São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor do TST recebeu ligações


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI do Judiciário não aprofundou a investigação das ligações telefônicas destinadas ao TST (Tribunal Superior do Trabalho) porque presumiu que contatos do tribunal superior com o juiz Nicolau dos Santos Neto seriam previsíveis.
Mas o reexame das ligações revela várias surpresas. A principal delas é que Nicolau e o empresário Fábio Monteiro de Barros, responsável pela construção do Fórum Trabalhista de São Paulo, tinham um amigo no TST: o diretor-geral do tribunal, José Geraldo Lopes de Araújo.
Lopes de Araújo recebeu 1.241 telefonemas originários de pessoas e empresas que tiveram o sigilo quebrado por suspeitas de envolvimento na obra superfaturada entre novembro de 1990 e março de 1999. Dessas, 362 foram do juiz Nicolau e 328 de Monteiro de Barros. Média de pelo menos um telefonema a cada cinco dias.
Há mais de dez anos no cargo, Lopes de Araújo era procurado pelos dois no gabinete, no celular e em casa. Entre as atribuições do diretor-geral do TST está repassar os recursos liberados pelo Tesouro Nacional para todos os 24 tribunais regionais do Trabalho do país. No caso da obra do TRT paulista, ele repassou R$ 223 milhões entre 1992 e 1998.
Segundo notas oficiais divulgadas pelo TST sobre o escândalo, o tribunal funcionava como mero repassador de recursos aos tribunais, distribuindo as verbas de acordo com a dotação orçamentária disponível.
Funcionava assim: os recursos eram encaminhados pelo Tesouro ao tribunal, que os repassava quase sempre no mesmo dia às contas dos tribunais regionais. Quando havia solicitações dos tribunais regionais, as sobras de recursos de cada tribunal e do TST eram remanejadas. A esses recursos realocados se dá o nome de provisões. Mais de R$ 11 milhões foram transferidos para o TRT-SP por meio desse mecanismo. Nessa rede de empréstimos, o TRT cedia muito menos do que pegava emprestado.

Outro lado
Ouvido ontem pela Folha sobre as ligações, Araújo disse que "não iria negar" ser amigo do juiz e de Monteiro de Barros. "Conheço a mulher dele, a filha dele...", afirmou, em relação ao empresário.
Segundo Araújo, os dois se conheceram "em 93 ou 94". O diretor-geral afirma que, no início, a relação era apenas profissional, mas depois os dois se tornaram amigos. Araújo reconhece que Monteiro de Barros ligava para falar da obra do TRT. "Ele ligava para pedir informações, dizia, "escuta, como é que está, vai sair, tem (dinheiro), não tem", disse o diretor-geral. "Mas nunca me pressionou a nada. O Banco do Brasil, inclusive, ligava também sempre perguntando sobre os recursos."
O diretor-geral do TST se defende dizendo que nunca foi informado oficialmente sobre as irregularidades na obra do TRT.


Texto Anterior: Público X Privado: Eduardo Jorge falou com ex-juiz após deixar o cargo
Próximo Texto: Tuma é o campeão de chamadas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.