São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/TEORIA DO GOLPE

"Carta ao Povo Brasileiro", a ser divulgada hoje, fala em "golpismo" e diz que denúncias são vazias; entidades também criticam governo

MST, UNE e CUT lançam carta de apoio a Lula

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sob a coordenação do MST, da UNE e da CUT, entidades e movimentos sociais divulgam hoje à tarde o que estão chamando de "Carta ao Povo Brasileiro" para denunciar suposto clima de "golpismo" de setores da direita contra o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para eles, são "vazias" as denúncias de corrupção contra diferentes setores de governo federal.
Sempre ao lado de tais entidades, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e seu braço agrário, a CPT (Comissão Pastoral da Terra), resistem a assinar o documento. Temem que ele não reflita com exatidão o que pensam. "Não enxergamos um clima de golpismo. O que existe é uma luta política tanto na base de apoio do governo como naqueles que estão de fora dela. A verdade é que o PT está colhendo os frutos das sementes que plantou. Ele fez a opção do poder a qualquer custo, aliando-se aos piores setores", afirma Isidoro Revers, da coordenação nacional da CPT.
A divulgação do documento, que tem o mesmo nome do texto divulgado pelo PT às vésperas das eleições de 2002, será hoje à tarde, numa entrevista coletiva dos representantes de entidades e movimentos. Pela manhã, uma reunião, com a presença de observadores da CNBB e da CPT, vai definir a versão final do que estará escrito no documento e a eventual assinatura da Igreja Católica.

Golpismo
Para o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a atual crise política do governo foi motivada por "denúncias vazias" e uma "tentativa de golpismo" da direita.
"Temos a clareza de que as denúncias são vazias. É, sim, uma tentativa de golpe da direita para tentar desgastar o governo Lula. O documento é um apoio para a continuidade desse projeto político, o que não significa que não tenhamos críticas a ele", disse Antonio Carlos Spis, secretário nacional de Comunicação da CUT.
No último fim de semana, o MST divulgou texto assinado por sua direção nacional no qual diz que a "elite" usou as declarações do petebista Roberto Jefferson "para criar uma cortina de fumaça" e enfraquecer o governo Lula.
A primeira denúncia de corrupção foi relatada pela revista "Veja". A reportagem mostra gravação em que o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho -indicado ao cargo pelo PTB- embolsa R$ 3.000. Depois disso, Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou à Folha um suposto esquema de "mensalão", no qual o PT daria verba para o PL e para o PP em troca de apoio.
Tanto a CUT como o MST falam na necessidade de apuração das denúncias. "Mas está claro que a direita utilizou a situação para antecipar o calendário eleitoral [...] Somos contra a corrupção, mas também somos contra esse golpismo", diz o texto do MST.

Cobranças
As entidades e os movimentos, porém, têm uma preocupação clara. Não querem que a tal "Carta ao Povo Brasileiro" se transforme num panfleto de apoio ao governo Lula. Para isso, utilizarão o espaço para cobrar mudanças no rumo da política econômica e o cumprimento de metas da reforma agrária, por exemplo, além do comprometimento com a reforma política e a redução dos juros.
Ontem à tarde, preocupada com a repercussão em torno do documento, a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), que engloba MST, CUT e cerca de outros 30 movimentos e entidades, divulgou nota sobre o tema. "[A CMS] decidiu convocar uma ampla mobilização popular com os seguintes eixos: contra o golpismo de direita, apuração das denúncias de corrupção, mudanças na política econômica e por uma reforma política democrática."


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