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Lula tenta hoje fechar com PMDB
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após várias idas e vindas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
deve formalizar hoje uma proposta concreta para o PMDB participar da base de sustentação do governo, em almoço com os dirigentes do partido no Palácio do
Planalto. A falta de maioria congressual segura para provar as reformas é o que está levando o governo a acelerar a aproximação.
Na ponta do lápis, os partidos
governistas contam atualmente
com 253 votos na Câmara e 32 no
Senado, número insuficiente para
a aprovação de emendas constitucionais, o que requer quórum
qualificado de três quintos dos
votos -ou seja, 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores.
Graças a apoios de que dispõe
no PMDB e no PPB, estimados
em cerca de 50% em cada sigla, líderes partidários admitem que o
Planalto possa efetivamente contar com os votos de 310 a 320 deputados e de 46 senadores.
Na Câmara, seriam votos suficientes para aprovar emenda
constitucional, mas a margem de
manobra é muito reduzida para
uma base de sustentação política
heterogênea, que vai do deputado
Babá (PT-PA), radical de esquerda, ao deputado Jair Bolsonaro
(PTB-RJ), que se situa no outro
extremo do espectro político.
A integração do PMDB e do
PPB à coalizão governista daria
tranquilidade ao Planalto, que
formalmente passaria a contar
com 360 votos. No governo e na
oposição avalia-se que Lula contará com um PMDB mais unido
do que contou o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, que
dispunha do apoio de algo em
torno de 60% da sigla.
O ingresso do PPB na base governista é incerto, mas Lula desde
já conta com pelo menos 50% dos
44 votos do partido. O PMDB,
apesar do esforço feito por seus
dirigentes para evitar excesso de
expectativa, deve aderir progressivamente, num processo que levará o partido a assumir um ministério na primeira dança das cadeiras no governo, provavelmente no segundo semestre.
A curto prazo, Lula deve propor
a participação da sigla em fóruns
encarregados da formulação dos
políticas governamentais. Mas o
PMDB tem pleitos específicos,
que devem ser atendidos. Um deles é o comando do setor da Petrobras encarregado dos transportes.
O PT também reservou cargos federais nos Estados para atender
os congressistas.
Percalços
Contrariados pelo fato de negociações anteriores terem sido concluídas e depois reabertas, dirigentes peemedebistas tratam com
cautela a nova ofensiva palaciana.
Tentam não demonstrar ansiedade em participar do governo, certos de que a necessidade de ter o
apoio da sigla é maior a cada percalço do governo no Congresso.
Exemplos claros foram as dificuldades que o partido criou na
negociação dos vetos à MP 66,
que permitia a renegociação de
dívidas de grandes empresas, na
votação da MP do futebol e do
projeto que regulamenta o artigo
192 da Constituição (sistema financeiro). A importância do
apoio do PMDB, no que se refere
ao artigo 192, é realçada pelo fato
de parte da base formal governo
-PDT, PPS, PSB e um pedaço do
PT- ser contrária ao projeto que
é apoiado pelo Planalto.
A cooptação do PMDB é importante para o governo por sinalizar
maioria parlamentar segura, inclusive para efeitos externos- é
um dos itens do chamado risco
Brasil. No Congresso, mesmo no
PSDB e PFL, avalia-se que Lula
tem condições de aprovar as reformas, mesmo com a atual base
parlamentar, por se tratar de uma
agenda convergente.
"Já não se discute mais se o almoço será para vegetarianos ou
carnívoros. É churrasco. Resta saber se bem ou mal passado", afirma o cientista político Murilo
Aragão, da Arko Advice, dona de
uma carteira pontilhada de bancos estrangeiros.
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