São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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GM
Presidente comete gafe na inauguração de fábrica no RS
FHC evita falar sobre EJ e pede à oposição que esqueça sectarismo

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GRAVATAÍ

O presidente Fernando Henrique Cardoso evitou ontem falar sobre a crise que envolve o governo, durante a inauguração da fábrica da General Motors, em Gravataí (região metropolitana de Porto Alegre), e pediu à oposição para ""esquecer o sectarismo" para ""o bem do Brasil".
No seu discurso, o presidente cometeu uma gafe ao trocar o nome da GM pelo da Ford, empresa que deixou de se instalar no Rio Grande do Sul devido a um desentendimento com o governo gaúcho. O presidente dirigiu palavras de "reconhecimento ao esforço feito pela Ford". Em seguida, corrigiu-se e disse que a Ford "vai fazer (sua fábrica) em outras paragens (Bahia)".
Em outro momento, FHC se referiu ao Plano Real dizendo que ele teria sido formulado em 1986, quando, na realidade, ele foi implantada em 1994. Em 1986, o plano econômico que entrou em vigor foi o Cruzado. Nesse caso, o presidente não se corrigiu.
FHC permaneceu cerca de uma hora e meia no local e, após a solenidade, que contou com a presença de mais de 2.000 pessoas, deixou a fábrica sem se aproximar dos jornalistas. Houve um protesto contra ele do lado de fora.
Na única referência ao atual momento político, FHC falou de semelhanças entre o comportamento de sua administração e a do governador Olívio Dutra, seu anfitrião e membro do PT -partido que pede investigação sobre as relações do Planalto com o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto.
"O governador não pertence ao meu partido. Vamos unir as forças quando for necessário, vamos estar juntos pelo bem do povo, vamos esquecer os sectarismos, os ódios, a impostura. Há tanta coisa a fazer pelo bem do Brasil", disse FHC.
O protesto contra o presidente foi feito por cerca de mil manifestantes. As pessoas gritaram palavras de ordem vinculando FHC ao caso que envolve o ex-secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira, pivô da atual crise. "Fernando Henrique, amigo do Lalau, cadê a grana do tribunal", diziam os manifestantes.
O coro aludia ao ex-juiz, acusado de participar do desvio de R$ 169 milhões da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo. Ele tinha relações com Eduardo Jorge.
Os manifestantes, que tiveram os ônibus que os transportavam revistados, foram impedidos pela Polícia Militar de entrar na GM. A PM empregou 500 soldados no lado externo da fábrica. FHC, que chegou de helicóptero ao local, não viu e nem ouviu os protestos. O Exército participou do esquema de segurança do lado interno.
A manifestação bloqueou, em duas ocasiões, mas não simultaneamente, as vias de acesso ao complexo automotivo, perto da RS-30. O momento de maior tensão foi quando os manifestantes impediram um caminhão da VDO -uma das fornecedoras da GM- de sair do parque industrial, postando-se na frente do veículo. O motorista teve de recuar e tomar outro rumo.
Os manifestantes, em sua maioria, pertenciam à categoria dos metalúrgicos e ao Movimento dos Trabalhadores Desempregados. Este levou ao local mais de 200 pessoas que estão acampadas em uma área próxima à GM.
Essas famílias reivindicam, para constituir cooperativas de mão-de-obra e de produção, "os mesmos recursos públicos que a montadora obteve do governo federal", conforme disse o líder do grupo, Mauro Cruz, 37.
Valendo-se da onda de arremesso de ovos contra autoridades, um manifestante exibia um cartaz contendo o desenho de um ovo e a inscrição "Ó, pra ti, FHC".
Do outro lado do prédio da GM, ao lado da BR-290, manifestantes ligados ao PMDB gritavam que a instalação da unidade em Gravataí foi uma iniciativa do ex-governador peemedebista Antônio Britto, que não foi reeleito em 98.


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