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São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2003

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Ministros saem em defesa da colega

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Os ministros Guido Mantega (Planejamento) e Ciro Gomes (Integração Nacional) e o vice-presidente da República, José Alencar, saíram ontem em defesa da ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social).
No final de setembro, ela viajou à Argentina para participar de uma reunião evangélica. Acusada de fazer a viagem à custa dos cofres públicos, Benedita só agendou uma reunião com a ministra de Desenvolvimento Social da Argentina, Alicia Kirchner, na véspera do encontro.
"Fizeram tempestade em copo d'água", afirmou Mantega ontem, antes do lançamento do programa Bolsa-Família, do qual Benedita também participou. "Agora ela vai fazer o pagamento e depois vai discutir se tinha razão ou não. Com isso, não haverá problema nem prejuízo para ninguém."
A declaração do ministro foi feita antes de Benedita anunciar, ontem à noite, que pagará R$ 4.676,38 pela sua passagem e a de uma assessora a Buenos Aires.
Ciro Gomes afirmou que, independentemente da posição do Conselho de Ética Pública, que analisa a viagem da ministra, ele "bancaria politicamente" a colega da Esplanada. Na semana passada, a comissão recomendou à ministra que devolvesse o dinheiro.
"Não estou fazendo juízo de valor. O Conselho de Ética é livre. Entendeu lá, eticamente, o que achava que deveria ser. Eu, politicamente, bancaria a Benedita e fim de papo", afirmou o ministro ontem à tarde, após fazer uma série de exames médicos de rotina numa clínica em Belo Horizonte.
Em São Paulo, José Alencar mais uma vez assumiu a culpa pela polêmica -foi ele, como presidente interino, quem assinou a autorização para que Benedita viajasse a Buenos Aires para participar do encontro evangélico. Disse que o episódio deverá servir de lição para outros ministros.
"Esse episódio serve para que, daqui por diante, haja um cuidado maior por parte daqueles que assinam as autorizações e por parte dos próprios ministros que viajam para o exterior", afirmou.
Novas viagens de ministros para o exterior, segundo o vice, vão continuar, mas haverá um cuidado maior. Benedita atribuiu a polêmica a um "erro de ofício" que, segundo ela, foi exagerado pela imprensa. O erro, diz a ministra, foi a autorização publicada no "Diário Oficial" da União ter mencionado só o evento religioso.
Mantega, Ciro e Alencar dizem que o episódio não mancha a imagem do governo.
Além de dizer que falar na demissão da ministra é "um exagero de quem está querendo colocar cabelo em ovo", Ciro Gomes, sem citar nomes, atacou os setores que, para ele, buscam achar "escândalos" no governo Lula a partir desse caso.
"Tomamos o governo quando a corrupção, a ladroeira, a fisiologia, o clientelismo eram praticamente as marcas dominantes. E tudo que esses setores engajados na safadeza no Brasil, com sua influência modesta ou larga na imprensa de São Paulo, conseguem identificar como escândalo é o fato de uma ministra, na condição de ministra, ter sido convidada para ir a um evento ou conjunto de eventos na Argentina", disse.
Para Guido Mantega, o caso não atrapalha o desempenho de Benedita no ministério nem pode ser classificado de "constrangedor".
Na opinião de Alencar, a controvérsia não afetou a imagem do governo, mesmo depois de a ministra ter sido hostilizada durante um evento acompanhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva -anteontem, num show de Paulinho da Viola e da Velha Guarda da Portela, a platéia pediu aos gritos que Benedita devolvesse o dinheiro.
"O presidente mesmo já falou: esse assunto está encerrado. Essa história não irá afetar a imagem do governo", afirmou o vice-presidente. (LILIAN CHRISTOFOLETTI, LUCIANA CONSTANTINO E PAULO PEIXOTO)


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