UOL

São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Chão escorregadio

Talvez por esquecimento, talvez por modéstia, a obra ficou sem autoria definida publicamente. Mas quem pressentir a autoria de um certo marqueteiro tem mais chances de acertar do que qualquer outro.
Reunião de governo para discutir providências impulsionadoras do crescimento econômico, nem passadas ainda 24 horas de outro aumento dos juros oficiais, tem tudo de encenação para abrandar climas de animosidade.
Do presidente ao reabastecedor dos copos, todos os presentes à sala da reunião sabem, pelo longo curso de oito anos, que juros altos são incompatíveis com crescimento econômico e criadores de desemprego e de maiores desigualdades sociais. Além desse conhecimento geral, a convocação repentina de participantes, impondo alterações de última hora nas agendas, também acusa o propósito propagandístico. Ou, não fosse isso, tão contraditória urgência só se explicaria por um surto de coerência do governo com as idéias antes defendidas por seus integrantes. O que nem ao menos se insinua.
O apelo ansioso à propaganda fez, porém, uma revelação: Lula e o governo sentem, afinal, que o solo sob os seus tapetes de vitoriosos já não é o mesmo.

Aliança
A recusa do governo e da bancada petista a uma CPI dos grampos baianos é explicada, no Congresso e no Planalto, pelo possível desvio das atenções parlamentares para o escândalo, em detrimento da discussão de reformas.
A explicação pode ser posta em termos mais objetivos e verdadeiros: a CPI correria o risco de não comprovar as acusações a Antonio Carlos Magalhães, mas não deixaria de atingir em cheio o peemedebista Geddel Vieira Lima e, pelo menos com algum impacto, outros líderes do PMDB, como Renan Calheiros.
A proteção aos peemedebistas é uma das condições a que o governo vem cedendo, cada vez mais, na sua duvidosa idéia de que o PMDB fisiológico é necessário para a aprovação de reformas. A nova condição dos peemedebistas para se aliar ao governo são cargos na administração. E bons, naturalmente, do ponto de vista fisiológico.
José Dirceu e outros na cúpula do governo acham que não podem contar com 30 a 40 votos, além dos que compõem a atual base do governo, de deputados do PSDB e do PFL. De onde vem tal convicção, não se sabe. Reforma da Previdência e reforma tributária dificilmente não colheriam votos nesses partidos. E os deputados não-fisiológicos do PMDB, se bem que minoritários na bancada, por certo apoiariam reformas que não lhes tragam perdas eleitorais pesadas.
É esquisita a atração do governo pelo PMDB fisiológico.


Texto Anterior: Governo tem controle sobre preços, diz ANP
Próximo Texto: Igreja x Governo: "Juros exaurem riquezas do país", diz CNBB
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.