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PT SOB SUSPEITA
Grupo denunciado seria ameaça às testemunhas; juiz decide hoje
Promotoria pede prisão de 6
acusados no caso Sto. André
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Estadual
solicitou a prisão preventiva do
secretário de Serviços Municipais
de Santo André, Klinger Luiz de
Oliveira Souza, e de Sérgio Gomes
da Silva, acusados de extorquir dinheiro de empresários da cidade
com o objetivo de financiar campanhas políticas do PT.
O pedido de prisão estende-se
também ao empresário Ronan
Maria Pinto e a outros três suspeitos: Irineu Nicolino Martin Bianco, Humberto Tarcisio de Castro
e Luiz Marcondes de Freitas Jr.
Todos foram denunciados (acusados formalmente) anteontem
pela Promotoria de Justiça Criminal de Santo André por crime de
formação de quadrilha e por concussão (extorsão praticada por
funcionário público).
A denúncia ainda não foi aceita
pelo juiz da 1ª Vara Criminal, Iasin Issa Ahmed. Antes de decidir
sobre a abertura de um processo,
ele deverá manifestar-se hoje sobre os pedidos de prisão.
Caixa de campanha
A ação do Ministério Público teve início após o assassinato do
prefeito Celso Daniel (PT) em janeiro e é baseada em quatro depoimentos -três de empresários
do ramo de transporte público e
um do médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito morto.
João Francisco, que, segundo o
depoimento, procurou voluntariamente o Ministério Público,
disse ter sido informado do esquema pela ex-cunhada Miriam
Belchior e por Gilberto Carvalho,
que foi secretário de Governo e de
Comunicação de Santo André.
À Promotoria, João Francisco
disse que o dinheiro coletado era
encaminhado, por meio de Carvalho, ao presidente nacional do
PT, José Dirceu -que nega.
"Depois da morte de Celso, Gilberto confidenciou que, por diversas vezes, levava dinheiro pessoalmente de Santo André para as
mãos do presidente do partido, o
deputado José Dirceu", disse o irmão de Daniel aos promotores.
Essa acusação, por envolver um
deputado federal, foi encaminhada ao procurador-geral da Justiça
de São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey. "A denúncia que
oferecemos à Justiça não se baseou apenas no depoimento de
João Francisco", disse o promotor
Roberto Wider Filho. "Temos outros testemunhos e também provas documentais. Tudo começou
a ser investigado após a morte do
prefeito, quando empresários assustados nos procuraram."
Dos três empresários ouvidos
pela Promotoria, apenas um acusou formalmente o grupo denunciado. Foi o proprietário da Viação São José Transportes, Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho, que
afirmou ter tido um prejuízo de
R$ 2 milhões com o pagamento
de propinas à prefeitura.
Gabrilli Filho disse aos promotores que o esquema começou no
final de 1997, após uma reunião
com Klinger, então secretário dos
Transportes, e com Sérgio Gomes
-que dirigia o carro em que estava Celso Daniel no momento em
que ele foi sequestrado.
Em janeiro, após a morte do
prefeito, ainda segundo o empresário, nenhum dos responsáveis
pela coleta da propina, Irineu ou
Humberto (ambos denunciados),
passou na empresa para recolher
o dinheiro, cerca de R$ 40 mil.
Os outros dois empresários não
quiseram acusar nenhum dos envolvidos e disseram que o pagamento era um "custo político".
A prova documental citada pelo
Ministério Público são papéis
não-oficiais enviados por fax à
empresa de Gabrilli Filho sobre as
previsões de receita e de despesas
da Expresso Nova Santo André
-que reunia as seis empresas de
transporte da cidade.
Segundo as testemunhas, o dinheiro da propina era registrado
nesse documento com o título de
despesa administrativa. Ao lado
da rubrica "despesas (DA)" ou
"Desp. Adm." aparecem os seguintes valores e datas de vencimento: R$ 45 mil (11/6/1999), R$
45 mil (15/7/1999), R$ 36.185 (30/
8/1999), e R$ 36.185 (30/9/1999).
O pedido de prisão, segundo o
promotor Amaro José Thomé Filho, foi solicitado para a segurança das testemunhas. Tanto o secretário Klinger quanto Sérgio
Gomes, segundo as testemunhas,
andam armados. Uma das vítimas acusou o secretário de usar
uma arma presa ao tornozelo e de
exibi-la para intimidar pessoas.
O ex-ministro da Justiça José
Carlos Dias, advogado de Klinger,
entregou ontem ao juiz do caso a
procuração de seu cliente. Afirmou que seu cliente é inocente e
que não há provas contra ele. A
Folha não conseguiu localizar
Ronan Maria Pinto nem Sérgio
Gomes. Segundo o advogado de
ambos, eles estão viajando.
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