São Paulo, Sexta-feira, 21 de Maio de 1999
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NARCOTRÁFICO
CPI investiga suposto envolvimento dos políticos com traficantes
Ex-governador e deputado do AC têm sigilo quebrado

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do ex-governador do Acre Orleir Cameli e do deputado Hildebrando Pascoal (PFL-AC) por suposto envolvimento com traficantes.
Durante depoimento na CPI, o ministro da Justiça, Renan Calheiros, defendeu prisão perpétua para os traficantes de drogas. "Eu defendo, apesar de saber das dificuldades para aprovar isso na Constituição", disse ele.
Também foi aprovada a convocação do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. Ele foi acusado de retardar denúncias à Justiça contra Cameli e Hildebrando com base em inquéritos conduzidos no Acre por procuradores da República e pela Polícia Federal.

Grupo de extermínio
A pedido da CPI, Calheiros irá mandar ao Acre o delegado Jones Leite e 15 agentes federais para investigar as ligações dos políticos com o narcotráfico. No ano passado, a PF apurou supostas ligações de Hildebrando com grupo de extermínio que teria praticado 30 mortes no Estado.
O procurador da República Luiz Francisco de Souza, responsável por investigações sobre Cameli e Hildebrando, defendeu a quebra do sigilo dos envolvidos e criticou Brindeiro por nunca ter tomado tal medida. "Há com o dr. Brindeiro dois metros de altura de relatórios contra Orleir e um metro e meio de relatórios contra Hildebrando."
Segundo ele, desde 97 Brindeiro fez apenas duas denúncias contra Cameli em nove inquéritos encaminhados. Disse que contra o deputado foi feita apenas uma denúncia. "Fizemos nosso trabalho, mas é atribuição do procurador-geral denunciar governador e deputado", afirmou Souza.
Brindeiro não foi localizado ontem para comentar a decisão da CPI porque estava viajando de Recife para São Paulo.
Segundo Souza, Cameli foi acusado em 90 de ter incentivado em terras indígenas no Acre o plantio de epadu, planta da qual se extrai substância semelhante à cocaína.
O procurador afirmou que uma das quatro testemunhas ouvidas pela PF sobre supostas relações de traficantes com Hildebrando disse que o deputado distribuiu cocaína a eleitores viciados em drogas.
Souza fez as acusações levantando a mão em direção a Hildebrando, que acompanhou o depoimento. "Eu autorizo a quebra do meu sigilo", reagiu o deputado. "Esse procurador é irresponsável, e duvido que provem que eu tenha envolvimento com narcotráfico ou grupo de extermínio", disse ele.
A quebra do sigilo envolve ainda a mulher do ex-governador, Beatriz, seus irmãos Francisco e Eládio e empresas da família.
Cameli também não foi encontrado ontem no Acre.
Foi quebrado também o sigilo de dois dos irmãos de Hildebrando, Pedro e Silas, e do primo Aureliano Pascoal. Eles são membros da Polícia Militar do Acre, da qual o deputado é coronel reformado.
Outra decisão da CPI foi encaminhar as acusações feitas contra Hildebrando para a Mesa da Câmara para a eventual instalação de procedimento com a finalidade de cassar o mandato do deputado.


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