São Paulo, Sexta-feira, 21 de Maio de 1999
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MINISTÉRIO
Governo trabalha para que o presidente da instituição, Enrique Iglesias, vá para OMC; ministro poderia substituí-lo
Saída de Iglesias pode levar Malan ao BID

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Ainda que de modo discreto, o governo do Brasil está trabalhando para fazer de Enrique Iglesias, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio.
Entre os muitos motivos que tem para agir assim está o de que esse movimento abriria a possibilidade de eleger um brasileiro para a presidência do BID, talvez o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Todas as vezes em que circulam boatos sobre a saída de Malan do ministério, menciona-se algum posto para ele em Washington.
O ministro morou na capital dos EUA entre 1986 e 1993, como diretor do Brasil no BID e no Banco Mundial, além de coordenador brasileiro das negociações da dívida externa do país. Ele e a família não escondem o gosto pela cidade.
A presidência do BID, que é sediado em Washington, seria uma saída natural para Malan ao deixar o ministério. Mas não é um cargo disponível a qualquer momento.
Iglesias ainda não chegou ao meio de seu terceiro mandato de quatro anos. Ele chegou a articular sua candidatura à direção-geral da OMC, há quatro anos. Mas, depois que a escolha recaiu sobre o italiano Renato Ruggiero, desistiu.
Agora tem dito, a quem o procura para que tente de novo conquistar o posto, que não mexerá um dedo para o obter. Mas também tem dito que, se seu nome surgir como única saída para o impasse atual da OMC, pode aceitar.
A OMC está sem liderança há três semanas. No dia 30 de abril acabou o mandato de Ruggiero.

Disputa
Dois candidatos disputam sua sucessão: o ex-primeiro-ministro da Nova Zelândia Mike Moore e o vice-primeiro-ministro da Tailândia, Supachai Panitchpakdi.
Moore tem o apoio dos EUA, da Europa e de alguns países latino-americanos, inclusive da Argentina.
Panitchpakdi está sendo endossado pelos países da Ásia, a maioria dos africanos e alguns da América Latina, inclusive o Brasil.
A OMC só decide por consenso. No caso, parece impossível atingi-lo. Os debates entre partidários do tailandês e do neozelandês azedaram, embora ninguém diga com clareza os seus motivos para apoiar um ou outro candidato.
O que parece estar por trás da divisão é o problema da proteção ambiental e trabalhista nas discussões da Rodada do Milênio, reunião de cúpula sobre o comércio mundial a ser realizada a partir de novembro.
Os países desenvolvidos, em especial os EUA, querem embutir nos acordos de comércio exigências para que todos adotem leis trabalhistas e ambientais similares às vigentes no Primeiro Mundo.
Muitos países em desenvolvimento acham que esse tipo de instância constitui protecionismo comercial disfarçado, não uma tentativa de proteger o ambiente ou os direitos de trabalhadores.
Por esse raciocínio, a súbita adoção de leis trabalhistas e ambientais pelos países em desenvolvimento encareceria muito seus produtos e os prejudicaria na concorrência com os desenvolvidos.
Os apoiadores de Panitchpakdi desconfiam que Moore tenha obtido o suporte de EUA e Europa em troca de compromisso de favorecer a tese da exigência das cláusulas ambientais e trabalhistas.
Iglesias seria uma saída perfeita para a enrascada da OMC, que perde prestígio e poder a cada dia que passa sem diretor, num momento em que EUA e Europa se digladiam em debates muito difíceis sobre bananas, carne, aviões e vinhos, que podem pôr em risco a estrutura do comércio mundial.
O presidente do BID é bem-visto por Washington e por toda a América Latina. A Europa, via Reino Unido, vetou seu nome quando sugerido pelos EUA para a OMC em 1998. Mas, agora, talvez não tenha saída senão aceitá-lo.
Para o Brasil, Iglesias seria uma ótima opção. Seus vínculos com o país são antigos e muito fortes.
O porta-voz do ministro Malan, Marcelo Pontes, disse ontem que a possibilidade de sua ida para o BID é "mera especulação".
Mas não há dúvidas de que ela seria interessante para o país e para ele mesmo. Nunca um brasileiro presidiu o BID, que ganhou muita importância nos últimos dez anos.
O BID emprestou US$ 10 bilhões em 1998 e US$ 240 bilhões nos seus 40 anos de existência.
É uma instituição ágil, respeitada, tanto em termos sociais como acadêmicos.


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