São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELIGIÃO
Igreja aposenta religiosos aos 75
Católicos terão novos cardeais

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

Até o ano 2000, a Igreja Católica brasileira poderá assistir à renovação de todos os seus cardeais. Isso porque, pelas leis do Vaticano, os religiosos devem se aposentar aos 75 anos. Os cinco cardeais brasileiros já terão atingido a idade-limite.
Mas esta renovação poderá não ser completa: a decisão final sobre a aposentadoria cabe ao papa João Paulo 2º.
Os cardeais estão no segundo escalão da hierarquia da igreja, atrás apenas do papa. Entre suas funções, está participar da votação que escolhe o papa.
O caso do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, d. Eugênio de Araújo Sales é exemplar. Em novembro, ele completa 78 anos, três anos a mais do que determina a lei para a aposentadoria.
A permanência de d. Eugênio chama mais a atenção depois que o cardeal arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, foi aposentado, em abril passado. D. Paulo é um ano e dois meses mais novo que d. Eugênio.
Para setores da igreja, principalmente os ligados à ala progressista do clero, a aposentadoria de d. Paulo e a manutenção de d. Eugênio revelam que o papa cumpre a lei de acordo com seus interesses.
Desde que assumiu o papado, em 1978, João Paulo 2º deixou claro sua preferência pelo clero conservador. Expoente do clero progressista, d. Paulo teve sua arquidiocese dividida em 1989 e perdeu todos os cargos que possuía no Vaticano. Já d. Eugênio não só manteve os que tinha como foi convidado para novos postos-chaves em Roma.
Para o padre Fernando Altemeyer, do Vicariato da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, o papa usou "dois pesos e duas medidas" com d. Paulo. "Essa parcialidade do papa desrespeita o Código Canônico e os bispos que se aposentaram na idade correta, pois deixa a impressão que eles poderiam ter ficado mais tempo", diz o padre.
Na carta em que comunicou a aposentadoria de d. Paulo, o Vaticano ressaltou que o pedido foi aceito levando em consideração os problemas de saúde que o cardeal vinha enfrentando.
Segundo o assessor de imprensa de d.Eugênio, Adionel Carlos da Cunha, o cardeal carioca entregou seu pedido de renúncia ao papa quando completou 75 anos. "A decisão cabe exclusivamente ao papa", disse.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.