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PUBLICIDADE
Mesmo dividindo contas entre 44 agências, governo tucano é acusado de favorecer publicitários das campanhas
Publicidade muda, mas segue sob suspeita
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
A tentativa do governo FHC de
democratizar a divisão das contas
de publicidade não afastou as suspeitas de favorecimentos políticos.
O modelo também não beneficiou o candidato à reeleição: parte
da queda de FHC nas pesquisas é
atribuída à falta de unidade na comunicação oficial, distribuída entre 44 agências de publicidade.
Repete-se no governo tucano a
tradicional acusação de que os publicitários que fazem campanhas
eleitorais são premiados, depois,
com gordas contas publicitárias
de estatais e órgãos públicos.
Hoje, os principais alvos das críticas no meio publicitário são os
baianos Rodrigo Sá Menezes, da
Propeg, amigo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
para quem já fez várias campanhas
eleitorais, e Nizan Guanaes, da
DM9DDB, que toca a campanha
de FHC.
O governo ampliou o número de
agências contratadas, que dividem
um bolo estimado em R$ 500 milhões anuais, mas o processo de
seleção ainda guarda vícios semelhantes aos das licitações de obras
disputadas por empreiteiros.
Acordo informal
Um acordo não escrito, estimulado pela Secom (Secretaria de Comunicação Social, órgão vinculado à Presidência da República),
pretendia evitar que uma única
agência ficasse com mais de três
grandes contas do governo federal. A Propeg, de Menezes, e a
DM9, de Guanaes, ganharam quatro contas cada uma.
A Propeg alega, em sua defesa,
que participou de 25 licitações e
ganhou apenas quatro. A DM9 diz
que entrou em 19 concorrências.
Menezes cuida de quatro grandes contas federais (Petrobrás,
Eletrobrás, Sudene e Ministério do
Planejamento). Acumulou, por isso, a antipatia de publicitários que
se sentiram preteridos.
Ao atender o Planejamento, sua
agência detém a conta do programa "Brasil em Ação", que engloba os principais projetos do governo FHC, carro-chefe da campanha
pela reeleição.
"Não se trata de um filão. As
verbas estão sendo reduzidas, o
governo fez um corte horizontal",
diz o dirigente da Propeg.
Posição oficial
"É muito difícil, na área de publicidade, ter critérios objetivos
como se tem na licitação de uma
ponte ou de uma estrada", diz o
diplomata Sergio Amaral, titular
da Secom. "A escolha de uma
agência envolve um certo grau de
subjetividade", diz.
Fernando César Mesquita, assessor de imprensa de Antonio
Carlos Magalhães, diz que o senador não comenta acusações de favorecimento feitas por publicitários escudados no anonimato.
Mesquita já trabalhou na Propeg
e diz que a agência é competente.
Menezes, por sua vez, confirma
a amizade pessoal com ACM.
"Sou amigo pessoal, ele ajudou
muito na minha carreira, com
apoio e estímulo", diz. Ele admite
que isso pode gerar a interpretação de favorecimento.
Procurado pela Folha, Guanaes
preferiu não comentar o assunto.
Relações cordiais
A democratização na escolha de
agências também não inibiu as
críticas mais contundentes: "As
licitações são uma hipocrisia",
disse o publicitário Enio Mainardi, espécie de voz isolada do setor,
em programa de debates na TV
Gazeta, no final do ano passado.
Apesar das críticas isoladas,
nunca as relações entre governo e
publicitários foram tão cordiais, a
julgar pelas manifestações públicas das duas partes.
"Neste governo, foi reduzido
muito o cambalacho, o processo
de pressão na escolha das agências", diz Flávio Corrêa, presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade).
O publicitário Alex Periscinoto,
vice-presidente da entidade, diz
que "esta é uma das duas melhores fases no relacionamento do setor com o governo federal". A outra, diz, ocorreu no governo João
Baptista Figueiredo (1979-1985).
Serviços gratuitos
Para intermediar seus negócios
com o governo, os publicitários
criaram o IAP (Instituto para
Acompanhamento da Publicidade), associação civil que funciona
como uma espécie de clube.
O trabalho das agências é monitorado pelo governo a partir de informações -estudos de mercado- que as próprias agências fornecem gratuitamente, a título de
"colaboração espontânea".
O governo exigiu das agências
um tratamento igual ao que elas
dispensam aos clientes privados,
como a concessão de descontos.
Com isso, segundo Amaral, foi
possível reduzir em até 30% os
custos da comunicação oficial.
"Apesar de algumas resistências
iniciais, os publicitários, como
um todo, concordaram em trabalhar num processo de transparência", diz Amaral.
Sem números
A dificuldade para a obtenção de
números globais sobre esse mercado muito disputado mostra que
o nível da anunciada transparência ainda deixa muito a desejar.
Amaral disse à Folha que não sabe quanto o governo gasta com a
publicidade de toda a administração federal.
Ele alega que a Secom não controla as despesas das estatais. "Só
acompanho os gastos do governo", diz. Segundo ele, a administração direta tem uma verba anual
que gira entre R$ 110 milhões e R$
120 milhões. Pelo cálculo dos publicitários, o volume total, incluindo a administração indireta,
é próximo de R$ 500 milhões.
Espaço de graça
Outro ponto nebuloso: as empresas de televisão ainda mantêm
a prática de conceder alguns minutos diários gratuitos para o governo federal, percentual da programação que o titular da Secom
informa desconhecer.
Amaral afirma que se trata de
um espaço dedicado apenas a
campanhas de utilidade pública.
Levantamento feito por uma
grande agência mostrou, porém,
que na semana passada 11 campanhas (governamentais ou não) estão sendo veiculadas de graça pelas emissoras de TV ou rádio.
Joaquim Mendonça, presidente
da Abert (Associação Brasileira
das Emissoras de Rádio e Televisão), diz que, "de vez em quando,
a Abert recebe pedidos para que as
emissoras coloquem anúncios no
ar de graça".
"Nunca houve obrigação de
veicular campanhas de graça para
o governo. Na época dos governos
militares, se falava muito que as
emissoras davam dez minutos
diários para campanhas do governo, mas eu estou na Abert há 20
anos e nunca vi nada disso colocado no papel", diz Mendonça.
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