São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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BASTIDORES

Integrantes da campanha citam ex-governador Fleury como responsável por programa de segurança; assessoria nega

Apoio a Ciro vai de ruralista a ex-comunista

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Filiado ao PDS no início de sua carreira pública e hoje autoproclamando-se um candidato de centro-esquerda, o presidenciável Ciro Gomes (PPS) tem sua trajetória política refletida em uma equipe de campanha que reúne de ruralistas a ex-comunistas.
Principal colaborador na formulação do programa de agricultura do candidato, o deputado federal Nelson Marquezelli (PTB) é o fundador da bancada ruralista na Câmara dos Deputados e um dos encarregados das propostas de reforma agrária e de meio-ambiente de Ciro.
Empresário agrícola, citricultor, pecuarista e um dos principais líderes de seu grupo de parlamentares, no ano passado chocou ativistas de direitos humanos ao declarar que ""bandido bom é bandido preso e bandido ruim, bandido no cemitério".
Envolvido em um projeto que, como ele mesmo diz, pretende ""agregar valor aos produtos agrícolas", o deputado avalia que o fato de ser um ruralista não trará constrangimentos a Ciro.
""Não vejo problema nenhum nisso. Não somos nem de esquerda, nem de direita. Somos nacionalistas. Temos ruralistas até do PT", explica ele.

Fleury Filho
Também é citado como um dos integrantes da equipe do presidenciável o deputado federal Luiz Antônio Fleury Filho (PTB), governador de São Paulo quando 111 presos foram mortos pela Polícia Militar durante o episódio que ficou conhecido como o ""massacre do Carandiru", em 92.
Fleury tem sido mencionado por vários integrantes da coordenação da campanha de Ciro como responsável pela formulação do programa na área de segurança, um dos aspectos mais valorizados pelo presidenciável durante seus discursos políticos.
A morte dos 111 presos chegou inclusive a ser motivo de um bate-boca entre o então governador do PMDB e o presidenciável, que à época comandava o Ceará.
Em resposta a críticas do hoje candidato a uma possível aliança entre o PMDB e o PSDB, partido ao qual Ciro era filiado, Fleury afirmou que, ""em vez de falar com cólera, o governador deveria cuidar da cólera em seu Estado", em referência ao fato de que o Ceará era, naquele período, recordista de casos da doença no país.
Ciro reagiu com ironia à declaração. ""Acho que esse tiro saiu pelo Carandiru", disse.
A assessoria do candidato, entretanto, negou na sexta-feira que o ex-governador esteja trabalhando no programa. ""Então acabaram de tirá-lo", declarou um dos integrantes da coordenação da campanha ao ser informado sobre o assunto.
Segundo a assessoria de Ciro, as principais diretrizes do programa na área de segurança estão sendo determinadas pelo presidenciável, que ainda não teria escolhido o encarregado do setor.

Resumo
Não é isso o que diz Fleury. De acordo com o deputado, foi o próprio coordenador-geral de programa do candidato, o filósofo Roberto Mangabeira Unger, quem lhe pediu que apresentasse propostas há cerca de dois meses.
""Estou atrasado, mas entrego um resumo com as minhas idéias ao Ciro nesta terça-feira, em São Paulo", declarou Fleury, que ainda disse já ter discutido o tema com o próprio presidenciável, durante encontro no Rio.
Além de Fleury, também trabalha no projeto o deputado federal Roberto Jefferson, que era da tropa de choque de Fernando Collor de Mello e um dos articuladores da aliança entre o o PTB e o ex-presidente para a disputa do governo de Alagoas neste ano.
Namorada de Ciro, a atriz Patrícia Pillar é uma das principais responsáveis pelo programa de cultura do presidenciável. Trabalham com ela no projeto o deputado estadual do Ceará Paulo Linhares e a produtora Marisa Leão.
Um primeiro texto sobre o assunto deve ser apresentado no início da próxima semana no site de Ciro na internet.
O deputado estadual do Ceará Mauro Benevides Filho (PTB) é o responsável pela economia, mas tem sido auxiliado na tarefa por Maurício Dias David, do BNDES -Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-, e por Luiz Rabi, economista licenciado do Bic Banco.
Auxiliares de Ciro afirmam que, assim como David, são muitos os colaboradores de seu programa que integram o governo de Fernando Henrique Cardoso. Dizem manter segredo sobre nomes com receio de retaliações.
Ex-militante do PCB, o presidente do PPS, Roberto Freire, é um dos três integrantes do conselho político de Ciro. Foi o articulador, em 92, da mudança do nome de seu partido para PPS e do abandono do comunismo.



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