São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

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DOMINGUEIRA
Nacional impopular

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

A era Collor-FHC transformou o nacional em cafona. Do carro ao conceito. Virou palavrão. Ninguém quer ser nacional, só pobre. Pega mal. Quem defende o nacional é o Brizola e o Itamar -prova de que a idéia é atrasada, estatizante e demagógica.
O fato de que os velhos e velhacos nacionalismos, à esquerda e à direita, tenham deixado de responder às novas situações, não significa que a questão nacional deva ser apressadamente arquivada.
A tentativa economicista de pensar o país simplesmente como "mercado" não parece sustentável nem mesmo para o objetivo econômico: ainda que se intensifique a internacionalização capitalista e a formação de blocos, para ser verdadeiramente "global player", "global trader" e coisas do gênero, será indispensável identidade e força nacionais, da economia à cultura, passando pela diplomacia.
Se os efeitos da globalização no Brasil têm mobilizado anacronismos nacionalistas, eles poderão, igualmente, abrir espaço para a rediscussão, em novas bases, da questão nacional -o que seria desejável, caso ainda acredite-se que temos um destino.
Manifestação a um só tempo oportunista e comovente do espírito nacional, a Copa do Mundo vai ocupando o cotidiano de todos -ou quase todos.
Fôssemos julgar a chamada crônica esportiva com o rigor com que ela vem nos maltratando e pouco restaria para ler sobre o Mundial. Afinal, o lateral Cafu não era o caminho certo para a derrota brasileira? Leonardo não estava proibido pela natureza de jogar pela meia direita? Bebeto não passava uma nulidade? A Noruega não era um show?
Bem, o fato é que temos um festivo amadorismo emocionado nas páginas dos jornais e nas telas das TVs. Mas, enfim, é disso que o povo gosta. E, no final das contas, comentaristas esportivos erram tanto quanto os econômicos e os políticos -só que com menos danos para o cidadão.
E já que poucos (ou todos) entendem do riscado, vou dar meu abalizado palpite: a primeira fase da Copa, até aqui, não passou de um espinhoso festival de peladas com hino, pompa e circunstância. Pouca coisa salvou-se. Dinamarca, Japão, África do Sul, Jamaica, Bélgica, México, Coréia, Arábia Saudita, Marrocos, Tunísia e Áustria não pegam final na areia do Leme. Fariam jogos duríssimos no Playball da Barra Funda.
A havelangização da Copa repete o que já conhecemos no Brasil: campeonatos inchados com jogos fracos e sonolentos. Haja paciência até que a elite do futebol, de fato, possa jogar.
No topo dela está o Brasil. Evidentemente, a seleção pode perder a Copa, já que o sistema eliminatório não dá chance ao deslize. Temos, contudo, o melhor atacante e os melhores jogadores da competição, um técnico experiente e muita camisa. Que Deus nos livre da França -que em casa, e com aquele hino, vai ser difícil de roer.



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