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MINISTÉRIO PÚBLICO
Luiz Francisco diz que governo "negocia mais'; Fonteles extingue grupo que cuidava de lavagem de dinheiro
Ímpeto da procuradoria arrefece sob Lula
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O MPF (Ministério Público Federal) não mostrou, até agora, no
governo do petista Luiz Inácio
Lula da Silva, o ímpeto acusatório
com que alguns procuradores
fustigaram a gestão tucana durante os oito anos de mandato de Fernando Henrique Cardoso.
A discrição mantida pelo ex-procurador-geral da República
Geraldo Brindeiro no início do
governo do PT tende a aumentar
com o sucessor, Cláudio Lemos
Fonteles, que assumiu em julho,
escolhido por Lula.
Nomeado quatro vezes para o
cargo por FHC, Brindeiro ganhou
a imagem de "engavetador" de
processos. Não tinha liderança interna, o que abria espaço para
procuradores darem publicidade
a investigações ainda na fase inicial. Fonteles condena a superexposição de procuradores na mídia. Com forte apoio interno, evitou que viessem à tona os primeiros choques de orientação.
Sem maior divulgação, por
exemplo, Fonteles extinguiu o
Gaeld (Grupo de Atuação Especial no Combate à Lavagem de Dinheiro), um grupo de inteligência
pioneiro no MPF, que reunia procuradores de vários Estados, todos com experiência na investigação de crimes financeiros.
Essa tropa fora criada na gestão
de Brindeiro. Sua eliminação
-sem que fossem ouvidos os integrantes- gerou a primeira manifestação interna de descontentamento contra ato de Fonteles
(leia texto à direita).
Acordo evita ação
"O governo do PT negocia mais,
e eu acredito que a gestão dos recursos públicos melhorou", diz o
procurador da República Luiz
Francisco de Souza, que ficou famoso por sua persistência em investigar Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência no governo FHC.
Como exemplos de negociação,
Luiz Francisco diz que deixou de
entrar com ação contra a terceirização de médicos peritos no INSS
porque obteve um acordo em
reunião com o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, e
com a direção daquela autarquia.
Outra ação deixou de ser oferecida, ao obter acordo regularizando a situação de menores terceirizados pela Câmara dos Deputados, afastando-se uma entidade
que explorava essas contratações.
A procuradora da República
Raquel Branquinho, que investiga
casos de improbidade administrativa do governo federal, tem
outra interpretação para o desempenho do MPF no governo Lula:
"A grande demanda de atuação
do MPF, até o final do ano passado, era feita por parlamentares e
demais entidades vinculadas aos
chamados partidos de esquerda, o
que deixou de ocorrer a partir da
mudança do governo federal".
A criação do foro especial para
autoridades criou dificuldades
maiores para a apuração de improbidade administrativa.
Apurações preliminares
Levantamento parcial de apurações realizadas pelo MPF no governo Lula (ver quadro) lista 14
procedimentos administrativos
preliminares, principalmente sobre suspeitas de irregularidades
em contratos. A Procuradoria Geral da República não dispõe de
um acompanhamento sistemático das investigações.
Foram abertos, entre outros,
procedimentos administrativos
para apurar contratos dos Ministérios da Justiça, dos Transportes,
das Comunicações e da Previdência. A maior parte das investigações teve origem na imprensa.
O MPF apura a escolha das
agências que farão a propaganda
institucional do governo Lula, o
"loteamento" de Cargos de Natureza Especial na Câmara dos Deputados, e ainda estuda investigar
as compras feitas pela Presidência
da República para provisionamento do Palácio da Alvorada, fatos revelados pela Folha.
O MPF apura o "suposto exercício ilegal de advocacia" pelo subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, José Antônio Dias Toffoli,
que, segundo o MPF, "continua
exercendo advocacia privada e representando clientes do PT".
"O MPF deve ser rigoroso contra todos", diz o procurador Luiz
Francisco. Ele acha que "as coisas
ficaram meio paradas no começo
do ano, sem praticamente investimentos". "Houve pouca coisa a
fazer, não houve privatizações".
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