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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/TEORIA DO GOLPE
"Carta ao Povo Brasileiro", a ser divulgada hoje, fala em "golpismo" e diz que denúncias são vazias; entidades também criticam governo
MST, UNE e CUT lançam carta de apoio a Lula
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob a coordenação do MST, da
UNE e da CUT, entidades e movimentos sociais divulgam hoje à
tarde o que estão chamando de
"Carta ao Povo Brasileiro" para
denunciar suposto clima de "golpismo" de setores da direita contra o governo Luiz Inácio Lula da
Silva. Para eles, são "vazias" as denúncias de corrupção contra diferentes setores de governo federal.
Sempre ao lado de tais entidades, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e seu
braço agrário, a CPT (Comissão
Pastoral da Terra), resistem a assinar o documento. Temem que ele
não reflita com exatidão o que
pensam. "Não enxergamos um
clima de golpismo. O que existe é
uma luta política tanto na base de
apoio do governo como naqueles
que estão de fora dela. A verdade é
que o PT está colhendo os frutos
das sementes que plantou. Ele fez
a opção do poder a qualquer custo, aliando-se aos piores setores",
afirma Isidoro Revers, da coordenação nacional da CPT.
A divulgação do documento,
que tem o mesmo nome do texto
divulgado pelo PT às vésperas das
eleições de 2002, será hoje à tarde,
numa entrevista coletiva dos representantes de entidades e movimentos. Pela manhã, uma reunião, com a presença de observadores da CNBB e da CPT, vai definir a versão final do que estará escrito no documento e a eventual
assinatura da Igreja Católica.
Golpismo
Para o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a atual crise política
do governo foi motivada por "denúncias vazias" e uma "tentativa
de golpismo" da direita.
"Temos a clareza de que as denúncias são vazias. É, sim, uma
tentativa de golpe da direita para
tentar desgastar o governo Lula. O
documento é um apoio para a
continuidade desse projeto político, o que não significa que não tenhamos críticas a ele", disse Antonio Carlos Spis, secretário nacional de Comunicação da CUT.
No último fim de semana, o
MST divulgou texto assinado por
sua direção nacional no qual diz
que a "elite" usou as declarações
do petebista Roberto Jefferson
"para criar uma cortina de fumaça" e enfraquecer o governo Lula.
A primeira denúncia de corrupção foi relatada pela revista "Veja". A reportagem mostra gravação em que o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício
Marinho -indicado ao cargo pelo PTB- embolsa R$ 3.000. Depois disso, Roberto Jefferson
(PTB-RJ) denunciou à Folha um
suposto esquema de "mensalão",
no qual o PT daria verba para o PL
e para o PP em troca de apoio.
Tanto a CUT como o MST falam na necessidade de apuração
das denúncias. "Mas está claro
que a direita utilizou a situação
para antecipar o calendário eleitoral [...] Somos contra a corrupção,
mas também somos contra esse
golpismo", diz o texto do MST.
Cobranças
As entidades e os movimentos,
porém, têm uma preocupação
clara. Não querem que a tal "Carta
ao Povo Brasileiro" se transforme
num panfleto de apoio ao governo Lula. Para isso, utilizarão o espaço para cobrar mudanças no
rumo da política econômica e o
cumprimento de metas da reforma agrária, por exemplo, além do
comprometimento com a reforma política e a redução dos juros.
Ontem à tarde, preocupada
com a repercussão em torno do
documento, a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), que
engloba MST, CUT e cerca de outros 30 movimentos e entidades,
divulgou nota sobre o tema. "[A
CMS] decidiu convocar uma ampla mobilização popular com os
seguintes eixos: contra o golpismo de direita, apuração das denúncias de corrupção, mudanças
na política econômica e por uma
reforma política democrática."
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