São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Envolvido em escândalo, diretor do BB cai

Apontado por empresário à PF como intermediário na negociação de dossiê, Expedito Veloso pediu afastamento do banco

Valdebran Padilha disse em depoimento, que além do ex-agente Gedimar, se encontrou em hotel com petista chamado "Expedito"


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA

A crise do dossiê com supostas denúncias contra o candidato tucano ao governo paulista, José Serra, derrubou ontem o terceiro petista da campanha nacional do partido e envolveu o Banco do Brasil no escândalo. O diretor de Gestão de Risco da instituição, Expedito Afonso Veloso, pediu afastamento ontem menos de 24 horas depois de ser divulgado que ele participou ativamente na operação de montagem do dossiê.
O empresário Valdebran Carlos Padilha da Silva, que foi detido e depois solto pela Polícia Federal por envolvimento no caso do dossiê, afirmou em depoimento anteontem, em Cuiabá (MT), que, além do advogado Gedimar Pereira Passos, preso junto com ele, também se encontrou no hotel Ibis Congonhas, na capital paulista, com uma pessoa que se identificou como "Expedito" e que se disse "membro do PT".
"Expedito" seria o diretor do Banco do Brasil. Funcionário de carreira, Expedito Veloso trabalha no BB há 18 anos e desde 14 de agosto estava em licença remunerada. Seu pedido de afastamento foi entregue pessoalmente por ele, na sede do BB em Brasília, e aprovado pelo Conselho de Administração do banco. Apesar desse desfecho, no entanto, ele continuará recebendo o salário de cerca de R$ 17 mil por mês.
A justificativa do BB é que, pelo regulamento do banco, o funcionário não pode ser punido com a suspensão do salário antes de ser concluída uma apuração interna para verificar se ele feriu as regras internas. Como estava de licença, a comissão de investigação terá que se pronunciar se as atividades dele nesse período contrariam os regulamentos do BB e atestar se houve uso do banco.
O conselho pediu urgência na apuração -mas não há um prazo determinado para conclusão. A negociação sobre o destino de Expedito Veloso se estendeu pela madrugada e a manhã de ontem. A preocupação da cúpula do BB e do Ministério da Fazenda era desvincular o caso da instituição, resumindo o escândalo a uma atitude isolada do funcionário que não estava exercendo atividades. Com isso tenta afastar o caso do governo e deixá-lo como algo referente apenas ao PT.
Na carta encaminhada ao presidente do BB, Rossano Maranhão, Expedito Veloso lembra que está "de licença anual remunerada (férias)".
"Nesse período, atendi, por minha livre e espontânea vontade, a questões estritamente particulares, não tendo levado ao conhecimento dos meus superiores no banco a natureza dessas atividades", diz a carta. Em seguida, afirma que as atividades "não tiveram e não têm qualquer relação com o Banco do Brasil" e que prestará "informações necessárias nos fóruns adequados".

Depoimento
No depoimento de três páginas, ao qual a Folha teve acesso, Valdebran disse que o encontro com Expedito aconteceu no saguão do hotel em São Paulo e que este estava acompanhado de Gedimar.
Primeiro, o empresário disse que o encontro aconteceu na quarta-feira, dia 13. Depois, que teria sido no final da tarde de quinta. A ida de Expedito ao hotel, contou Valdebran, aconteceu após Gedimar ter entregue a ele R$ 1 milhão, metade do valor que seria pago pelo dossiê, o que ocorreu no dia 13.
O empresário afirmou no depoimento que relutou em permanecer no hotel para aguardar a chegada da outra metade do dinheiro, porém aceitou depois de Gedimar dizer que a situação se resolveria até o dia seguinte. Segundo Valdebran, Expedito disse a ele que não se preocupasse porque o dinheiro seria entregue conforme combinado com o empresário Luiz Antonio Vedoin, dono da Planan, acusado de ser chefe da máfia dos sanguessugas e de negociar a venda do dossiê.
Ainda segundo Valdebran, Expedito disse que esse não era seu nome verdadeiro, mas afirmou ser "membro do PT."

Descrição
À PF, Valdebran descreveu Expedito como um homem moreno, alto, com idade entre 40 e 45 anos, de cabelos lisos e pretos, magro e de óculos. O diretor afastado do BB é calvo.
Valdebran disse ainda que, além de Gedimar e Expedito, manteve contato, por telefone, com uma terceira pessoa que se disse ligada ao PT. Foram duas conversas, uma na quarta e outra na quinta-feira, que aconteceram por meio do telefone celular de Gedimar.
Essa pessoa, segundo ele, se apresentou como "Jorge" e disse ser "chefe de Gedimar". No depoimento, ele não relata o teor da conversa com "Jorge."
O superior imediato de Gedimar na campanha de Lula era Jorge Lorenzetti, analista de risco e mídia, que deixou a função anteontem após ter seu nome envolvido no caso.
À PF, Valdebran disse que é filiado ao PT "há muitos anos", mas que não conhece o ex-assessor especial da Presidência Freud Godoy. Disse desconhecer também Jorge Lorenzetti.


Texto Anterior: Eleições 2006: Ministro diz que já não era responsável por Bargas
Próximo Texto: Perfil: Veloso tentou ser suplente de senador
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.