São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC se compara a JK e diz que ele era "conciliador por natureza"

WILLIAM FRANÇA
DANIELA NAHASS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso dedicou 25 minutos ontem para elogiar a gestão do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) e fazer várias comparações entre o governo dele e seu atual mandato. FHC disse que JK tinha "apurado juízo político" e afirmou que queria "ter o ânimo que teve Juscelino, que, mesmo diante de imensas dificuldades, não perdeu o rumo".
Os elogios foram feitos durante discurso no Memorial JK, em cerimônia de posse da comissão que vai cuidar das comemorações dos cem anos do nascimento de Juscelino, a serem comemorados no dia 12 de setembro de 2001.
O presidente disse que JK conseguiu reunir em torno de seu programa de governo uma boa base parlamentar. "Confortável, mesmo", afirmou FHC, dizendo em seguida que essa base "faltou aos seus sucessores" -sem se excluir do grupo.
"Ele (JK) era tolerante, sabia dialogar e não guardava ressentimentos. Considerava-se, como chegou a dizer uma vez, "conciliador por natureza'", disse o presidente. Segundo ele, Juscelino Kubitschek "conseguiu êxitos extraordinários à reafirmação do desenvolvimento e da democracia" por causa da sua história de "herói de um povo".
FHC elogiou as iniciativas de Juscelino no campo externo, como a operação Pan-Americana, que buscava colocar o Brasil numa posição mais destacada na política internacional hemisférica. "E agora, a continuidade disso", disse o presidente, em referência ao Mercosul e à formação da Alca.
Também fez menções ao fato de JK ter atraído o capital estrangeiro para investimentos em transportes e em energia, além do incentivo à indústria de base e à de bens de consumo duráveis, particularmente a indústria automobilística. "Ele investiu com muita força, mas temendo o risco de o Estado ser um Leviatã absorvente."

Privatizações
"O importante, dizia Juscelino, era que o Estado aprimorasse sua capacidade de planejamento e que soubesse utilizar os incentivos de que dispunha para assegurar a participação do capital privado em obras de interesse público", disse FHC, numa referência indireta às privatizações que marcam o seu atual governo.
FHC disse que, "por pioneiro que fosse, JK não se arrogava posições antagônicas". "Reconhecia que o desenvolvimento começara com Getúlio Vargas (...) e eu acho isso importante: construir o novo a partir do existente", disse o presidente. "Só Deus pode construir o novo a partir do nada."
O ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, que nos anos 70 fez sua tese de doutorado com base no Plano de Metas de JK, o chamado "50 anos em 5", disse que vê muitas semelhanças entre as ações do ex-presidente e as de FHC. "Especialmente o projeto Avança, Brasil e essa nova agenda de trabalho para o biênio final", afirmou. "Elas têm a mesma concepção e o mesmo propósito."

Peixe Vivo
Antes de discursar, FHC ouviu por quase 20 minutos uma série de apresentações com músicas que lembravam Minas Gerais ou o período de JK. Em algumas, como as apresentadas pela cantora lírica Maria Lúcia Godoy -amiga de JK-, o presidente batucou os dedos na mesa, acompanhando a melodia. Noutras, como as apresentadas pelo coral Arte Miúda, de crianças de Diamantina (cidade natal de Juscelino), FHC cantou parte da letra.
A última peça apresentada foi "Peixe Vivo", música do cancioneiro popular mineiro e a preferida por Juscelino Kubitschek.
Fernando Henrique Cardoso gostou tanto da apresentação que, ao final do evento, juntou-se às crianças e pediu a elas que repetissem a canção. Cantou parte da cantiga com elas, batendo palmas.



Texto Anterior: Aliados em crise: FHC usa ameaça econômica para contornar crise política
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.