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Publicitários rejeitam contas de governos
da Reportagem Local
Desde 1980, quando criaram a
agência de publicidade Talent, Julio Ribeiro e seus sócios nunca
aceitaram três tipos de clientes: fabricantes de cigarros, de bebidas
alcoólicas fortes e governo.
Isso custou caro à agência. Ribeiro calcula que tenha deixado de
faturar algo como R$ 20 milhões,
ao recusar convites para trabalhar
para esses três grupos de anunciantes.
"Não faço publicidade para governo porque acho que, num país
pobre como o nosso, isso é uma
grave distorção. A função básica
do governo é prover educação,
saúde etc. Não está escrito na
Constituição que se deve gastar
milhões de dólares com propaganda", diz Ribeiro.
O caso da Talent é raro, mas não
é único. A W/Brasil é outra grande
agência que também não atende
contas do governo.
"Já fui até convidado, mas nem
sei se saberia fazer campanha para
governos. No governo e em campanhas para eleições, as decisões
são tomadas com base em critérios políticos, não profissionais",
diz Washington Olivetto, presidente da agência.
Ligações perigosas
Olivetto acha que os publicitários que fazem campanha política
se beneficiam quando o candidato
é eleito.
"Em geral, existe uma identidade entre os dois e a pessoa eleita
tende a beneficiar quem ajudou na
campanha", comenta.
Para Ribeiro, todas as campanhas bancadas pelo governo acabam sendo eleitoreiras, "mesmo
em governos de pessoas consideradas íntegras, como o Fernando
Henrique e o Mário Covas".
Ele cita como exemplo de campanha eleitoreira os anúncios da
Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo). Neles, o governo estadual
promete acabar com o racionamento de água, numa campanha
veiculada num ano eleitoral.
Mais profissional
Ribeiro acha que as mudanças
adotadas pelo atual governo federal na divisão da verba publicitária
-com licitações e maior número
de agências- tornaram a administração da propaganda oficial
mais profissional.
"Antes, o governo pagava comissões três ou quatro vezes
maiores que a iniciativa privada.
Hoje, o controle sobre os gastos é
muito maior. Mas o princípio está
errado. Governo não deve fazer
publicidade em nenhum país do
mundo", diz.
"Não tenho posição messiânica
sobre quem atender ou não", diz
ele. "Não sou um Enéas, que quer
impor sua posição. Só estou fazendo o que acho mais correto", explica esse publicitário, cuja agência é uma das 15 maiores do país.
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