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JANIO DE FREITAS
Índices de vida
Entre tantos índices e porcentos e siglas, que os economistas e um punhado de jornalistas tricotam como nossas
velhas avós com suas linhas sem
fim, poucos são os que interessam mesmo: refletem a vida, falam de mulheres e homens, de
idosos e crianças. Destes, sim, os
presidentes, ministros e outros
governantes devem explicações
a todos os governados. Do "risco-Brasil", dos pontos da Bolsa
e das outras tecnicalidades que
povoam os jornais e os fazem
mais indigestos, os governantes
devem explicações aos banqueiros e especuladores internacionais, ao FMI e demais entidades do colonialismo.
À margem do que interessa a
economistas e seus porta-vozes
na mídia, as famílias estão cortando os gastos com alimentos.
E não se trata de gasto com produtos supérfluos, não. O levantamento semestral da Associação Brasileira de Supermercados indica que produtos básicos
da alimentação -arroz, açúcar, óleo, macarrão, além de
outros- compõem o quadro
dos maiores cortes de gastos dos
consumidores. São cortes que, a
manterem o mesmo impulso,
correspondem a mais 15%, 10%
e por aí em diante.
O IBGE divulgou agora os dados sobre julho. Economistas e
jornalistas econômicos fazem
comentários ainda mais entusiasmados com a "retomada
lenta, mas segura do crescimento". Mas sabem que os míseros
0,4% a mais na produção industrial de julho resultaram de
maior extração de petróleo.
"Crescimento industrial" criado pelo fundo do mar, e não pelo maquinário da indústria, cujas horas de trabalho remunerado continuaram diminuindo,
sobretudo onde mais poderiam
crescer, São Paulo, Minas e Rio.
O desemprego, claro, aumentou. E a soma dos salários pagos
caiu: diminuição de 6,1% no governo Lula até julho.
Mas pudemos ver, a meio da
semana, o presidente e dois de
seus ministros mais representativos dos dados acima - Antônio Palocci, da Fazenda, e Jacques Wagner, do Trabalho -
ilustrando com festivos sorrisos
a solenidade de assinatura de
um novo crédito: R$ 200 milhões para financiar compras
de eletrodoméstico. A maior
parte da mídia não faltou com
o destaque esperado pelo governo para o seu ato de generosidade com os trabalhadores de
baixa remuneração. Só que a
medida foi para socorrer a indústria de eletrodomésticos, cujas máquinas estão paradas
50% do tempo previsto para
produção e os negócios equivalem aos da crise feita pelo governo Collor. Então, temos o seguinte: a política econômica sufoca a produção industrial e o
consumo, e depois aplica dinheiro em financiar um pouco
de consumo para oxigenar,
também um pouco, o setor industrial posto em coma induzido pelo dr. Palocci.
Menor consumo de alimentos, o que é falar também de
saúde e de crianças; menor valor dos salários, maior desemprego, são palavras e índices variados para significar o mesmo:
pessoas. Milhões de pessoas.
Que não estão nas Bolsas, não
jogam nas especulações com o
"risco-Brasil", não participam
dos festejos, feiras, solenidades
várias e discurseiras que recheiam os dias presidenciais e
ministeriais. São pessoas, simplesmente, milhões de pessoas.
Às quais, digamos por justiça, o
poder deu oportunidade de serem tratadas como os demais
-em certo dia, quando serviram para votar.
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