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DOMINGUEIRA
Nacional impopular
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
A era Collor-FHC transformou
o nacional em cafona. Do carro
ao conceito. Virou palavrão. Ninguém quer ser nacional, só pobre.
Pega mal. Quem defende o nacional é o Brizola e o Itamar -prova de que a idéia é atrasada, estatizante e demagógica.
O fato de que os velhos e velhacos nacionalismos, à esquerda e à
direita, tenham deixado de responder às novas situações, não
significa que a questão nacional
deva ser apressadamente arquivada.
A tentativa economicista de
pensar o país simplesmente como
"mercado" não parece sustentável nem mesmo para o objetivo
econômico: ainda que se intensifique a internacionalização capitalista e a formação de blocos,
para ser verdadeiramente "global
player", "global trader" e coisas
do gênero, será indispensável
identidade e força nacionais, da
economia à cultura, passando pela diplomacia.
Se os efeitos da globalização no
Brasil têm mobilizado anacronismos nacionalistas, eles poderão,
igualmente, abrir espaço para a
rediscussão, em novas bases, da
questão nacional -o que seria
desejável, caso ainda acredite-se
que temos um destino.
Manifestação a um só tempo
oportunista e comovente do espírito nacional, a Copa do Mundo
vai ocupando o cotidiano de todos -ou quase todos.
Fôssemos julgar a chamada
crônica esportiva com o rigor
com que ela vem nos maltratando e pouco restaria para ler sobre
o Mundial. Afinal, o lateral Cafu
não era o caminho certo para a
derrota brasileira? Leonardo não
estava proibido pela natureza de
jogar pela meia direita? Bebeto
não passava uma nulidade? A
Noruega não era um show?
Bem, o fato é que temos um
festivo amadorismo emocionado
nas páginas dos jornais e nas telas das TVs. Mas, enfim, é disso
que o povo gosta. E, no final das
contas, comentaristas esportivos
erram tanto quanto os econômicos e os políticos -só que com
menos danos para o cidadão.
E já que poucos (ou todos) entendem do riscado, vou dar meu
abalizado palpite: a primeira fase
da Copa, até aqui, não passou de
um espinhoso festival de peladas
com hino, pompa e circunstância.
Pouca coisa salvou-se. Dinamarca, Japão, África do Sul, Jamaica,
Bélgica, México, Coréia, Arábia
Saudita, Marrocos, Tunísia e
Áustria não pegam final na areia
do Leme. Fariam jogos duríssimos no Playball da Barra Funda.
A havelangização da Copa repete o que já conhecemos no Brasil: campeonatos inchados com
jogos fracos e sonolentos. Haja
paciência até que a elite do futebol, de fato, possa jogar.
No topo dela está o Brasil. Evidentemente, a seleção pode perder a Copa, já que o sistema eliminatório não dá chance ao deslize. Temos, contudo, o melhor
atacante e os melhores jogadores
da competição, um técnico experiente e muita camisa. Que Deus
nos livre da França -que em casa, e com aquele hino, vai ser
difícil de roer.
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