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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
PT já fazia dossiês em 2002, diz sindicalista
Consultor sindical diz ter integrado grupo, criado sob consentimento de Lula, que buscava acusações contra candidatos rivais
Segundo Wagner Cinchetto, Berzoini e Oswaldo Bargas participavam de equipe que levantou denúncias contra Serra e vice de Ciro Gomes
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O consultor sindical Wagner
Cinchetto, 43, afirmou ontem,
em entrevista à Folha, que dois
dos principais personagens da
operação de compra de dossiê
contra tucanos na atual campanha eleitoral participaram de
um grupo petista que operou
na campanha presidencial de
2002 para proteger o então
candidato Luiz Inácio Lula da
Silva de denúncias e levantar
acusações contra os adversários da campanha.
Segundo Cinchetto, Ricardo
Berzoini -então deputado federal e hoje presidente nacional do PT- e Oswaldo Bargas,
amigo de Lula e ex-assessor do
Ministério do Trabalho, eram
dois dos cinco integrantes de
um "grupo de inteligência" da
campanha lulista de 2002.
Em 2003, a revista "Veja" revelou a existência do aparato
da campanha de 2002. Na época, a revista disse ter apurado o
assunto com 17 fontes.
Assessor da presidência da
Força Sindical por dois anos
(1991-1993) e um dos fundadores da central, hoje consultor
sindical, Cinchetto resolveu
quebrar o silêncio de quatro
anos e afirmou que documentos foram obtidos no Banco do
Brasil para atacar o então candidato tucano à Presidência da
República, José Serra.
O grupo também estaria por
trás de denúncias contra o vice
do candidato Ciro Gomes (então no PPS e hoje no PSB), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
FOLHA - O sr. integrou um grupo
criado na campanha de Lula em
2002 com o objetivo de levantar denúncias contra adversários?
WAGNER CINCHETTO - Num primeiro momento, nós achávamos que o candidato Lula tinha
sido muito atacado nas eleições
anteriores. Nós organizamos
um grupo e apresentamos uma
proposta de trabalhar paralelo
ao comitê eleitoral no sentido
de antecipar alguns fatos, algumas denúncias que os adversários poderiam fazer, e, ao mesmo tempo, reunir material suficiente e capaz de não só combater as denúncias dos adversários como também divulgar as
denúncias contra os principais
adversários do candidato Lula.
FOLHA - Quem integrava o grupo?
CINCHETTO - Oswaldo Bargas,
Carlos Alberto Grana, que era o
secretário-geral da CUT, Berzoini e outros.
FOLHA - Quais foram as principais
operações do grupo?
CINCHETTO - Primeiro houve
uma série de operações no sentido de inviabilizar o vice do então candidato Garotinho, uma
tentativa de recolher materiais
que pudessem ser divulgados
em denúncias contra o Ricardo
Sérgio e o pessoal do Serra.
Também foram reunidas todas
as denúncias e as informações
que pudessem denunciar o vice
do então candidato Ciro Gomes, Paulo Pereira da Silva.
FOLHA - Sobre Paulo Pereira da Silva, o que vocês conseguiram reunir
e o que fizeram com isso?
CINCHETTO - Na época, Ciro Gomes teve um crescimento muito grande nas pesquisas, que
mostrava que num segundo
turno ele derrotaria o candidato Lula. Foi então que nós passamos a trabalhar no ponto fraco que nós considerávamos da
campanha dele, que foi a escolha do vice, presidente da Força
Sindical. Contra ele já havia
uma série de denúncias de irregularidades na gestão de recursos do FAT [Fundo de Amparo
ao Trabalhador], a compra de
uma fazenda superfaturada no
interior de São Paulo, o Ministério Público já vinha investigando todas essas denúncias, e
o trabalho do grupo foi simplesmente dar um pouco mais
de transparência à imprensa
para que esses fatos pudessem
vir ao esclarecimento público.
FOLHA - Esse material acabou sendo divulgado pela imprensa?
CINCHETTO - Foi divulgado de
uma maneira muito ampla pela
grande imprensa, inclusive foi
capa das principais revistas de
São Paulo. E logo em seguida o
Ciro Gomes começou a perder
a cabeça, começou a ter uma série de problemas com seu vice.
As denúncias atingiram em
cheio a candidatura. Assim que
o Ciro começou a cair, o pessoal
chegou a me agradecer muito
pelo trabalho realizado.
FOLHA - Sobre José Serra, o que foi
levantado pela equipe?
CINCHETTO - Na ocasião, o grupo
atuou no sentido de conseguir
papéis importantes sobre um
empréstimo feito ao então parente do Serra [Gregório Marin
Preciado]. Essa documentação
estava guardada no Banco do
Brasil e essa operação contou
com o apoio também de funcionários do Banco do Brasil. E em
seguida nós enviamos os documentos ao Ministério Público e
à imprensa. O trabalho foi exclusivamente em cima de tornar públicos esses documentos, não se vendeu dossiê.
FOLHA - Dos nomes que você citou
como integrantes do grupo, dois
voltaram ao noticiário nesse escândalo, Oswaldo Bargas e Ricardo Berzoini. O sr. acha que há um novo
grupo em ação, como o de 2002?
CINCHETTO - Há grande diferença entre os dois grupos. O de
2002 trabalhou de maneira
profissional, tinha um objetivo
de levar o candidato Lula à sua
primeira vitória eleitoral, protegendo-o de denúncias infundadas e fazendo com que o candidato passasse a ter reais
chances de vitória. Diferentemente da organização desse
grupo atual, que mais parece
um bando de irresponsáveis
comandado por um churrasqueiro, Jorge Lorenzetti. E que
se juntou com uma outra pessoa que é o Bargas. Naquele
momento, lá atrás, trabalhou
de maneira correta e negou que
tivesse participado do grupo,
não teve coragem de assumir o
trabalho digno que fez no primeiro grupo, para poder continuar no espaço que o levou a fazer essa trapalhada.
FOLHA - O candidato Lula tinha conhecimento da existência do grupo?
CINCHETTO - Pelo que fui informado pelos outros companheiros, não só tinha conhecimento
como autorizou que o grupo
fosse criado e organizado para
trabalhar paralelamente à sua
campanha. Jamais ninguém
iria fazer um grupo desse de livre e espontânea vontade, envolvendo pessoas tão importantes da campanha, sem que o
candidato soubesse.
FOLHA - Em 2003, a revista "Veja"
divulgou reportagem e o sr. não se
manifestou oficialmente. Por que só
agora decidiu revelar o que sabe?
CINCHETTO - Não me manifestei
porque recebi pedido do Carlos
Grana [da CUT]. Ele disse: "O
que o PT, o que o presidente
Lula espera nesse momento, é
o silêncio dos companheiros".
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