São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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"Vida é sempre arriscada", diz João Paulo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Momentos antes de decidir colocar em votação a proposta que, se aprovada, lhe permitiria a reeleição, o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), ilustrou em uma frase, dita durante uma parada para o café, a situação que vivia na noite de anteontem: "A vida é sempre arriscada". Ontem, ele deu apenas uma declaração informando que o assunto está encerrado.
Aconselhado por aliados a não confiar no quórum de 440 deputados (eram necessários 308 votos para a aprovação da emenda), João Paulo não quis estender o embate que durava meses e acabou derrotado por cinco votos.
Anunciado o resultado, o deputado se reuniu com os colegas mais próximos em seu gabinete e permaneceu por lá até 1h da madrugada de ontem.
João Paulo e aliados comentaram sobre deputados que teriam prometido o voto pró-reeleição e, na última hora, mudaram de lado. Comentou-se a atuação do secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, na virada de votos no PMDB e na bancada evangélica. O PSB e o PDT também mereceram comentários.
Mapa feito em seu gabinete momentos antes da votação indicava apenas 296 votos a favor. Os aliados apostavam na virada de 5 votos do PT, 5 do PFL e 2 do Prona, somando os exatos 308 que eram precisos. João Paulo chegou a assumir a condução da sessão para que o vice-presidente Inocêncio Oliveira (PFL-PE) pudesse votar.
A reunião no gabinete do presidente da Câmara terminou com uma rodada de piadas em meio à transmissão de jogos da Copa Libertadores. No final, as gargalhadas podiam ser ouvidas do lado de fora. No gabinete, João Paulo recebia os deputados servindo o vinho chileno Concha y Toro.
Os cerca de dez deputados que estavam no gabinete do presidente ensaiaram uma saída honrosa para ele e o escoltaram até o carro, em sinal de amparo. O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) anunciou na calçada: "Só tenho a dizer uma coisa. O próximo presidente é João Paulo Cunha".
Ao deixar o gabinete, João Paulo disse que estava "tudo tranqüilo". Ele descartou votar novamente a proposta de emenda constitucional que permitiria a reeleição. Na única declaração que deu ontem, o deputado repetiu a avaliação: "O assunto está politicamente encerrado. (...) A vida da Câmara continua, e as nossas também".
Apesar da aparente desistência, alguns aliados de João Paulo afirmaram que a proposta de reeleição pode voltar a ser discutida após as eleições municipais. (FERNANDA KRAKOVICS E RANIER BRAGON)

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