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Posição de negros piora, diz sociólogo
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Miscigenado, sim, mas pródigo
na prática de uma discriminação
racial que tem aumentado a desigualdade entre negros e brancos
desde os anos 60. Esse é o Brasil
descrito pelo sociólogo americano Edward Telles, 46, em "Racismo à Brasileira".
Ex-pesquisador da Fundação
Ford no Brasil, Telles afirma que a
miscigenação é usada para mostrar que o Brasil não tem problemas raciais. Ele defende a adoção
de políticas afirmativas.
Editado pela Relume Dumará, o
livro do professor da Universidade da Califórnia será lançado hoje
no encontro anual da Anpocs.
Folha - O que caracteriza o "racismo à brasileira"?
Edward Telles - Muita gente pensa que não há racismo no Brasil,
só nos EUA e na África do Sul. No
Brasil, o racismo não é tão explícito. A classificação racial é muito
mais fluida, com categorias intermediárias. O casamento inter-racial aqui é muito maior que nos
EUA, e a segregação residencial é
bem menor. Mas temos no Brasil
uma desigualdade maior que nos
EUA. No Brasil, quase não há negros na classe média, enquanto,
nos EUA, a classe média negra é
significativa. No Brasil, a classe
média branca tem a idéia de que
cada um sabe o seu lugar.
Folha - Seu livro mostra um país
em que a miscigenação convive
com a discriminação racial. Como
isso se deu?
Telles - A causa vem de uma
ideologia racista que chegou ao
auge no século 19. Havia um racismo científico, afirmando que os
brancos eram superiores. EUA e
África do Sul seguiram a via da segregação. O Brasil, a da miscigenação. A idéia, na virada do século 19 para o 20, era que o Brasil iria
embranquecer. Como vamos embranquecer? Trazer migração européia e mesclar. A miscigenação
também existe, em grande parte,
entre pessoas de classe baixa. No
centro do poder, quase não existe.
Folha - Por que o sr. diz que a desigualdade racial aumentou?
Telles - Esses são dados para o
Brasil e os EUA de 1960 a 1996,
mostrando as probabilidades de
chegar à classe média. Em 1960, a
probabilidade de estar na classe
média era três vezes maior entre
brancos, nos dois países. Nos
anos 60, começou a ação afirmativa nos EUA. A desigualdade baixou para 1,6. No Brasil, ela foi a 4
para homens e 4,8 para mulheres.
Folha - Como reduzir a desigualdade racial?
Telles - A idéia de ação afirmativa na universidade é o mais importante. Para negros entrarem
na classe média, é fundamental
que cheguem à universidade.
Folha - No Brasil, como definir
quem é branco e negro?
Telles - Não tenho a resposta.
Nos EUA, você teve a segregação e
definiu quem era negro [qualquer
pessoa com ascendência negra] e
quem era branco. No Brasil você
não tem isso. É um grande problema. Mas tem de ter ação afirmativa, senão a desigualdade será cada
vez maior.
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