado uma flexibilização
pela abertura dos arquivos da ditadura e questionado formalmente o Exército sobre o tema.
O governo quis se certificar de
que as informações muitas vezes
relatadas pelo ex-ministro da Defesa José Viegas eram verídicas.
Enquanto permaneceu no cargo
(janeiro de 2003 a novembro de
2004), Viegas sustentou em seguidas entrevistas que todos os documentos do Exército sobre a guerrilha do Araguaia haviam sido incinerados. A base das declarações,
segundo ele, eram do próprio comando da Força.
Em outubro passado, Viegas
afirmou que o Exército ainda
mantinha arquivos sobre perseguição e mortes durante a ditadura. Há informações sobre relatórios produzidos pelo CIE (Centro
de Inteligência do Exército) desde
1964. Ontem, a Folha divulgou
que alguns desses documentos foram parcialmente queimados na
Base Aérea de Salvador neste ano.
Segundo a versão do Exército
levada ao Planalto, não apenas os
documentos, mas também as
suas respectivas ordens de destruição foram incineradas. A informação foi dada ontem à Folha
pelo ministro Nilmário Miranda,
da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Na semana passada, a Comissão
de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas, composta
por sete ministros, entre os quais
o da Defesa, requisitou das Forças
Armadas os arquivos relativos ao
regime militar. Tratava-se de um
jogo combinado, pois as Forças
haviam sinalizado com a existência de documentos e com boa
vontade para remetê-los à Casa
Civil, que coordena a comissão.
A comissão volta a se reunir
nesta semana para avaliar as respostas à solicitação de arquivos. O
comandante da Aeronáutica, Luiz
Carlos Bueno, assina hoje uma
portaria no "Diário Oficial" criando um grupo para localizar os documentos no Sintaer (Sistema de
Inteligência da Aeronáutica). A
Polícia Federal também deve encaminhar inquéritos do Dops
(Departamento de Ordem Política e Social) para a Casa Civil.
Por recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Comando do Exército não tem se
manifestado publicamente sobre
o tema.
(EDUARDO SCOLESE e IURI DANTAS)
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