São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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PROTESTO
PM de governo petista reage a tentativa de invasão com bombas, e manifestantes revidam com pedaços de grade
Confronto em Brasília deixa 22 feridos

Folha e do enviado especial

Participantes da Jornada Nacional por Emprego e Direitos Sociais entraram ontem em confronto com a Polícia Militar, no pior conflito ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso em Brasília.
Pelos menos 20 manifestantes e 2 PMs ficaram feridos. O confronto durou cerca de 40 minutos e envolveu, no seu auge, cerca de 200 manifestantes e 300 policiais.
O confronto começou às 15h25, quando cerca de dez manifestantes derrubaram as grades de proteção colocadas em frente ao gramado do Congresso Nacional. Entre eles estavam militantes do PC do B, do PSTU, da Corrente Sindical Classista e do MNLM (Movimento Nacional de Luta por Moradia).
Os feridos foram atendidos nos postos médicos da Câmara dos Deputados e do Senado e pelo Hospital de Base de Brasília.
Quando as grades de proteção foram derrubadas, a tropa de choque chegou e começou a disparar bombas de efeito moral, balas de borracha e granadas de gás lacrimogêneo. Os militantes arrancaram, então, pedaços das grades e os atiraram sobre os policiais.
Ao todo, a jornada reuniu 20 mil manifestantes, segundo a PM. Os organizadores falaram em 25 mil pessoas. O esquema de segurança, montado pelo governo do Distrito Federal -que é chefiado pelo petista Cristovam Buarque-, contou com 540 policiais na Esplanada dos Ministérios.
Até o fim da tarde, um policial, atingido na cabeça por uma barra de ferro, permanecia em observação no posto médico da Câmara. Os demais atendidos haviam sido liberados depois de medicados.
No Hospital de Base de Brasília, onde 11 feridos foram atendidos, apenas o professor Iremar Gomes Leite permanecia hospitalizado ontem à noite. Ele corre o risco de perder a visão.

Prisões
A Secretaria da Segurança Pública informou ontem, às 18h, que três pessoas haviam sido detidas por estarem embriagadas e tumultuando a manifestação. Elas teriam sido liberadas depois de passar a embriaguez.
Houve apenas uma prisão. Um menor, de 15 anos, vindo de Araxá (MG), foi preso em flagrante por portar bombas de fabricação caseira. Até o início da noite, ele aguardava um responsável para ser encaminhado ao Juizado da Infância e da Adolescência.
O menor disse, em depoimento, que havia sido recrutado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de Araxá. Ele e outras cerca de cem pessoas vieram em dois ônibus onde haveria "pedras, porretes e coquetéis molotov (bombas)".

Cavalaria
O presidente nacional da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e vários parlamentares do PT e do PC do B se colocaram entre os manifestantes e a polícia, numa tentativa de acabar com o conflito. Não tiveram sucesso.
A polícia avançava sobre grupos de manifestantes sempre que identificava um foco de tumulto. Os militantes passaram a ocupar também o eixo monumental, em frente ao Ministério da Justiça, de onde atiravam objetos nos PMs.
A cavalaria e um carro Brucutu avançaram pela avenida, tentando dispersar o grupo. Cerca de dez "punks" lideraram o enfrentamento com os policiais. Um deles baixou as calças, provocando novos disparos de bombas de gás. Foi jogado um coquetel molotov próximo à tropa de choque, mas o fogo não atingiu ninguém.
O presidente da CUT do DF, José Zunga, tentou proteger um militante que era perseguido por PMs e foi golpeado com cassetete. Com dificuldades de respirar, Zunga ficou estirado no chão e saiu carregado por militantes da CUT.
Durante o conflito, alguns policiais desembainharam os sabres e golpearam pessoas que resistiam ao avanço dos cavalos. Os militantes tentaram impedir a ação da polícia, jogando pedras, pedaços de pau e latas de refrigerantes.



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