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MINISTÉRIO
Governo trabalha para que o presidente da instituição, Enrique Iglesias, vá para OMC; ministro poderia substituí-lo
Saída de Iglesias pode levar Malan ao BID
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Ainda que de modo discreto, o
governo do Brasil está trabalhando
para fazer de Enrique Iglesias, presidente do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), o novo
diretor-geral da Organização
Mundial do Comércio.
Entre os muitos motivos que tem
para agir assim está o de que esse
movimento abriria a possibilidade
de eleger um brasileiro para a presidência do BID, talvez o ministro
da Fazenda, Pedro Malan.
Todas as vezes em que circulam
boatos sobre a saída de Malan do
ministério, menciona-se algum
posto para ele em Washington.
O ministro morou na capital dos
EUA entre 1986 e 1993, como diretor do Brasil no BID e no Banco
Mundial, além de coordenador
brasileiro das negociações da dívida externa do país. Ele e a família
não escondem o gosto pela cidade.
A presidência do BID, que é sediado em Washington, seria uma
saída natural para Malan ao deixar
o ministério. Mas não é um cargo
disponível a qualquer momento.
Iglesias ainda não chegou ao
meio de seu terceiro mandato de
quatro anos. Ele chegou a articular
sua candidatura à direção-geral da
OMC, há quatro anos. Mas, depois
que a escolha recaiu sobre o italiano Renato Ruggiero, desistiu.
Agora tem dito, a quem o procura para que tente de novo conquistar o posto, que não mexerá um dedo para o obter. Mas também tem
dito que, se seu nome surgir como
única saída para o impasse atual da
OMC, pode aceitar.
A OMC está sem liderança há
três semanas. No dia 30 de abril
acabou o mandato de Ruggiero.
Disputa
Dois candidatos disputam sua
sucessão: o ex-primeiro-ministro
da Nova Zelândia Mike Moore e o
vice-primeiro-ministro da Tailândia, Supachai Panitchpakdi.
Moore tem o apoio dos EUA, da
Europa e de alguns países latino-americanos, inclusive da Argentina.
Panitchpakdi está sendo endossado pelos países da Ásia, a maioria dos africanos e alguns da América Latina, inclusive o Brasil.
A OMC só decide por consenso.
No caso, parece impossível atingi-lo. Os debates entre partidários do
tailandês e do neozelandês azedaram, embora ninguém diga com
clareza os seus motivos para
apoiar um ou outro candidato.
O que parece estar por trás da divisão é o problema da proteção
ambiental e trabalhista nas discussões da Rodada do Milênio, reunião de cúpula sobre o comércio
mundial a ser realizada a partir de
novembro.
Os países desenvolvidos, em especial os EUA, querem embutir
nos acordos de comércio exigências para que todos adotem leis
trabalhistas e ambientais similares
às vigentes no Primeiro Mundo.
Muitos países em desenvolvimento acham que esse tipo de instância constitui protecionismo comercial disfarçado, não uma tentativa de proteger o ambiente ou os
direitos de trabalhadores.
Por esse raciocínio, a súbita adoção de leis trabalhistas e ambientais pelos países em desenvolvimento encareceria muito seus produtos e os prejudicaria na concorrência com os desenvolvidos.
Os apoiadores de Panitchpakdi
desconfiam que Moore tenha obtido o suporte de EUA e Europa em
troca de compromisso de favorecer a tese da exigência das cláusulas ambientais e trabalhistas.
Iglesias seria uma saída perfeita
para a enrascada da OMC, que perde prestígio e poder a cada dia que
passa sem diretor, num momento
em que EUA e Europa se digladiam
em debates muito difíceis sobre
bananas, carne, aviões e vinhos,
que podem pôr em risco a estrutura do comércio mundial.
O presidente do BID é bem-visto
por Washington e por toda a América Latina. A Europa, via Reino
Unido, vetou seu nome quando
sugerido pelos EUA para a OMC
em 1998. Mas, agora, talvez não tenha saída senão aceitá-lo.
Para o Brasil, Iglesias seria uma
ótima opção. Seus vínculos com o
país são antigos e muito fortes.
O porta-voz do ministro Malan,
Marcelo Pontes, disse ontem que a
possibilidade de sua ida para o BID
é "mera especulação".
Mas não há dúvidas de que ela seria interessante para o país e para
ele mesmo. Nunca um brasileiro
presidiu o BID, que ganhou muita
importância nos últimos dez anos.
O BID emprestou US$ 10 bilhões
em 1998 e US$ 240 bilhões nos seus
40 anos de existência.
É uma instituição ágil, respeitada, tanto em termos sociais como
acadêmicos.
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