|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PÚBLICO X PRIVADO
Foram 18 ligações entre junho de 98 e fevereiro de 99
Eduardo Jorge falou com ex-juiz após deixar o cargo
MALU GASPAR
SÔNIA FILGUEIRAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Eduardo Jorge Caldas Pereira
continuou a manter contato telefônico com o ex-juiz Nicolau dos
Santos Neto, por pelo menos mais
dez meses, mesmo depois de deixar o cargo de secretário-geral da
Presidência da República.
Pela lista oficial da CPI do Judiciário, foram mais 18 ligações, entre junho de 98 e fevereiro de 99.
Eduardo Jorge já disse que todos
os contatos com o ex-juiz foram
"institucionais", para tratar de interesses do governo. Em abril de
98 ele já havia deixado o governo.
Dados inéditos do sigilo telefônico do ex-juiz Nicolau e de Fábio
Monteiro de Barros, dono da Incal, construtora do Fórum Trabalhista de São Paulo, mostram que
os dois cultivavam, por telefone,
canais de influência em todos os
locais necessários para garantir a
sobrevivência da obra. Os dados
do sigilo telefônico foram mantidos em segredo até hoje.
Nicolau, Monteiro de Barros e
Luiz Estevão são os principais
personagens do escândalo que resultou na cassação do senador e
hoje envolve até Eduardo Jorge.
A relação obtida pela Folha,
com 1.468 ligações realizadas pelo
ex-juiz e por Monteiro de Barros,
mostra que os dois mantinham
relações próximas com senadores
e com o Tribunal Superior do
Trabalho, em Brasília. Nas 1.468
ligações estão incluídas as que o
então juiz fez também do seu gabinete no TRT de São Paulo.
No caso de Eduardo Jorge, depois que o ex-secretário deixou a
cargo, os contatos do ex-juiz foram sempre para os seus telefones
particulares. Apenas no dia 17 de
novembro de 98, uma ligação do
gabinete de Nicolau foi feita para
o telefone do Planalto, o 411-1309,
onde ficava Eduardo Jorge. A ligação durou exato um minuto.
A lista das 1.468 ligações mostra
que Nicolau também telefonou
-cinco vezes- para o Ministério do Planejamento, em 1996. Segundo o ministério, apenas duas
dessas ligações foram atendidas,
uma pelo então secretário-executivo e hoje ministro Martus Tavares e outra por seu assessor especial, Amaury Bier, atual secretário-executivo da Fazenda.
O ministro Martus Tavares, que
já havia confirmado o contato telefônico com o juiz, afirma não se
lembrar do teor da conversa.
Segundo o levantamento da
CPI, a ligação mais longa foi feita
em 11 de novembro de 1996 e durou nove minutos. Nesse dia,
houve duas outras ligações para o
ministério, de dois minutos cada
uma. Três dias antes, no dia 8, Nicolau fez outras duas ligações, a
primeira de dois minutos e a segunda de sete minutos.
Amaury Bier disse ontem, por
meio de sua assessoria, não se
lembrar dos telefonemas do ex-juiz. O secretário acha possível
que tenha havido as ligações, mas,
por falar com tanta gente, considera "impossível lembrar de telefonemas de quatro anos atrás".
Entre os parlamentares, o senador Romeu Tuma (PFL), que afirma não ser amigo do ex-juiz e ter-se relacionado com ele apenas em
encontros protocolares, é o campeão de ligações. De março de 95 a
março de 99, foram 92 chamadas
-2 em casa, 12 no celular e 78 no
gabinete. As ligações rastreadas
foram todas para telefones de
Brasília. Tuma foi o mais acionado, mas vários outros parlamentares receberam chamadas do ex-juiz e de Monteiro de Barros.
Entre eles, o ex-deputado Hélio
Rosas (PMDB-SP), principal defensor da obra no Congresso, que
só era chamado dos telefones das
empresas de Monteiro de Barros,
e o deputado Ary Kara, que recebeu 17 ligações, mas diz nunca ter
falado com o ex-juiz.
Outro contato para a verba do
TRT-SP era o diretor-geral do
TST, José Geraldo Lopes de Araújo. É o diretor-geral quem supervisiona os repasses de verba do
TST para os tribunais regionais.
Notas divulgadas pelo tribunal
na semana passada afirmavam
que o TST funciona apenas como
um "mero repassador" dos recursos que vinham do Tesouro Nacional. Explicações dadas pelo
próprio diretor-geral à reportagem da Folha davam conta de que
o processo de liberação de verbas
aos TRTs era quase automático,
precedido de ofícios e mensagens
pelo computador.
O diretor-geral afirmou que nada disso era tratado pelo telefone.
Mesmo assim, entre os anos de
1990 e 1999, Araújo recebeu 1.241
telefonemas da dupla Nicolau-Monteiro de Barros -mais do
que o responsável pela obra, Barros, do que Nicolau, que também
chegou a atuar como presidente
da comissão responsável por fiscalizar a obra do TRT.
Segundo o diretor-geral, que
afirma ser amigo tanto do ex-juiz
como de Monteiro de Barros, as
ligações que recebeu do construtor eram apenas pedidos de informação e não tentativas de pressão.
A relação obtida pela Folha representa uma pequena parte das
cerca de 400 mil chamadas rastreadas pela CPI. Na época, os senadores fecharam um acordo para não divulgar o conteúdo das
listagens.
O principal argumento dos parlamentares era que, ao fazê-lo, estariam desviando o foco das atenções do alvo das investigações, na
época o senador Luiz Estevão.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Diretor do TST recebeu ligações Índice
|