São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Grupo denunciado seria ameaça às testemunhas; juiz decide hoje

Promotoria pede prisão de 6 acusados no caso Sto. André

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Estadual solicitou a prisão preventiva do secretário de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza, e de Sérgio Gomes da Silva, acusados de extorquir dinheiro de empresários da cidade com o objetivo de financiar campanhas políticas do PT.
O pedido de prisão estende-se também ao empresário Ronan Maria Pinto e a outros três suspeitos: Irineu Nicolino Martin Bianco, Humberto Tarcisio de Castro e Luiz Marcondes de Freitas Jr.
Todos foram denunciados (acusados formalmente) anteontem pela Promotoria de Justiça Criminal de Santo André por crime de formação de quadrilha e por concussão (extorsão praticada por funcionário público).
A denúncia ainda não foi aceita pelo juiz da 1ª Vara Criminal, Iasin Issa Ahmed. Antes de decidir sobre a abertura de um processo, ele deverá manifestar-se hoje sobre os pedidos de prisão.

Caixa de campanha
A ação do Ministério Público teve início após o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT) em janeiro e é baseada em quatro depoimentos -três de empresários do ramo de transporte público e um do médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito morto.
João Francisco, que, segundo o depoimento, procurou voluntariamente o Ministério Público, disse ter sido informado do esquema pela ex-cunhada Miriam Belchior e por Gilberto Carvalho, que foi secretário de Governo e de Comunicação de Santo André.
À Promotoria, João Francisco disse que o dinheiro coletado era encaminhado, por meio de Carvalho, ao presidente nacional do PT, José Dirceu -que nega.
"Depois da morte de Celso, Gilberto confidenciou que, por diversas vezes, levava dinheiro pessoalmente de Santo André para as mãos do presidente do partido, o deputado José Dirceu", disse o irmão de Daniel aos promotores.
Essa acusação, por envolver um deputado federal, foi encaminhada ao procurador-geral da Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey. "A denúncia que oferecemos à Justiça não se baseou apenas no depoimento de João Francisco", disse o promotor Roberto Wider Filho. "Temos outros testemunhos e também provas documentais. Tudo começou a ser investigado após a morte do prefeito, quando empresários assustados nos procuraram."
Dos três empresários ouvidos pela Promotoria, apenas um acusou formalmente o grupo denunciado. Foi o proprietário da Viação São José Transportes, Luiz Alberto Ângelo Gabrilli Filho, que afirmou ter tido um prejuízo de R$ 2 milhões com o pagamento de propinas à prefeitura.
Gabrilli Filho disse aos promotores que o esquema começou no final de 1997, após uma reunião com Klinger, então secretário dos Transportes, e com Sérgio Gomes -que dirigia o carro em que estava Celso Daniel no momento em que ele foi sequestrado.
Em janeiro, após a morte do prefeito, ainda segundo o empresário, nenhum dos responsáveis pela coleta da propina, Irineu ou Humberto (ambos denunciados), passou na empresa para recolher o dinheiro, cerca de R$ 40 mil.
Os outros dois empresários não quiseram acusar nenhum dos envolvidos e disseram que o pagamento era um "custo político".
A prova documental citada pelo Ministério Público são papéis não-oficiais enviados por fax à empresa de Gabrilli Filho sobre as previsões de receita e de despesas da Expresso Nova Santo André -que reunia as seis empresas de transporte da cidade.
Segundo as testemunhas, o dinheiro da propina era registrado nesse documento com o título de despesa administrativa. Ao lado da rubrica "despesas (DA)" ou "Desp. Adm." aparecem os seguintes valores e datas de vencimento: R$ 45 mil (11/6/1999), R$ 45 mil (15/7/1999), R$ 36.185 (30/ 8/1999), e R$ 36.185 (30/9/1999).
O pedido de prisão, segundo o promotor Amaro José Thomé Filho, foi solicitado para a segurança das testemunhas. Tanto o secretário Klinger quanto Sérgio Gomes, segundo as testemunhas, andam armados. Uma das vítimas acusou o secretário de usar uma arma presa ao tornozelo e de exibi-la para intimidar pessoas.
O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, advogado de Klinger, entregou ontem ao juiz do caso a procuração de seu cliente. Afirmou que seu cliente é inocente e que não há provas contra ele. A Folha não conseguiu localizar Ronan Maria Pinto nem Sérgio Gomes. Segundo o advogado de ambos, eles estão viajando.


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