São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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PÚBLICO X PRIVADO
Foram 18 ligações entre junho de 98 e fevereiro de 99
Eduardo Jorge falou com ex-juiz após deixar o cargo

MALU GASPAR
SÔNIA FILGUEIRAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Eduardo Jorge Caldas Pereira continuou a manter contato telefônico com o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, por pelo menos mais dez meses, mesmo depois de deixar o cargo de secretário-geral da Presidência da República.
Pela lista oficial da CPI do Judiciário, foram mais 18 ligações, entre junho de 98 e fevereiro de 99. Eduardo Jorge já disse que todos os contatos com o ex-juiz foram "institucionais", para tratar de interesses do governo. Em abril de 98 ele já havia deixado o governo.
Dados inéditos do sigilo telefônico do ex-juiz Nicolau e de Fábio Monteiro de Barros, dono da Incal, construtora do Fórum Trabalhista de São Paulo, mostram que os dois cultivavam, por telefone, canais de influência em todos os locais necessários para garantir a sobrevivência da obra. Os dados do sigilo telefônico foram mantidos em segredo até hoje.
Nicolau, Monteiro de Barros e Luiz Estevão são os principais personagens do escândalo que resultou na cassação do senador e hoje envolve até Eduardo Jorge.
A relação obtida pela Folha, com 1.468 ligações realizadas pelo ex-juiz e por Monteiro de Barros, mostra que os dois mantinham relações próximas com senadores e com o Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília. Nas 1.468 ligações estão incluídas as que o então juiz fez também do seu gabinete no TRT de São Paulo.
No caso de Eduardo Jorge, depois que o ex-secretário deixou a cargo, os contatos do ex-juiz foram sempre para os seus telefones particulares. Apenas no dia 17 de novembro de 98, uma ligação do gabinete de Nicolau foi feita para o telefone do Planalto, o 411-1309, onde ficava Eduardo Jorge. A ligação durou exato um minuto.
A lista das 1.468 ligações mostra que Nicolau também telefonou -cinco vezes- para o Ministério do Planejamento, em 1996. Segundo o ministério, apenas duas dessas ligações foram atendidas, uma pelo então secretário-executivo e hoje ministro Martus Tavares e outra por seu assessor especial, Amaury Bier, atual secretário-executivo da Fazenda.
O ministro Martus Tavares, que já havia confirmado o contato telefônico com o juiz, afirma não se lembrar do teor da conversa.
Segundo o levantamento da CPI, a ligação mais longa foi feita em 11 de novembro de 1996 e durou nove minutos. Nesse dia, houve duas outras ligações para o ministério, de dois minutos cada uma. Três dias antes, no dia 8, Nicolau fez outras duas ligações, a primeira de dois minutos e a segunda de sete minutos.
Amaury Bier disse ontem, por meio de sua assessoria, não se lembrar dos telefonemas do ex-juiz. O secretário acha possível que tenha havido as ligações, mas, por falar com tanta gente, considera "impossível lembrar de telefonemas de quatro anos atrás".
Entre os parlamentares, o senador Romeu Tuma (PFL), que afirma não ser amigo do ex-juiz e ter-se relacionado com ele apenas em encontros protocolares, é o campeão de ligações. De março de 95 a março de 99, foram 92 chamadas -2 em casa, 12 no celular e 78 no gabinete. As ligações rastreadas foram todas para telefones de Brasília. Tuma foi o mais acionado, mas vários outros parlamentares receberam chamadas do ex-juiz e de Monteiro de Barros.
Entre eles, o ex-deputado Hélio Rosas (PMDB-SP), principal defensor da obra no Congresso, que só era chamado dos telefones das empresas de Monteiro de Barros, e o deputado Ary Kara, que recebeu 17 ligações, mas diz nunca ter falado com o ex-juiz.
Outro contato para a verba do TRT-SP era o diretor-geral do TST, José Geraldo Lopes de Araújo. É o diretor-geral quem supervisiona os repasses de verba do TST para os tribunais regionais.
Notas divulgadas pelo tribunal na semana passada afirmavam que o TST funciona apenas como um "mero repassador" dos recursos que vinham do Tesouro Nacional. Explicações dadas pelo próprio diretor-geral à reportagem da Folha davam conta de que o processo de liberação de verbas aos TRTs era quase automático, precedido de ofícios e mensagens pelo computador.
O diretor-geral afirmou que nada disso era tratado pelo telefone. Mesmo assim, entre os anos de 1990 e 1999, Araújo recebeu 1.241 telefonemas da dupla Nicolau-Monteiro de Barros -mais do que o responsável pela obra, Barros, do que Nicolau, que também chegou a atuar como presidente da comissão responsável por fiscalizar a obra do TRT.
Segundo o diretor-geral, que afirma ser amigo tanto do ex-juiz como de Monteiro de Barros, as ligações que recebeu do construtor eram apenas pedidos de informação e não tentativas de pressão.
A relação obtida pela Folha representa uma pequena parte das cerca de 400 mil chamadas rastreadas pela CPI. Na época, os senadores fecharam um acordo para não divulgar o conteúdo das listagens.
O principal argumento dos parlamentares era que, ao fazê-lo, estariam desviando o foco das atenções do alvo das investigações, na época o senador Luiz Estevão.


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