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JANIO DE FREITAS
Chão escorregadio
Talvez por esquecimento,
talvez por modéstia, a obra
ficou sem autoria definida publicamente. Mas quem pressentir a autoria de um certo marqueteiro tem mais chances de
acertar do que qualquer outro.
Reunião de governo para discutir providências impulsionadoras do crescimento econômico, nem passadas ainda 24 horas de outro aumento dos juros
oficiais, tem tudo de encenação
para abrandar climas de animosidade.
Do presidente ao reabastecedor dos copos, todos os presentes
à sala da reunião sabem, pelo
longo curso de oito anos, que juros altos são incompatíveis com
crescimento econômico e criadores de desemprego e de maiores desigualdades sociais. Além
desse conhecimento geral, a
convocação repentina de participantes, impondo alterações de
última hora nas agendas, também acusa o propósito propagandístico. Ou, não fosse isso,
tão contraditória urgência só se
explicaria por um surto de coerência do governo com as idéias
antes defendidas por seus integrantes. O que nem ao menos se
insinua.
O apelo ansioso à propaganda
fez, porém, uma revelação: Lula
e o governo sentem, afinal, que o
solo sob os seus tapetes de vitoriosos já não é o mesmo.
Aliança
A recusa do governo e da bancada petista a uma CPI dos
grampos baianos é explicada,
no Congresso e no Planalto, pelo
possível desvio das atenções parlamentares para o escândalo,
em detrimento da discussão de
reformas.
A explicação pode ser posta
em termos mais objetivos e verdadeiros: a CPI correria o risco
de não comprovar as acusações
a Antonio Carlos Magalhães,
mas não deixaria de atingir em
cheio o peemedebista Geddel
Vieira Lima e, pelo menos com
algum impacto, outros líderes
do PMDB, como Renan Calheiros.
A proteção aos peemedebistas
é uma das condições a que o governo vem cedendo, cada vez
mais, na sua duvidosa idéia de
que o PMDB fisiológico é necessário para a aprovação de reformas. A nova condição dos peemedebistas para se aliar ao governo são cargos na administração. E bons, naturalmente, do
ponto de vista fisiológico.
José Dirceu e outros na cúpula
do governo acham que não podem contar com 30 a 40 votos,
além dos que compõem a atual
base do governo, de deputados
do PSDB e do PFL. De onde vem
tal convicção, não se sabe. Reforma da Previdência e reforma
tributária dificilmente não colheriam votos nesses partidos. E
os deputados não-fisiológicos do
PMDB, se bem que minoritários
na bancada, por certo apoiariam reformas que não lhes tragam perdas eleitorais pesadas.
É esquisita a atração do governo pelo PMDB fisiológico.
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