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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ATAQUE A PALOCCI
Plano inclui declaração do ministro da Fazenda e negociação de limites com a oposição
Governo quer blindar Palocci para tranqüilizar mercado
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia seguinte à acusação que
trouxe o ministro da Fazenda pela
primeira vez para o centro da crise política, a cúpula do governo
montou estratégia para blindar
Antonio Palocci Filho. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pretende reunir seus principais
ministros ainda no final de semana e dar até amanhã forte declaração pública de apoio a Palocci. O
ministro dará entrevista hoje, às
12h, numa operação para evitar
que o mercado financeiro amanhã abra "nervoso", segundo expressão de auxiliar direto de Lula.
A Folha apurou que, nas discussões feitas ontem de manhã por
telefone entre Lula e auxiliares, a
estratégia pró-Palocci se desenvolverá em três frentes: acalmar o
mercado financeiro, discutir com
a oposição limites para a luta política e tirar da Promotoria paulista
o comando jurídico das apurações sobre o tempo em que Palocci era prefeito de Ribeirão Preto.
Intocável
"A primeira atitude importante
é todo o governo demonstrar
confiança em Palocci", diz um assessor presidencial. Segundo ele,
isso será fundamental para evitar
que o mercado financeiro "entre
em pânico ou reaja mal" amanhã,
segunda-feira.
Para o governo, o comportamento dos principais indicadores
financeiros, como a Bolsa, o dólar
e o risco-país, na segunda e nos
dias seguintes mostrarão se a estratégia de proteger Palocci terá
sucesso no front econômico. A
entrevista do ministro hoje terá
fundamentalmente esse objetivo.
Lula repetiu ontem a auxiliares
que Palocci é intocável. "Deposito
toda a confiança nele", afirmou,
deixando claro que descarta eventual saída do ministro da Fazenda, ainda que temporária, como
aventaram petistas e outros ministros sob o impacto da acusação
feita na sexta-feira pelo advogado
Rogério Tadeu Buratti, ex-assessor de Palocci quando o ministro
era prefeito de Ribeirão Preto. Buratti disse que Palocci recebia propina de R$ 50 mil mensais de uma
empresa, o que o ministro negou
"veementemente" em nota.
Oposição e promotores
Lula deverá ainda criticar o que
considera "exageros" recentes na
crise cometidos por promotores,
políticos e imprensa. Reservadamente, disse ser "sacanagem" os
promotores terem divulgado a
acusação de Buratti, e membros
de CPIs e a mídia darem a doleiros como Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona,
credibilidade para atacar o PT e o
governo "sem provas".
Em relação à oposição, Lula terá
duas atitudes. Endurecerá com alguns setores, como o tucanato
paulista, e tentará, por meio de
emissários, estabelecer algum limite para o que ele chama de "luta
política" na atual crise. Argumento: se a economia derreter, todos
perderão, inclusive os oposicionistas que desejam recuperar o
poder central em 2006.
Contatos
Ainda na sexta, membros do governo, como o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o secretário-executivo de Palocci,
Murilo Portugal, fizeram pontes
com o PFL e o PSDB. Thomaz
Bastos falou com os senadores
Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Portugal, que participou do
governo do tucano Fernando
Henrique Cardoso, acionou seus
contatos no PSDB e no PFL.
Ao longo da sexta, foi perceptível a mudança de tom de dirigentes da oposição. O próprio FHC
pediu moderação aos ataques a
Palocci, ciente de que uma crise
política com crise econômica poderá arruinar os planos tucanos
para as eleições do ano que vem.
Lula ficou contrariado com o
governador paulista Geraldo
Alckmin (PSDB). Reservadamente, assessores presidenciais dizem
que o secretário de Segurança Pública de Alckmin, Saulo de Castro
Abreu Filho, providenciou o
transporte da gravação do depoimento de Buratti de Ribeirão Preto para a sede na capital paulista
de uma rede de TV. A gravação foi
feita pela Promotoria. Para o governo, a rede de TV cumpriu seu
papel, mas Saulo, não.
Seria prova, na visão do governo, de que os tucanos estão instrumentalizando o Ministério Público paulista contra o PT e Palocci. O secretário de Alckmin sonha
com a candidatura ao governo
paulista no ano que vem. Alckmin
é presidenciável tucano.
Lula pedirá ainda que o PT assuma uma discurso uniforme e
forte na defesa de Palocci.
Frente jurídica
Na frente jurídica, o governo
buscará transferir a investigação
do Ministério Público paulista para a esfera federal. Como Palocci é
ministro, pode ser processado
apenas no STF (Supremo Tribunal Federal) e somente pode ser
denunciado pelo procurador-geral da República.
O ministro da Justiça vai continuar a bater nos promotores paulistas, que teriam cometido abuso
ao divulgar o depoimento de Buratti. Para o governo federal, o
procedimento correto seria remeter tal depoimento ao STF. Auxiliares de Lula consideram que, no
STF e na Procuradoria Geral da
República, uma investigação a
respeito das relações de Palocci
com Buratti será feita com mais
rigor e discrição do que pelos promotores paulistas.
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