|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Envolvido em escândalo, diretor do BB cai
Apontado por empresário à PF como intermediário na negociação de dossiê, Expedito Veloso pediu afastamento do banco
Valdebran Padilha disse
em depoimento, que além do ex-agente Gedimar, se encontrou em hotel com petista chamado "Expedito"
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA
A crise do dossiê com supostas denúncias contra o candidato tucano ao governo paulista, José Serra, derrubou ontem
o terceiro petista da campanha
nacional do partido e envolveu
o Banco do Brasil no escândalo.
O diretor de Gestão de Risco da
instituição, Expedito Afonso
Veloso, pediu afastamento ontem menos de 24 horas depois
de ser divulgado que ele participou ativamente na operação de
montagem do dossiê.
O empresário Valdebran
Carlos Padilha da Silva, que foi
detido e depois solto pela Polícia Federal por envolvimento
no caso do dossiê, afirmou em
depoimento anteontem, em
Cuiabá (MT), que, além do advogado Gedimar Pereira Passos, preso junto com ele, também se encontrou no hotel Ibis
Congonhas, na capital paulista,
com uma pessoa que se identificou como "Expedito" e que se
disse "membro do PT".
"Expedito" seria o diretor do
Banco do Brasil. Funcionário
de carreira, Expedito Veloso
trabalha no BB há 18 anos e
desde 14 de agosto estava em licença remunerada. Seu pedido
de afastamento foi entregue
pessoalmente por ele, na sede
do BB em Brasília, e aprovado
pelo Conselho de Administração do banco. Apesar desse desfecho, no entanto, ele continuará recebendo o salário de
cerca de R$ 17 mil por mês.
A justificativa do BB é que,
pelo regulamento do banco, o
funcionário não pode ser punido com a suspensão do salário
antes de ser concluída uma
apuração interna para verificar
se ele feriu as regras internas.
Como estava de licença, a comissão de investigação terá que
se pronunciar se as atividades
dele nesse período contrariam
os regulamentos do BB e atestar se houve uso do banco.
O conselho pediu urgência
na apuração -mas não há um
prazo determinado para conclusão. A negociação sobre o
destino de Expedito Veloso se
estendeu pela madrugada e a
manhã de ontem. A preocupação da cúpula do BB e do Ministério da Fazenda era desvincular o caso da instituição, resumindo o escândalo a uma atitude isolada do funcionário que
não estava exercendo atividades. Com isso tenta afastar o caso do governo e deixá-lo como
algo referente apenas ao PT.
Na carta encaminhada ao
presidente do BB, Rossano Maranhão, Expedito Veloso lembra que está "de licença anual
remunerada (férias)".
"Nesse período, atendi, por
minha livre e espontânea vontade, a questões estritamente
particulares, não tendo levado
ao conhecimento dos meus superiores no banco a natureza
dessas atividades", diz a carta.
Em seguida, afirma que as atividades "não tiveram e não têm
qualquer relação com o Banco
do Brasil" e que prestará "informações necessárias nos fóruns
adequados".
Depoimento
No depoimento de três páginas, ao qual a Folha teve acesso, Valdebran disse que o encontro com Expedito aconteceu no saguão do hotel em São
Paulo e que este estava acompanhado de Gedimar.
Primeiro, o empresário disse
que o encontro aconteceu na
quarta-feira, dia 13. Depois,
que teria sido no final da tarde
de quinta. A ida de Expedito ao
hotel, contou Valdebran, aconteceu após Gedimar ter entregue a ele R$ 1 milhão, metade
do valor que seria pago pelo
dossiê, o que ocorreu no dia 13.
O empresário afirmou no depoimento que relutou em permanecer no hotel para aguardar a chegada da outra metade
do dinheiro, porém aceitou depois de Gedimar dizer que a situação se resolveria até o dia
seguinte. Segundo Valdebran,
Expedito disse a ele que não se
preocupasse porque o dinheiro
seria entregue conforme combinado com o empresário Luiz
Antonio Vedoin, dono da Planan, acusado de ser chefe da
máfia dos sanguessugas e de
negociar a venda do dossiê.
Ainda segundo Valdebran,
Expedito disse que esse não era
seu nome verdadeiro, mas afirmou ser "membro do PT."
Descrição
À PF, Valdebran descreveu
Expedito como um homem
moreno, alto, com idade entre
40 e 45 anos, de cabelos lisos e
pretos, magro e de óculos. O diretor afastado do BB é calvo.
Valdebran disse ainda que,
além de Gedimar e Expedito,
manteve contato, por telefone,
com uma terceira pessoa que se
disse ligada ao PT. Foram duas
conversas, uma na quarta e outra na quinta-feira, que aconteceram por meio do telefone celular de Gedimar.
Essa pessoa, segundo ele, se
apresentou como "Jorge" e disse ser "chefe de Gedimar". No
depoimento, ele não relata o
teor da conversa com "Jorge."
O superior imediato de Gedimar na campanha de Lula era
Jorge Lorenzetti, analista de
risco e mídia, que deixou a função anteontem após ter seu nome envolvido no caso.
À PF, Valdebran disse que é
filiado ao PT "há muitos anos",
mas que não conhece o ex-assessor especial da Presidência
Freud Godoy. Disse desconhecer também Jorge Lorenzetti.
Texto Anterior: Eleições 2006: Ministro diz que já não era responsável por Bargas Próximo Texto: Perfil: Veloso tentou ser suplente de senador Índice
|