São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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SEGUNDO MANDATO
Disputas políticas por espaço na equipe obrigam presidente a trocar organograma por "personograma'
Pressão destrói ministério ideal de FHC

da Sucursal de Brasília

O ministério que o presidente Fernando Henrique Cardoso vai anunciar na quarta-feira sairá bem diferente daquele planejado por ele durante a campanha da reeleição. Os nomes dos ministros, negociados com aliados, alteraram o formado idealizado por FHC.
Nas semanas em que se dedicou à montagem do segundo governo, FHC teve de ajustar o organograma ideal da Esplanada traçado por sua equipe ao "personograma", um termo usado por seus interlocutores mais próximos para indicar, justamente, as influências políticas pelo rateio do poder.
A idéia inicial de FHC era, mais uma vez, promover um enxugamento da máquina, tentando torná-la mais eficiente.
Mas, entre a teoria e a prática política, o presidente tem de agradar aos partidos que detêm votos no Congresso Nacional.
O maior exemplo é o Ministério do Desenvolvimento, idealizado como a principal novidade no segundo governo FHC.
Depois da divulgação do grampo no BNDES, a criação do ministério esteve ameaçada. Antes batizado de Ministério da Produção, teve de mudar de nome devido às resistências políticas à sua abrangência.
A definição final sobre o tamanho da nova pasta ainda depende de uma complicada operação de substituição do primeiro escolhido, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, que saiu em novembro.
Uma baixa já aconteceu. No formato inicial, o Ministério da Produção englobaria o Banco do Brasil. O ministério que de fato será criado, do Desenvolvimento, fica sem o banco hoje comandado por Paulo César Ximenes.
Outro exemplo é a criação do Ministério do Desenvolvimento Urbano. Idealizado durante a campanha presidencial, teve até seu orçamento indicado no programa de governo de FHC: R$ 40 bilhões nos próximos quatro anos para as áreas de habitação e saneamento.
O cálculo incluía não apenas dinheiro do Orçamento da União, mas da Caixa Econômica Federal e até da iniciativa privada.
A dificuldade é criar o posto sem criar atritos na base governista. A idéia era entregar o cargo ao PFL, mas não a qualquer pefelista. Então a criação da pasta, assim como o seu formato, chegou indefinida à reta final da montagem.
O definhamento do Desenvolvimento Urbano aconteceu com outra pasta imaginada pelos auxiliares de FHC: a da Infra-Estrutura, que resultaria da fusão dos ministérios dos Transportes, Minas e Energia e Comunicações.
O ministério seria destinado ao PMDB. O PFL, que ocupa hoje a pasta das Minas e Energia, resistiu. O presidente acabou recuando para ter mais cargos de ministros para distribuir.
Outra fusão também foi abandonada diante das pressões dos partidos aliados. O governo chegou a estudar a união do ministério da Educação com o da Ciência e Tecnologia. Desistiu.
Ontem pela manhã, FHC começou a fazer as últimas rodadas de conversações para definir o ministério do seu segundo mandato.
O primeiro a entrar no Palácio da Alvorada, às 11h15, foi o ministro Paulo Renato (Educação). Logo em seguida chegaram o vice Marco Maciel (PFL-PE) e o senador e presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Mais tarde, foi a vez do ministro José Serra (Saúde).
A Folha apurou que, se o PFL não ficar com a Ciência e Tecnologia, o presidente estuda a hipótese de colocar o empresário mineiro Stefan Salej, atual presidente da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), à frente da pasta.
O PFL admite ocupar a Ciência e Tecnologia, desde que a pasta incorpore as universidades federais.
O futuro Ministério do Desenvolvimento continua a ser objeto de discussões.
A diretora-superintendente da Companhia Siderúrgica Nacional, Maria Silvia, que já ocupou a diretoria da área internacional do BNDES, pode vir a assumir a presidência da instituição.
Celso Lafer, que está de volta ao país depois de chefiar a Delegação Permanente do Brasil junto a organismos da ONU, em Genebra (Suíça), pode vir a fazer parte do ministério do segundo mandato.



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