São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

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Agências são vistas como "amigas do rei'

da Reportagem Local

Na visão dos publicitários, as agências Propeg e DM9 desempenham, no governo FHC, o mesmo papel de "amigas do rei" representado pela Setembro Propaganda, no governo Collor, e pela MPM, durante todo o período dos governos militares.
Na administração pública, seja federal, estadual ou municipal, tem prevalecido a escolha de agências com base na identificação política ou troca de favores, não em critérios técnicos.
Essa distorção leva o mercado a considerar natural que o publicitário que toca a campanha do candidato seja contemplado, depois, com contas do governo.
Durante o regime militar, um pequeno grupo de agências de propaganda cuidou, de forma exclusiva, das contas publicitárias do governo federal.
Coincidentemente, a MPM, maior agência do país em receita durante os anos 70 e 80, era a que detinha mais contas do governo.
Com sede no Rio, mas de origem gaúcha, a MPM dividia o poder de acesso ao governo federal com outras agências de São Paulo e do Rio, todas integralmente nacionais naquela época: Alcantara Machado, Salles, DPZ e Norton.
Na década de 80, com o início do processo de redemocratização, aumentou a disputa pelas contas governamentais.
Agências de outros Estados passaram a perseguir esse filão, entre elas a Propeg, que durante anos se concentrou no mercado da Bahia e de outros Estados do Nordeste.
Foi no governo Collor, porém, que ocorreu a mais ousada tentativa de privilegiar poucas agências.
A título de romper o esquema concentrado no eixo Rio-São Paulo, o governo Collor centralizou as decisões sobre publicidade num pequeno grupo liderado pela agência mineira Setembro Propaganda, responsável pela campanha eleitoral presidencial.
Agências paulistas, como a Almap e DPZ, foram forçadas a romper contratos e abrir mão de contas valiosas, como a da Petrobrás, posteriormente entregue, sem licitação, à Setembro.

Campanhas eleitorais
A Setembro teve um curto ciclo de projeção. Em 1984, ocupava o 57º posto no ranking da "Meio & Mensagem". Em 91, surgiu como a 34ª maior agência do Brasil, com receita de US$ 3,4 milhões. Em 92, subiu para a 26ª posição, com uma receita de US$ 4,4 milhões.
A partir de 93, já não constava no ranking entre 150 agências e, em 94, desapareceu do relatório "Agências & Anunciantes".
No governo FHC, outras agências ganharam destaque, subindo no ranking de forma acelerada.
Um caso exemplar é o da DM9, que até o final da década de 80 pertencia a outro baiano também expert em campanhas eleitorais: Duda Mendonça (as iniciais são as do seu nome).
Há oito anos, a agência foi comprada por Nizan Guanaes, que manteve o nome original. Hoje, Duda Mendonça tem outra agência, batizada com o seu nome por extenso. Ela também tem subido bastante no ranking.

Fora do mercado
Nem todas as agências que apostaram no filão da política tiveram sucesso, como mostra o caso da CBP (Companhia Brasileira de Publicidade) do publicitário Armando Sant'Anna.
Ele participou das campanhas de FHC ao Senado e à Prefeitura de São Paulo, além de ter trabalhado para eleger Mário Covas senador.
Mesmo com esse currículo, Sant'Anna não encontrou espaço entre os que atendem, hoje, as contas do governo federal.
"Eu estou fora desse mercado", diz o publicitário, procurando não demonstrar nenhum rancor.
O isolamento de Sant'Anna é atribuído ao seu longo envolvimento profissional em São Paulo com os governos Quércia e Fleury, do PMDB.
A CBP manteve, durante dez anos, a conta da Caixa Econômica Estadual, a "Nossa Caixa".



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