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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Líder do MST diz que não aceita "mentiras" de Lula sobre verbas

Só invasão resolve problema no campo, defende Stedile

Alan Marques/Folha Imagem
João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, discursa para cerca de 4.000 sem-terra que estão acampados em Brasília


EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O economista João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), afirmou ontem que o andamento da reforma agrária no Brasil depende das invasões e dos acampamentos dos sem-terra.
"Quem decide o volume e a velocidade das famílias assentadas é a força do povo de se organizar e continuar ocupando os latifúndios e colocando o povo nos acampamentos", disse Stedile, em Brasília, num evento sobre um novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária).
Segundo o movimento, o apoio do governo e a meta de assentados do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) são insuficientes. O MST e outros movimentos têm uma audiência hoje com o presidente Lula.
Na conferência, que reuniu cerca de 4.000 sem-terra, Stedile afirmou que o MST não cairá na "emboscada" de centralizar a discussão nas metas de assentamentos nem aceitará as "mentiras" do governo para justificar a falta de verbas para a reforma agrária.
"Queremos discutir recursos, e não metas. Não podemos reduzir nosso debate a metas porque seria uma emboscada. Se o governo diz um número só para nos agradar, sabemos que está mentindo."
Lula deve anunciar hoje as metas do novo PNRA, predefinido, segundo Rossetto, com uma meta de assentamento de 355 mil famílias até 2006. Essa meta foi considerada "ridícula", "mesquinha" e "insuficiente" pelos sem-terra, mas, justamente por causa das críticas, poderá ser ampliada.
Os movimentos exigem a aplicação do anteprojeto do plano, coordenado pelo economista Plínio de Arruda Sampaio, que prevê assentar 1 milhão de famílias.
Até 2006, o governo promete o assentamento de 355 mil famílias. O anteprojeto prevê 200 mil ano entre 2004 e 2006, além de outras 400 mil em 2007.
Esse será o segundo PNRA. O primeiro, lançado em 1985, no governo Sarney, não saiu do papel.
Stedile também afirmou que os sem-terra devem lutar principalmente pela "mudança do atual modelo econômico", e não apenas por um lote de terra.
O evento reuniu, entre outros, o presidente do PT, José Genoino, e o ministro Miguel Rossetto.
"O governo não pode mais mentir e dizer que não tem dinheiro para a reforma agrária. Nem pode dizer que a culpa é do FMI, pois Lula assumiu o compromisso de que não teriam mais ingerência em nossa política."
De acordo com o coordenador nacional do MST, o governo "deixa o ministro Rossetto com meia dúzia de trocados e segurando o abacaxi" e, ao mesmo tempo, "continua pagando bilhões de reais em juros para os bancos".
"Dizem que há três formas de mentir: não dizer a verdade, mentir e usar estatísticas. Não podemos puxar o saco do Lula nem transformá-lo em nosso deus nem cair no simplismo [de discutir apenas as metas]."
Ao dizer que há pessoas que querem manter o neoliberalismo no governo Lula, Stedile aproveitou para cutucar os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Roberto Rodrigues (Agricultura).
"São eles os que querem como modelo a agricultura que se pratica em Ribeirão Preto [SP], onde o Palocci foi prefeito e o ministro da Agricultura tem fazenda. Ribeirão é tido como símbolo do agronegócio, mas é também o símbolo da pobreza e da desigualdade."

Marcha
A marcha com cerca de 2.000 sem-terra que saiu de Goiânia no dia 10 e chegou a Brasília anteontem seguirá hoje para a Esplanada dos Ministérios. Será reforçada por outros 2.000 trabalhadores rurais ligados à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) que estão acampados na capital federal. A concentração será às 9h, em frente ao Palácio do Planalto.
À tarde, seguem para a Embaixada dos EUA, onde farão uma manifestação contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

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