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FHC se compara a JK e diz que ele era "conciliador por natureza"
WILLIAM FRANÇA
DANIELA NAHASS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso dedicou 25 minutos
ontem para elogiar a gestão do ex-presidente Juscelino Kubitschek
(1956-1960) e fazer várias comparações entre o governo dele e seu
atual mandato. FHC disse que JK
tinha "apurado juízo político" e
afirmou que queria "ter o ânimo
que teve Juscelino, que, mesmo
diante de imensas dificuldades,
não perdeu o rumo".
Os elogios foram feitos durante
discurso no Memorial JK, em cerimônia de posse da comissão que
vai cuidar das comemorações dos
cem anos do nascimento de Juscelino, a serem comemorados no
dia 12 de setembro de 2001.
O presidente disse que JK conseguiu reunir em torno de seu
programa de governo uma boa
base parlamentar. "Confortável,
mesmo", afirmou FHC, dizendo
em seguida que essa base "faltou
aos seus sucessores" -sem se excluir do grupo.
"Ele (JK) era tolerante, sabia
dialogar e não guardava ressentimentos. Considerava-se, como
chegou a dizer uma vez, "conciliador por natureza'", disse o presidente. Segundo ele, Juscelino Kubitschek "conseguiu êxitos extraordinários à reafirmação do
desenvolvimento e da democracia" por causa da sua história de
"herói de um povo".
FHC elogiou as iniciativas de
Juscelino no campo externo, como a operação Pan-Americana,
que buscava colocar o Brasil numa posição mais destacada na política internacional hemisférica.
"E agora, a continuidade disso",
disse o presidente, em referência
ao Mercosul e à formação da Alca.
Também fez menções ao fato de
JK ter atraído o capital estrangeiro
para investimentos em transportes e em energia, além do incentivo à indústria de base e à de bens
de consumo duráveis, particularmente a indústria automobilística. "Ele investiu com muita força,
mas temendo o risco de o Estado
ser um Leviatã absorvente."
Privatizações
"O importante, dizia Juscelino,
era que o Estado aprimorasse sua
capacidade de planejamento e
que soubesse utilizar os incentivos de que dispunha para assegurar a participação do capital privado em obras de interesse público", disse FHC, numa referência
indireta às privatizações que marcam o seu atual governo.
FHC disse que, "por pioneiro
que fosse, JK não se arrogava posições antagônicas". "Reconhecia
que o desenvolvimento começara
com Getúlio Vargas (...) e eu acho
isso importante: construir o novo
a partir do existente", disse o presidente. "Só Deus pode construir
o novo a partir do nada."
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, que nos anos
70 fez sua tese de doutorado com
base no Plano de Metas de JK, o
chamado "50 anos em 5", disse
que vê muitas semelhanças entre
as ações do ex-presidente e as de
FHC. "Especialmente o projeto
Avança, Brasil e essa nova agenda
de trabalho para o biênio final",
afirmou. "Elas têm a mesma concepção e o mesmo propósito."
Peixe Vivo
Antes de discursar, FHC ouviu
por quase 20 minutos uma série
de apresentações com músicas
que lembravam Minas Gerais ou
o período de JK. Em algumas, como as apresentadas pela cantora
lírica Maria Lúcia Godoy -amiga de JK-, o presidente batucou
os dedos na mesa, acompanhando a melodia. Noutras, como as
apresentadas pelo coral Arte Miúda, de crianças de Diamantina (cidade natal de Juscelino), FHC
cantou parte da letra.
A última peça apresentada foi
"Peixe Vivo", música do cancioneiro popular mineiro e a preferida por Juscelino Kubitschek.
Fernando Henrique Cardoso
gostou tanto da apresentação que,
ao final do evento, juntou-se às
crianças e pediu a elas que repetissem a canção. Cantou parte da
cantiga com elas, batendo palmas.
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