São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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Depoimento teve bate-boca, mas acabou com tapinhas nas costas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um Márcio Thomaz Bastos frio, mas com algumas explosões que surpreenderam deputados, foi submetido a momentos de constrangimento durante quase oito horas de depoimento, com cerca de 40 perguntas.
O clima de cordialidade que se anunciava acabou não se confirmando. A sessão chegou a ser interrompida por um bate-boca.
O momento de maior embaraço para o ministro veio numa pergunta do deputado João Almeida (PSDB-BA). "Ministro, eu me meti numas trapalhadas lá na Bahia e preciso de um advogado. Será que o sr. não me arruma?"
Era referência a uma frase dita pelo ministro de que freqüentemente consegue advogados a quem pede. O presidente da sessão, Sigmaringa Seixas (PT-DF), interveio e Bastos não respondeu.
Ao ouvir do líder do PSDB, Jutahy Júnior (BA), que o governo montou uma operação para desmoralizar o caseiro Francenildo Costa, Bastos disse que seu interlocutor estava sendo "preconceituoso". "O que V. Exa. fez aqui foi um discurso dentro de um clima de disputa política."
Em seguida, irritou-se com Rodrigo Maia (PFL-RJ), que questionou a afirmação do ministro de que "queimou as pontes com a iniciativa privada". Para Bastos, Maia fez um "libelo baseado em recortes de jornais". Depois, pediria desculpas, dizendo que se exaltara pela falta de intimidade com o Parlamento.

Gentilezas
Após uma hora de sessão, os atritos deram lugar a perguntas educadas e gentilezas protocolares. Desatento, Vicente Arruda (PSDB-CE) causou gargalhadas ao chamar o caseiro de "porteiro". Tentou se corrigir, mas acabou referindo-se a ele como "carteiro". Seguiram-se novas risadas.
Sentado de costas para um quadro mostrando Tiradentes diante de seus carrascos, Bastos socorria-se de seu assessor Marcelo Behar, ao seu lado, para checar dados. Algumas vezes pedia encorajamento. "Fui bem? Fui bem?"
Entrando na segunda metade da sessão, o clima era de tédio -logo interrompido por uma troca de impropérios entre os pernambucanos Fernando Ferro (PT) e Roberto Magalhães (PFL).
O petista elencava denúncias de corrupção no governo tucano quando foi interrompido por Magalhães. "V. Exa. está fazendo discurso de comício, de panfleto." Ao acusar Ferro de agir de forma "ditatorial", Mahalhães provocou o petista. "Ditadura quem serviu foi V. Exa. quando líder do PDS [sucessor da Arena, partido de sustentação do regime militar]!"
Ferro e Magalhães, de pé e aos gritos, iniciaram troca de insultos. A sessão foi interrompida.
O tucano Alberto Goldman (SP) comparou o presidente Lula e o ex-ministro Antonio Palocci a Macunaíma, o "herói sem caráter" da obra de Mário de Andrade. "V. Exa. está extrapolando", disse Sigmaringa, que mandou retirar a expressão da ata.
No final, Bastos foi agraciado com um depoimento elogioso de Francisco Escórcio (PMDB-MA), que disse estar com o "espírito cheio de felicidade" por encontrá-lo. A sessão acabou com todos trocando tapinhas nas costas. (FZ E MS)


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