São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES
Na análise de malufistas, motivo de candidatura é manter força eleitoral para concorrer ao governo do Estado
Pesquisa de Maluf prevê derrota em SP

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Definido em pesquisa do PPB, o objetivo principal da candidatura de Paulo Maluf à Prefeitura de São Paulo é sobreviver politicamente. Fará uma campanha dura contra os adversários a fim de tentar melhorar sua imagem, em uma espécie de "primeiro turno" da eleição ao governo paulista de 2002. Inimigos preferenciais: PSDB e PT.
A pesquisa em que Maluf se baseou para sair candidato tem quatro conclusões principais: 1) é remota a chance de se eleger prefeito; 2) seu único ponto forte, hoje, é segurança pública; 3) precisa falar para o eleitorado que aceita "o rouba mas faz"; e 4) se deixasse de disputar (o que significa defender-se das acusações de corrupção), perderia força para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, meta que nunca escondeu lhe interessar mais do que a prefeitura.
O trabalho foi coordenado pelo norte-americano Mark Weiner, que trabalha com James Carville, marqueteiro que já fez trabalhos anteriores para o malufismo e é um dos responsáveis pela imagem do presidente norte-americano, Bill Clinton. Um auxiliar de Maluf relatou à Folha os principais pontos da pesquisa.
Na verdade, foram duas pesquisas. Uma primeira, chamada qualitativa, na qual se ouvem grupos pequenos de eleitores com perfil definido. A partir dela, Weiner elaborou um questionário para o levantamento quantitativo, cujo trabalho de campo ficou a cargo do Instituto Vox Populi. Depois, fez uma avaliação para Maluf e um grupo reduzido de pepebistas.
Maluf aparece com 17% no levantamento, situação melhor do que a aferida pelo Datafolha, que lhe deu 13%. Weiner considera que é difícil, mas possível, elevar essa taxa até os 25%, o que, em tese e com sorte, daria chance a Maluf de ir para o segundo turno.
Na segunda fase da eleição, porém, perderia para Marta Suplicy (PT) e Luiza Erundina (PSB) e até para um candidato tucano, o vice-governador Geraldo Alckmin. Ou seja: pode influir e atrapalhar candidatos, mas não ganhar.
O principal atributo que restou a Maluf é o da "segurança pública". Aparece como firme, decidido e "capaz de enfrentar os bandidos". Ganha de Covas, que tem na área o seu calcanhar-de-aquiles.
Por recomendação do marqueteiro, o eleitorado que aceita candidato "rouba mas faz" será a prioridade do começo da campanha. Maluf deve dar argumentos a essa fatia de eleitores (em torno de 20%) para que o defendam e tentem recuperar votos que um dia já foram seus.
Em 1998, a campanha malufista ao governo paulista cunhou o "Maluf não é santo, mas faz". Uma variação desse lema deve nortear a propaganda de campanha, sem ser tão explícito.
O PSDB de Covas e o PT de Marta devem sofrer bombardeio pesado do malufismo de formas diferentes. Maluf tentará questionar mais a honra de Covas, mas tentará mostrar a suposta incompetência do tucano para lidar com a segurança pública.
O PPB prepara um dossiê contra o filho do governador, Mário Covas Jr., o Zuzinha. A idéia é tentar mostrar que não só Maluf, mas outros políticos podem ser vítimas de uma enxurrada de acusações de corrupção. Ou seja: quer jogar todo mundo na lama.
Maluf pretende atacar a falta de experiência administrativa de Marta, dizendo que o PT (e especialmente ela) não está preparado para enfrentar os problemas que serão herdados de Celso Pitta.
Pitta, aliás, será tratado como um "ingrato" e "incompetente". Maluf assumirá a culpa por tê-lo eleito. Pedirá desculpas, dizendo que também é uma vítima, mas que está disposto a consertar o estrago. A abordagem do tema Pitta já virou folclore no PPB. Brincam que o slogan de Maluf deveria ser "Se sujei, deixe eu limpar".
O malufismo também atirará nas bandeiras polêmicas da ex-deputada federal Marta Suplicy, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
A intenção é indispor Marta com os eleitores conservadores do centro à centro-direita.
Maluf não poupará Luiza Erudina (PSB), mas deve desferir menos ataques diretos a ela.
Disse a auxiliares que prefere perder para a ex-prefeita do que para o PT e o PSDB.
A campanha malufista crê que basta fazer um paralelo entre as duas gestões. Maluf, que governou a capital entre 1993 e 1996, sucedeu Erundina, que administrou entre 1989 e 1992.
O ex-prefeito venderá que sua administração continuou obras paralisadas na gestão Erundina, tentando mostrar que saiu do governo com índices de avaliação superiores aos da ex-prefeita.

Coordenadores
A Folha apurou que já foram definidos os principais coordenadores da campanha de Maluf.
Jesse Ribeiro, que cuidou das ações de rua das últimas campanhas malufistas, acumulará essa função com a que era exercida por Calim Eid, pagador de despesas de campanha. Eid morreu no ano passado.
A arrecadação de recursos, função que Eid também desempenhava, deve ficar a cargo de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, e do empresário e especulador financeiro Naji Nahas. Maluf também atua como arrecadador.
O ex-deputado Marcelino Machado Romano, ex-presidente do PPB paulista, deve ser o coordenador político.


Texto Anterior: Pittagate: Exame diz que grafia não deve ser de prefeito
Próximo Texto: Rejeição é de 70%, segundo o Datafolha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.