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AGENDA PETISTA
Em troca de apoio, governo concorda com renegociação de dívidas com a União, que trancava pauta no Congresso
Oposição vence, e governo aceita novo Refis
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após nove reuniões formais e
mais de dois meses de negociação, o governo cedeu à pressão da
oposição em troca de apoio no
Congresso e aceitou ontem abrir
um amplo programa de renegociação para empresas e pessoas físicas em débito com a União.
A medida significa uma vitória
do bloco formado pelos oposicionistas PFL, PSDB e PPB, acrescido
pelo até agora "neutro" PMDB.
Esses partidos exigiam a abertura do programa em condições
atraentes para as empresas, o que
deve ocorrer, mas esbarravam na
resistência do governo, contrário
à idéia. Como forma de mostrar
força, obstruíram várias votações
na Câmara desde o Carnaval.
Pela proposta que o governo
apresentou aos oposicionistas
-elaborada pelos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e
José Dirceu (Casa Civil)-, serão
dois novos Refis -antigo programa de socorro que teve prazo de
adesão encerrado em 2000-,
com regras diferenciadas para as
pessoas físicas e as empresas.
Para as pessoas físicas e as micro
e pequenas empresas, a renegociação não terá prazo limite e as
parcelas mensais, com limites mínimos que vão de R$ 100 a R$ 200,
serão corrigidas pela TJLP em vez
da Selic, que vem tendo variação
quase 100% maior do que a TJLP.
Para as demais empresas, deve
ser estabelecido um prazo de 18
anos para a renegociação do débito, correção pela TJLP e parcela
mínima de R$ 2.000. Para todos
os que aderirem, haverá abatimento de 50% do valor da multa
resultante da inadimplência. O
programa deve entrar em vigor
por meio de medida provisória.
"Lula é contra [o programa],
mas é uma realidade que herdamos", disse o deputado Professor
Luizinho (PT-SP), um dos que lideraram, pelo governo, as negociações. O governo resistia em ceder à pressão por achar que a reabertura do Refis estimularia a inadimplência, já que pode passar a
impressão de que haverá sempre
um socorro aos inadimplentes.
O objetivo inicial do Planalto
era fazer um Refis "atraente" apenas para as micro e pequenas empresas, criando regras bem mais
rígidas para as demais, como, por
exemplo, o pagamento à vista de
20% do valor total da dívida no
momento de adesão ao programa, proposta que foi derrubada
durante as negociações.
Apesar de o Planalto ter cedido
em vários pontos, alguns oposicionistas ainda não se sentiam satisfeitos e afirmaram que vão
apresentar emendas à MP quando ela for enviada ao Congresso.
"Reconhecemos que houve
avanços, mas não fechamos acordo. Diria que acertamos 70% da
questão", disse o pepebista Augusto Nardes (RS), um dos principais porta-vozes do grupo.
"Deixamos claro que emendas
que forem apresentadas sem
acordo com o governo serão vetadas", disse Luizinho. PFL, PSDB,
PPB e PMDB têm, na Câmara, 253
deputados, 49,3% do total, número necessário para inviabilizar
quase todas as votações da Casa.
O episódio mostra que o PMDB,
que fechou questão com a oposição no caso, é peça importante
para o governo garantir os votos
necessários para a aprovação das
reformas. O partido negocia desde a formação do ministério a
adesão formal à base de sustentação do Planalto.
Além dos novos Refis, ficou
acertado também que alguns setores da economia, como as auto-escolas e as escolas de ensino infantil e fundamental, serão incluídas no Simples, sistema simplificado de tributação.
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