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CAMPO MINADO
Depois do assassinato de três sem-terra e da reação violenta do MST, governo quer tirar de circulação armas ilegais
PF busca desarmamento em Pernambuco
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após o assassinato de três sem-terra na semana passada no interior de Pernambuco, o que resultou em reações violentas do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), o governo federal decidiu organizar uma ação
de desarmamento no Estado a
partir do próximo ano.
Os focos da Polícia Federal serão as milícias armadas por fazendeiros, os acampamentos de sem-terra e os assentamentos da reforma agrária. As ações terão o apoio
do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República.
Inicialmente, setores de inteligência da PF farão um levantamento dos focos de conflitos no
Estado para, em seguida, organizar incursões pontuais em busca
de armas ilegais.
Na semana passada, em Passira,
dois integrantes do MST foram
assassinados a tiros dentro de casa, na presença de familiares. Um
dia antes, outro agricultor foi
morto em São José da Coroa
Grande.
A reação do MST veio anteontem à tarde, em Passira, quando
seus integrantes invadiram a fazenda de um dos suspeitos de ter
ordenado o crime. Os sem-terra
destruíram a sede da propriedade
e mataram duas cabeças de gado
-levadas, em seguida, para os
acampamentos.
Ontem, à Folha, o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) e o secretário-executivo do
Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, ligaram a tensão
em Pernambuco ao ritmo de assentamentos da reforma agrária.
Ambos estiveram anteontem em
Passira no enterro dos sem-terra,
onde dois mandados de prisão
temporária já foram expedidos
pela Justiça local.
"Em primeiro lugar é preciso
acelerar a reforma agrária. O governo tem de aumentar as suas
ações. Isso, ao lado de medidas de
prevenção, pode atenuar a violência", disse Nilmário. Cassel foi na
mesma linha, ao ser questionado
sobre o tema: "Reforma agrária,
reforma agrária e reforma agrária.
Isso é importante para baixar o
nível de tensão".
Até agora, o governo Lula não
cumpriu nenhuma meta de assentamentos. Em 2003, prometeu
assentar 60 mil famílias, mas somente 36 mil foram beneficiadas.
No primeiro semestre deste ano,
21,7 mil famílias foram assentadas, diante de uma promessa de
47 mil. Até dezembro, a promessa
é de 115 mil famílias, mas até agora 55 mil foram beneficiadas.
Ontem, Cassel e Nilmário condenaram a forma de reação do
MST aos assassinatos. "O que eles
[o MST] fizeram foi errado, ilegal,
mas não se compara com os assassinatos. São coisas incomparáveis", disse Cassel. "São dois erros, mas não podemos comparar
uma ação de vandalismo com um
assassinato", afirmou Nilmário.
Neste ano, pelo menos 19 pessoas foram assassinadas em razão
de conflitos fundiários em todo o
país. No topo do ranking, com
cinco mortes cada, aparecem Pernambuco e Minas Gerais. Em
2003, segundo dados da Ouvidoria Agrária Nacional, foram 42
mortes no país decorrentes desse
tipo de conflito.
Ontem, a Secretaria Estadual da
Segurança Pública designou um
delegado especial para cuidar das
investigações do crime de Passira,
atendendo a pedido dos sem-terra. Na cidade, um agricultor
ameaçado de morte está sob proteção das polícias Civil e Federal.
"Já avisamos as autoridades locais que, caso as investigações não
ocorram de forma adequada, esse
caso poderá ser levado para a Justiça Federal", disse Nilmário, com
base na federalização dos crimes
contra os direitos humanos aprovada recentemente na reforma do
Judiciário.
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