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ELDORADO DO CARAJÁS
Sessões só retornam quando TJ decidir sobre anulação
Promotor abandona júri,
e julgamento é suspenso
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Belém
LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém
Até que o TJ (Tribunal de Justiça) do
Pará decida se anula ou mantém a absolvição dos três
oficiais que participaram da operação que resultou
na morte de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (sul do Pará),
está suspenso o julgamento dos
outros 147 policiais militares envolvidos no caso.
A suspensão dos trabalhos foi
provocada pelo promotor Marco
Aurélio Nascimento, que abandonou o tribunal do júri em protesto
contra a conduta do juiz Ronaldo
Valle. Sem o acusador, o juiz não
pode levar o caso adiante.
Ontem, no início do segundo
bloco do julgamento, o promotor
solicitou ao juiz que suspendesse
a sessão. Seriam julgados o capitão Raimundo de Souza Oliveira e
os tenentes Jorge Nazaré Araújo
dos Santos, Natanael Guerreiro
Rodrigues e Mauro Sérgio Marques da Silva.
O promotor argumentou que a
paralisação era necessária até que
o TJ se pronunciasse sobre seu pedido de anulação do julgamento
que absolveu o coronel Mário Colares Pantoja, o major José Maria
Oliveira e o capitão Raimundo Almendra Lameira.
O juiz não concordou. Em protesto, o promotor deixou imediatamente o tribunal, obrigando à
suspensão da sessão.
O Ministério Público do Pará
anunciou que não indicará um
novo promotor para o caso, avalizando a atitude de Nascimento.
Com isso, o julgamento dos
próximos réus só será retomado
quando Nascimento voltar ao tribunal do júri, o que ele promete
fazer quando o TJ se pronunciar
sobre seu pedido de anulação.
Calcula-se que o TJ decidirá a
questão no prazo de seis meses. A
conclusão do julgamento ficará
então para o próximo ano, no mínimo. A previsão anterior era acabar no início de dezembro.
Insuficiência de provas
A anulação do julgamento dos
comandantes da operação da PM
foi pedida ontem pelo promotor.
Ele não aceita o fato de o juiz ter
incluído o item insuficiência de
provas entre os quesitos (perguntas formuladas aos jurados que
decidem o veredicto).
Ao votar esse quesito, a maioria
deles considerou que não havia
provas suficientes para a condenação dos réus.
Antes porém, mais da metade
do júri já tinha respondido afirmativamente a outros dois quesitos referentes à participação dos
réus nas mortes.
O juiz defendeu o quesito, sob o
argumento de que uma das teses
da defesa era a insuficiência de
provas. E avisou que a mesma
pergunta seria incluída no julgamento dos outros 147 réus.
O promotor avaliou, então, que
a repetição iria provocar a absolvição de todos os policiais envolvidos no caso.
A atitude de Nascimento desagradou a Ronaldo Valle. "Nos
meus dez anos como juiz, nunca
vi um promotor abandonar o tribunal do júri. Isso não existe em
direito", declarou.
O advogado de defesa dos policiais que seriam julgados ontem,
Abdoral Lopes, também reclamou. "Isso só vai fazer com que a
sociedade espere ainda mais por
uma resposta", afirmou.
No entanto, o procurador-geral
interino de Justiça do Pará, Francisco Barbosa de Oliveira, apoiou
Nascimento. "Se o promotor não
agisse dessa forma, os julgamentos subsequentes seriam contaminados pelo primeiro, que foi
viciado", declarou.
Ontem, integrantes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) fizeram uma
manifestação em frente ao TJ, pedindo a anulação do julgamento.
"Acho que estamos começando
a fazer uma limonada desse limão", disse João Pedro Stedile, líder nacional do MST, ao saber da
suspensão dos trabalhos.
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